publicado dia 14 de dezembro de 2020
Totalmente digital, Mostratec 2020 segue celebrando produção científica da juventude brasileira
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 14 de dezembro de 2020
Reportagem: Cecília Garcia
Depois de um 2019 marcado por cortes de verbas de pesquisa e descrédito na produção científica brasileira, a pandemia de Covid-19 que há nove meses assola o país torna nítida a necessidade de um investimento contínuo na pesquisa científica. Muitas das soluções para mitigar os efeitos sanitários e sociais da pandemia saíram das universidades públicas do país.
Por isso, é fundamental que a juventude brasileira consiga se aproximar da ciência e vislumbrá-la como possibilidade de futuro. Há 35 anos a Mostratec, maior feira de ciência jovem da América Latina, expõe trabalhos de jovens que usam a ciência para solucionar problemas do seu entorno.
Em 2020, por conta do isolamento social, a mostra realizou-se de forma digital. De 9 a 11 de dezembro, foi possível acessar as pesquisas científicas aglomeradas de acordo com suas áreas de saberes, além de votar e comentar os projetos. Eles ainda estão acessíveis para consulta.
São 229 trabalhos de estudantes de 18 estados brasileiros e mais projetos de 12 países. Os jovens pesquisadores abordaram temas que mais impactam as suas comunidades e realidades escolares, buscando encontrar soluções inovadoras por meio da pesquisa.
O Portal Aprendiz selecionou alguns dos projetos de pesquisa científica que olham para educação, território e saberes populares. Confira:
Uso de folhas de pitangueira como antiviral para o Chikungunya (Novo Hamburgo – Rio Grande do Sul)
As folhas da pitangueira (Eugenia uniflora) são comumente utilizadas na medicina popular para tratar gota, pressão alta e outros problemas de saúde. Durante a epidemia de chikungunya que atingiu a Ilha da Reunião em 2005, sua população a utilizou como antiviral. Os estudantes Euler Eduardo Lisboa de Moura e Joana de Conceição Pinto pesquisaram a capacidade da folha de inibir a reprodução do vírus e se seria possível produzir um antiviral a partir da planta.
Utilização de nanotecnologia para lidar com derramamento de petróleo (Timóteo – Minas Gerais)
A partir de testes com reagentes caseiros e produção de nanotecnologia em laboratório, a estudante Ana Caroline Nasaro de Oliveira utilizou as propriedades dos imãs para atrair uma substância simulando o petróleo. A ideia é desenvolver uma ferramenta nanotecnológica, eficiente e de baixo custo para ser utilizada em situações de derramamento de óleo.
Estudantes investigam participação social em área de proteção ambiental (Campo Grande – MS)
Eduardo Gonçalves da Silva e Guilherme Jesus Brum da Silva estudam na única escola da Área de Proteção Ambiental dos Mananciais do Córrego Lajeado, em Campo Grande (MS). A crescente urbanização e a degradação do espaço de proteção levaram os jovens a investigar como se dão os processos de gestão da APA e propôr soluções de maior participação de diferentes comunidades do entorno para pensar em como protegê-la.
Software que ajuda a diagnosticar de maneira mais rápida o COVID-19 (Florianópolis – SC)
A pandemia de Covid-19 também foi objeto de estudo e pesquisa de estudantes da Mostratec. Os jovens Caio Petroncini e Bernardo Kretzer da Silva desenvolveram um software de detecção de padrões pulmonares, comparando tomografias de pacientes saudáveis e pacientes com a doença. O sistema operacional tem uma margem de acerto grande, e pode ser uma maneira mais barata de testar em massa a população.
Ferramenta para tornar o ensino de física mais lúdico e atraente (Macapá – Amapá)
Quando perguntou aos colegas de escola o que eles achavam das aulas de física, Rebeca Costa Duarte escutou adjetivos como ‘incompreensível’, ‘abstrato’ e ‘difícil’. Para tentar tornar o ensino de física mais palatável, materializando o conceito e aliando-o à ludicidade, a estudante criou um experimento de bobina de Tesla com objetos alternativos de baixo custo.
Casca de jabuticaba se transforma em fitoterápico (Rio de Janeiro – Rio de Janeiro)
Foi pensando em como desenvolver um fitoterápico que pudesse ser aplicado diretamente na pele em casos de feridas que os estudantes Ana Carolina da Silva Almeida Pereira, Ana Maria da Silva Lourenço e Lucas Gabriel Dutra Gonçalves começaram a investigar as propriedades da casca de jabuticaba, fruta largamente produzida no Brasil e cujo descarte nem sempre é sustentável. Os jovens desenvolveram uma pomada anti-oxidante natural de baixo custo.
Jovens desenvolvem práticas pedagógicas para a implementação da Lei 10. 639/2003 (São Paulo-SP).
As estudantes Thamra da Silva dos Reis e Rayane Aguiar dos Santos criaram uma série de materiais audiovisuais para ajudar estudantes e educadores na implementação da lei que prevê o ensino de cultura e história afro-brasileira nos currículos escolares. O projeto trabalha a História e Cultura de diversos países do continente africano.
Estudante indígena deseja criar livro para preservar língua Terena (Aquidauana – Mato Grosso)
Segundo dados da UNESCO, há cerca de 7.000 mil línguas faladas no mundo. Há uma previsão que apenas 10% desses idiomas consigam sobreviver nas próximas décadas, e as línguas indígenas, pela vulnerabilidade de suas diversas populações, estão entre as que provavelmente irão desaparecer. Os estudantes Jaaziel Francelino e Otavio Faria Ramires estão criando um e-book bilíngue para preservar a língua Terena, falada por aldeias na região de Taunay, Mato Grosso do Sul.
Estudante cria plástico a partir de casca de mamão (Piripiri – Piauí)
Ana Beatriz Rodrigues do Carmo criou um bioplástico a partir de substratos da casca de mamão. Os resultados preliminares mostram um material que atende aos requisitos do plástico industrial, como ser duro porém maleável, inodoro e também resistente. Agora a jovem está na fase de testar sua durabilidade. O desejo é que esse material possa ser produzido em larga escala e ajudar na substituição do material feito de petróleo.