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publicado dia 4 de julho de 2024

António Nóvoa: “A força da escola está em ser diferente da cidade”

Reportagem:

Resumo: Educador português, António Nóvoa, referência global em Educação, participou no início de julho do ciclo de conferências “Educação na Cidade”, organizado pela Rede UniTwin da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Na palestra, Nóvoa abordou os desafios educacionais da atualidade e o papel das Cidades Educadoras neste contexto.

Uma das maiores vozes em defesa do ensino público e da valorização dos profissionais da Educação, António Nóvoa participou, na quarta-feira (03/07), do encerramento do ciclo de conferências “Educação na Cidade”, organizado pela Rede Unitwin, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).  

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A rede internacional visa promover o treinamento em pesquisa e o desenvolvimento de programas a partir da construção de redes universitárias e de incentivo à cooperação entre acadêmicos.

Durante sua fala, António Nóvoa refletiu sobre os desafios que a Educação enfrenta em meio a um cenário marcado por avanços tecnológicos e a polarização de ideias.

“As realidades mudam e temos que ter uma percepção e compreensão de qual é o principal problema na área da Educação. Para mim, é a fragmentação das sociedades e da escola. É a ideia do individualismo, do consumismo, do uso de tecnologias para a aprendizagem individualizada e personalizada, a ideia de que há uma fragmentação da dimensão da escola enquanto espaço comum e público”, apontou.

Segundo o professor, é a partir dessa fragmentação que surgiram discursos como o do fim da escola, difundido principalmente nas redes sociais, bem como a ideia de que a inteligência artificial irá substituir o ofício dos professores e de que o ciclo familiar pode ser o único responsável pela Educação das crianças.

Com vasta experiência no campo pedagógico, António Nóvoa é doutor em Educação pela  Universidade de Genebra, doutor em História pela Universidade de Paris e reitor honorário da Universidade de Lisboa. Sua trajetória educacional também lhe rendeu reconhecimento no Brasil, onde Nóvoa chegou a ser consultor do Ministério da Educação (MEC), em 2014. É também autor de diversas obras literárias, sendo uma das mais recentes o livro “Escolas e Professores, Proteger, Transformar e Valorizar” (2022).

Para combater a fragmentação mencionada por ele na Educação e na sociedade, Nóvoa sugere a valorização da educação integrada aos princípios de direitos humanos.

“A Educação precisa ser capaz de nos colocar em paz com a terra, com a sustentabilidade e com os outros. Aqui entra também o diálogo sobre diversidade e mobilidade. Precisamos encontrar um denominador comum para os direitos humanos para combater a fragmentação do mundo, da escola e da Educação”, ponderou.

A escola e a Cidade Educadora

António Nóvoa também refletiu de forma crítica sobre como o movimento de Cidades Educadoras tem se difundido. O conceito surgiu na década de 1990 e remete ao entendimento da cidade como território educativo.

Atualmente, 484 municípios em 30 países integram a Associação Internacional de Cidades Educadoras (AICE) e associam-se aos princípios da Carta das Cidades Educadoras. Redigida em 1990 em Barcelona (Espanha), o documento marca a ideia de que as cidades carregam um potencial educativo que precisa ser ativado e cultivado pela comunidade e pelo poder público em prol da qualidade de vida da população.

Para o professor, as Cidades Educadoras precisam ir além da criação de um rol de atividades artísticas fora das escolas nos espaços geográficos, pois apesar de importantes, não carregam uma “concepção educativa mais avançada e em um certo sentido mais progressista”.

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“É preciso cuidar desse movimento para não acrescentar mais atividades porque a escola em si já tem muitas atividades. É preciso centralizar o conceito de Cidade Educadora na ideia de tudo o que a cidade tem de dimensão pública e comum. A escola cria um espaço de encontro, do comum, onde construímos esse encontro entre dimensões públicas distintas entre crianças, jovens, adultos e professores que em conjunto constroem uma realidade educativa”, explicou.

Outro desafio citado por Nóvoa é que o debate público atualmente gira em torno de a escola ser vista como um produto, por isso as instituições de ensino “seriam descartáveis” uma vez que há a ideia de que é possível aprender sem, por exemplo, a interação com os atores que compõem esse espaço.

“A tendência para falar cada vez mais em aprendizagem empurra o debate educativo para lógicas de individualização, de consumo de serviços e tecnologias e retira a educação dessa dimensão pública. Há muitos espaços de Educação, mas nada substitui a escola. A força da escola na cidade está em ser diferente da cidade, está no fato de ser um espaço diferente, com um tempo e lógica e ritmo diferentes”, concluiu.

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