publicado dia 20 de setembro de 2013
Yaacov: idealizador das escolas democráticas de Israel
Reportagem: Jessica Moreira
publicado dia 20 de setembro de 2013
Reportagem: Jessica Moreira
Não são raros os educadores que se descobriram no incômodo com a educação que receberam. O israelense Yaacov Hecht é um deles. Sua ruptura com os processos tradicionais de aprendizagem ocorreu quando ainda era um estudante. A classificação de crianças e adolescentes como melhores, piores ou medíocres o levou a abandonar definitivamente a escola. Anos mais tarde, ao tornar-se professor, pode encarar novamente o modelo educacional. Não teve dúvidas: decidiu que jamais replicaria a fórmula que negou como estudante.
Foi assim que, em 1987, Yaacov teve a ideia de criar uma escola diferente na cidade de Hadera, em Israel. Com um total de 450 estudantes, a instituição atendia crianças e adolescentes de quatro a 18 anos, e todos tinham direito a tomar decisões. Os educandos podiam também escolher quais conteúdos iriam aprender e, como ocorre fora de qualquer escola, o faziam em grupos de idades mistas.
“Focalizávamos o conteúdo democrático pelo ponto de vista dos direitos humanos. Além disso, tínhamos como foco juntar pessoas de diversas idades no processo de aprendizagem, afinal, por que só a escola divide as pessoas por idade?”
Com o resultado positivo da primeira escola, Yaacov passou a ampliar a ideia, iniciando a construção de 25 escolas. Nesse período, o então Ministro da Educação propôs a ele a implementação desse modelo em diversas cidades do país. Para garantir a formação de profissionais que compreendessem a proposta, foi criada uma universidade especializada em educação democrática. Hoje, 26 escolas, em 12 cidades de Israel aplicam a ideia de uma sociedade democrática dentro do espaço escolar e contribuem – ao lado da comunidade – para a construção dos sonhos dos estudantes.
O intuito, no entanto, é que cada unidade construa um modelo a partir de sua realidade. “Elas não precisam ser iguais à primeira escola de educação democrática construída. Se duas são iguais, isso quer dizer que uma delas parou de pensar e o processo democrático foi paralisado, já que é muito difícil que as duas tenham as mesmas ideias e decisões”, aponta.
Em 1999, mais uma ousadia: as escolas passaram a utilizar todos os recursos existentes na cidade, associando-se às potencialidades de cada criança. Teve início então um processo de cooperação entre escola e sociedade. O melhor exemplo foi o que ocorreu na cidade de Tibérias, próxima ao mar da Galileia, onde foram mapeados os sonhos e os caminhos para alcançá-los de cada um dos dez mil estudantes. Para vivenciar esses anseios, as crianças puderam escolher um mentor, uma pessoa que tivesse alcançado um sonho semelhante, e que os acompanharia nessa jornada.
Em outra cidade, Hadera, foram construídos centros de aprendizado que atuavam junto ao poder público, seguindo as metas estipuladas pelo prefeito da cidade. Essas metas foram levadas até os estudantes, mostrando quais espaços seriam construídos pela prefeitura e quais já existiam e poderiam ser utilizados.
Em Hadera há hoje uma usina elétrica onde funciona um centro de aprendizagem. Todos que desejam aprender eletricidade “verde” podem recorrer a ela. “Nós descobrimos que as crianças ficaram tão interessadas que queriam ir até quatro vezes por semana. Os pais ficaram super entusiasmados, pois elas passaram a trazer soluções para casa que antes não existiam”, explica Yaacov.
Brasil
Yacov acredita que há um movimento muito forte no Brasil em prol da educação democrática. “Ao começar a falar da educação democrática, vocês podem chegar a um lugar maravilhoso. Cada escola ou cada sistema educacional que faz a pergunta ‘o que é educação democrática’ e ‘como faz para implementá-la’, já está fazendo educação democrática.”
Ele esteve nesta quinta-feira (19/9) no 2º Colóquio Internacional de Invenções Democráticas da Universidade de São Paulo (USP). Organizado pelo Núcleo de Psicopatologia, Políticas Públicas de Saúde Mental e Ações Comunicativas em Saúde Pública (NUPSI), o evento – que vai até domingo na sede da Faculdade de Saúde Pública, em São Paulo – propõe discussões acerca da democracia, educação, justiça restaurativa e economia solidária.
“Há 200 anos, a maioria dos países não eram democráticos. Hoje, a maioria destes são. Mas o sistema educacional dos dois períodos são muito semelhantes. Se a gente muda a cultura, a gente consegue mudar o sistema educacional”, concluiu o educador.