publicado dia 14 de agosto de 2025
Seminário discute benefícios e desafios da Educação Alimentar e Nutricional no Brasil
Reportagem: Nataly Simões | Edição: Tory Helena
publicado dia 14 de agosto de 2025
Reportagem: Nataly Simões | Edição: Tory Helena
Resumo: O que a sociedade ganha com práticas alimentares saudáveis e quais os desafios do Brasil relacionados à Educação Alimentar e Nutricional (EAN) foram tema do do seminário “A Hora e a Vez da EAN”, promovido pelo Instituto Comida e Cultura (ICC) e pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP).
“A Educação Alimentar não é mais uma prerrogativa exclusiva dos nutricionistas. Cabe a todos nós desenvolvê-la no nosso entorno, principalmente para as nossas crianças”. A fala foi feita por Erika Fischer, consultora de relações institucionais do Instituto Comida e Cultura (ICC), no começo do seminário “A Hora e a Vez da EAN”, iniciativa organizada pelo ICC e pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP).
A declaração que convoca toda a sociedade para a responsabilidade acerca da Educação Alimentar e Nutricional (EAN) deu o tom do evento realizado na última segunda-feira (11/08) na USP, com transmissão on-line pelo YouTube.
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O seminário promoveu um espaço de articulação entre produção acadêmica, política pública e prática social, com o objetivo de dar visibilidade às experiências, reflexões e evidências que posicionam a EAN no centro dos debates sobre saúde, educação, cultura alimentar e justiça social.
O encontro ganhou ainda mais relevância em um cenário nacional e global marcado por desigualdades e o agravamento da crise climática, ao mesmo tempo em que o Brasil celebra a queda na desnutrição e a saída do Mapa da Fome pela segunda vez.
“Se abordarmos a alimentação de forma transversal, a conectando com eixos cruciais como saúde, sociobiodiversidade, desafios climáticos e educação antirracista, a educação alimentar se torna um pilar importante para a construção de sociedades mais justas, sustentáveis e humanas”, complementou Erika Fischer.
Já a importância da atualização do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) foi um dos destaques do evento. Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, recordou um dos marcos do projeto, que foi a ampliação de seu escopo a partir da Lei Nº 11.947, de 2009.
“O PNAE tem uma longa história, mas em 2009 houve uma lei que estabeleceu a redução do teor de açúcar e gordura e que estabeleceu que pelo menos 30% da alimentação escolar deveria vir da agricultura familiar e orgânica local. Isso é mais do que educação alimentar, é uma mudança de cultura”, apontou.
Alimentação na infância
Danielle Brochado, coordenadora pedagógica e de relações étnico-raciais no ICC, e Ariela Doctors, coordenadora-geral do ICC e integrante do Conselho do Educação e Território, apresentaram a jornada pedagógica do projeto Cozinhas e Infâncias Cidades, desenvolvido pelo Instituto Comida e Cultura desde 2022.
A iniciativa de formação para educadores apresenta a história evolutiva da alimentação humana e a formação da culinária no Brasil, além de abordar questões sociais, econômicas, ambientais e culturais relacionadas aos territórios e às escolhas e culturas alimentares, sob uma perspetiva decolonial.
Até 2024, o projeto realizou formações em 546 unidades escolares de Educação Infantil da cidade de São Paulo, alcançando 569 professores e gestores, 588 cozinheiras e 71 nutricionistas, impactando potencialmente 100 mil estudantes, número que correspondia até o ano passado a 50% do total de alunos da rede infantil.
“Nossa metodologia foi construída a muitas mãos, onde olhamos para as culturas, a biodiversidade, as relações étnico-raciais e o ensino da cultura afro-brasileira e indígena reconhecendo o alimento como o fio condutor dessa jornada e promovendo a expansão e a descolonização do currículo. Isso faz a história que atravessa a nossa construção enquanto sociedade ser recontada”, comentou Danielle Brochado.
Desafios para a Educação Alimentar e Nutricional no cotidiano
Mas a população brasileira ainda enfrenta uma série de desafios para que a alimentação saudável seja uma prática cotidiana. Esses desafios passam por desigualdades estruturais e que atravessam a renda e o mercado de trabalho, levando em conta que parte da população passa muitas horas dentro do transporte público a caminho do trabalho e não tem condições de arcar com o custo de alimentos minimamente processados.
A esses desafios se soma o de inserir a Educação Alimentar e Nutricional no cotidiano dos profissionais de saúde e de Educação.
“É extremamente desafiadora a nossa capacidade de inserir a EAN como uma ação natural dentro da atenção à saúde e no processo educativo formal. É muito difícil deixar que o tema não seja tratado como pontual e os profissionais continuam a depositar essa responsabilidade somente no nutricionista”, sintetizou Elisabetta Recine, professora da Universidade de Brasília (UnB) e integrante do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição.
Em maio deste ano, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vinculado ao Ministério da Educação (MEC) publicou uma nota técnica em que aponta iniciativas que podem ser adotadas pelas escolas para abordar a AEN de diferentes maneiras no cotidiano escolar.
“O interessante dessa nota é que ela traz uma série de atividades lúdicas que podem ser realizadas nas escolas. Os professores, nutricionistas e coordenadores pedagógicos nos questionavam muito sobre isso”, pontuou Karine Santos, coordenadora-geral do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Entre os materiais propostos estão vídeos e cadernos de atividades sobre a promoção da alimentação adequada e saudável para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental.
Documento consolida orientações sobre implementação da EAN nas escolas
O encontro também marcou o lançamento do documento “A Hora e a Vez da Educação Alimentar”, publicação do ICC que defende a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) como uma política pública estruturante em meio a um contexto de “epidemias de obesidade, desnutrição, doenças crônicas e não transmissíveis e mudanças climáticas“.
O documento apresenta os resultados de um projeto-piloto que formou aproximadamente 1.200 profissionais de Educação em São Paulo (SP) ao longo de dois anos, impactando cerca de 100 mil crianças da rede municipal. A experiência evidenciou um aumento médio de 10% no nível de conhecimento sobre o Guia Alimentar para a População Brasileira.
A publicação também elenca 7 recomendações práticas para os gestores públicos para a implementação efetiva da EAN nas escolas, incluindo formação continuada de educadores, desenvolvimento de materiais de apoio, estímulo a parcerias interinstitucionais e articulação do PNAE com outras iniciativas de segurança alimentar e nutricional. Confira: