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publicado dia 23 de maio de 2017

Virada Cultural 2017 leva público para espaços fechados e muda relação com a cidade

Reportagem:

A Virada Cultural 2017, ocorrida no último fim de semana, teve público inferior ao registrado nos anos anteriores e recebeu críticas pela distribuição das atrações. Pela primeira vez, os shows não se concentraram apenas no centro da cidade e os grandes nomes se apresentaram em lugares como Anhembi e Chácara do Jockey, que participaram pela primeira vez do evento.

Ativistas pelo direito à cidade acreditam que a nova proposta descaracterizou a Virada Cultural e avaliam que a realocação dos shows para espaços fechados e distantes do centro, aliada à falta de divulgação da Prefeitura, fizeram com que o evento fosse esvaziado. Já o prefeito João Dória culpou a chuva pelo menor público, estimado pela Prefeitura em 1,6 milhão.

Lívia Lima, co-fundadora do Coletivo Nós, Mulheres da Periferia, considera que a programação não favoreceu os moradores da cidade como um todo e por isso teria apresentado queda de público. “Os moradores da periferia foram prejudicados na medida em que houve alguns palcos em locais isolados, como o Parque do Carmo, que não é acessível para os próprios moradores da Zona Leste”, diz. Na opinião da jornalista, o esvaziamento, proposital ou não, aconteceu por problemas de organização, divulgação e “sobretudo pela ausência de diálogo ao entender que a Virada, da forma que acontecia até o ano passado, já tinha uma identidade e um apelo e expectativa da população”.

Quando João Dória anunciou, em dezembro, que a Virada de 2017 aconteceria em Interlagos, os movimentos sociais se mobilizaram contra a ideia, chegando até a propor uma “Virada Clandestina” no centro, desvinculada da programação oficial. A ONG MinhaSampa organizou o abaixo-assinado Revirada Cultural, que reuniu 4427 assinaturas e foi entregue a André Sturm, hoje Secretário Municipal de Cultura. “A ideia da Prefeitura era acabar com os grandes palcos, que no entendimento deles eram os responsáveis por levar muitas pessoas para as ruas e, consequentemente, traziam problemas de segurança pública”, diz Gut Simon, coordenador de comunicação da MinhaSampa. “A Virada de fato tinha esse problema de segurança, mas se as novas ações vinham para acabar com as aglomerações, como então iam levar público para o evento?”, questiona. Este ano, nomes como Daniela Mercury, Alcione, e Titãs se apresentaram no Sambódromo do Anhembi, no Parque do Carmo e na Chácara do Jockey, enquanto artistas menores ficaram no centro de São Paulo.

“Quando nós vimos a programação oficial, achamos que a diversidade cultural foi contemplada e que havia um grande equilíbrio dos espaços do centro e outras regiões, mas o que vimos no fim de semana foi um certo descaso. Não vimos esforço da Prefeitura de levar público, não teve divulgação, a descentralização dificultou muito a ida das pessoas. A chuva também contribuiu para não ter ninguém na rua mesmo. Foi estranho, para dizer o mínimo”, avalia Gut.

Virada Cultural 2017 teve pouco público. A prefeitura estimou 1,6 milhão de pessoas
Virada Cultural 2017 teve pouco público. A prefeitura estimou 1,6 milhão de pessoas

Embora o prefeito João Dória tenha dito a jornalistas que “a culpa foi de São Pedro”, o comunicado oficial da Prefeitura assinala que “o tempo chuvoso no início da manhã e tarde de domingo não afastou o público do evento”. A nota destacou a nova configuração descentralizada da Virada afirmando que “o acesso democrático, gratuito e público às diversas atividades por toda a população da cidade foi o mote que inspirou a curadoria e a organização do evento”. O comunicado também diz que a Secretaria Municipal de Cultura ainda vai fazer uma avaliação de acertos e equívocos desta edição, principalmente em relação aos “espaços inéditos”.

A principal crítica em relação aos novos lugares escolhidos como palcos da Virada Cultural diz respeito não só ao acesso, já que não são regiões irrigadas de ônibus e metrô como o centro, mas também a serem espaços fechados e mais controlados do que os tradicionalmente ocupados pela Virada Cultural. “Na nossa opinião a Virada tinha que ser na rua, é a ideia de ser pública, para as pessoas e totalmente gratuita”, diz Gut Simon, da MinhaSampa. A jornalista Lívia Lima aponta que “a programação principal no Centro convergia pessoas de diferentes regiões, além de estimular o Direito à Cidade e a apropriação dos espaços públicos”. Ela explica que os moradores da periferia têm poucas oportunidades de fruição cultural no centro da cidade, geralmente utilizado como local de trabalho ou estudo mas não de lazer. “A descentralização deve acontecer, mas não como forma de segregação, de manter os moradores em suas próprias regiões e escutando os tipos de música que se atribuem que eles gostem mais, e sim como uma proposta que mobiliza toda a cidade, periferia inclusa. Se fosse por uma questão de descentralização deveriam ter palcos no Morumbi e Vila Madalena”, critica a co-fundadora do Nós, mulheres da periferia.

Desorganização

A classe artística também teve seus desentendimentos com a organização da Virada deste ano. Antes das apresentações, a Prefeitura entregou aos artistas uma recomendação do Ministério Público para que eles não fizessem manifestação política, o que muitos classificaram como censura. Além disso, vários artistas, como o rapper Mano Brown e as bandas Dead Fish e Talco Bells, reclamaram de falta de estrutura na Virada, ao que a Prefeitura respondeu dizendo que “com relação aos problemas técnicos, todos foram identificados rapidamente e solucionados, ainda que as atividades tenham iniciado com atraso”. A Prefeitura completou dizendo que “os casos pontuais de artistas que não puderem se apresentar serão estudados pelas equipes da SMC”.

Segundo a gestão municipal, foram coletadas 153,5 toneladas de resíduos nos locais da Virada Cultural e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) recebeu 13 solicitações de atendimento. Além disso, foram realizadas 10.183 apreensões de itens como bebidas, vinho químico, caixas de isopor e carrinhos.

 

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