publicado dia 16 de junho de 2020
Territórios de São Paulo se mobilizam para o festival Ocupa a Cidade
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 16 de junho de 2020
Reportagem: Cecília Garcia
Durante os dias 18, 19 e 20 de junho, escolas, coletivos e comunidades de diversas regiões de São Paulo ocuparão digitalmente a cidade com o festival Ocupa a Cidade. Lives, rodas de conversa e apresentações culturais fazem parte de uma programação simultânea construída a partir dos desejos e demandas dos diversos territórios que compõem a capital.
“A intenção é dar visibilidade e voz aos educadores, coletivos, famílias e crianças neste momento da pandemia”, explica João Kleber, diretor da EMEI Gabriel Prestes, uma das escolas articuladoras do evento. “É uma ação horizontal, organizada por um coletivo que acredita em uma visão de educação que leva em consideração o território e a gestão democrática.”
A programação multitemática reflete as contribuições de cada território na construção da Ocupa a Cidade: enquanto algumas lives debaterão temáticas caras à educação neste momento de pandemia, outros territórios farão slams digitais ou formações sobre práticas antirracistas.
“O mais bonito do Ocupa a Cidade é que ele está sendo feito em rede, com a riqueza de conteúdos que cada pessoa, escola e coletivo dos território agrega”, relata Paula Mangolin, diretora da EMEF M’Boi Mirim, uma das escolas participantes.
A escola como centro aglutinador de experiências e possibilidades
Desde janeiro, educadores, gestores e outros atores de diferentes DREs (Diretorias Regionais de Educação) de São Paulo se reúnem presencial e remotamente para discutir e realizar ações de territorialização dos currículos escolares, olhando para os potenciais educativos de seus territórios.
“De uma reunião presencial de janeiro, surgiu a ideia de que diferentes regiões da cidade fizessem uma atividade simultânea que aconteceria no mês de junho. Com a vinda da pandemia, essa atividade que ocuparia as ruas se transformou em uma ação virtual”, elucida João.
O disparador da mobilização das DRES, iniciada no fim do ano passado e com o desejo de se estender por todo ano letivo de 2020, foi o anúncio de venda de três escolas municipais em São Paulo. Uma rápida mobilização entre escolas, estudantes e comunidade revogou o projeto de lei, mas acendeu um alerta para possíveis repetições e a reflexão de como são tensionadas as relações entre escola e cidade em um contexto ordenado pelo capital.
A propagação do Covid-19 (novo coronavírus), que alterou profundamente a rotina das escolas – fechadas desde o dia 16 de março – e a vida das comunidades, transformou o formato do festival, mas não o papel central das escolas como articuladoras de sua programação a partir das demandas locais.
“Por ser o equipamento de contato mais permanente com a população, a escola acaba sendo uma central das redes do território, aglutinando necessidades locais e possibilidades de resposta”, compartilha Paula.
Muitos debates e encontros previstos na programação visam ajudar educadores e comunidade durante o tempo da pandemia. Na EMEF M’Boi Mirim, por exemplo, as conversas serão voltadas à questão de segurança alimentar e merenda escolar, e à democratização de acesso à internet, temas que têm norteado as ações da escola durante a pandemia.
A cidade da cultura e da crianças
Para as diversas crianças que estão fazendo isolamento social, o festival Ocupa a Cidade propôs uma programação permeada por atividades lúdicas. Sob o tema ‘O que eu vejo da minha janela’, educadores e comunidades convidam crianças a desenhar, tirar fotos ou fazer vídeos sobre a vista de suas casas. Este material será publicado na página de Facebook do festival.
Esta sugestão parte da colaboração de um grupo de artistas teatrais, circenses e de outras áreas da cultura que construíram o Ocupa a Cidade. “Os artistas propuseram ações e lives com brincadeiras, contação de história e apresentações teatrais ”, adiciona João Klebler.
É o caso do grupo Esparrama, conhecido por apresentações teatrais que versam sobre espaços públicos e a participação das crianças na construção da cidade. Além de encenar uma de suas peças, o grupo também ajudou na articulação de outras lives.
“Fomos integrantes e co-criadores deste festival, que territorializa o currículo e pensa a cidade de uma forma educadora”, relata Iarlei Rangel, ator do grupo. “Quando acontece a pandemia e tudo se interrompe de forma abrupta e violenta, o desejo de fazer o festival muda, mas não arrefece. Aproveitemos esta parada para pensar como construir o mundo a partir do diálogo, da inclusão e da participação das crianças.”