publicado dia 7 de janeiro de 2016
Publicação traz visão das crianças sobre bairro do centro de São Paulo
Reportagem: Redação
publicado dia 7 de janeiro de 2016
Reportagem: Redação
Durante o ano de 2015, o bairro do Glicério recebeu uma escuta atenta do projeto Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério, do CriaCidade. Toda semana, educadores, urbanistas e psicólogos entravam e saiam de cortiços das ruas Glicério e Sinimbu para ouvir das crianças o que elas achavam do lugar onde viviam, da porta de casa para dentro e da porta de casa para fora. Como pode ser essa praça? E esse viaduto? E sua casa? Para compartilhar esse rico processo, foram lançados no final de 2015 um vídeo e uma publicação sobre a experiência.
Com quantas crianças se faz uma Cidade Educadora?
“Estas novas práticas de ocupação dos espaços urbanos pelos praticantes do Criança Fala estão operando a inversão de um registro simbólico há tempos consolidado: este, de que a cidade é malvada e perversa, para outro, onde a cidade pode ser também amiga, acolhedora, educadora. Ações que operam sobre o espaço cotidiano como uma fabulosa máquina de desestabilização e negam qualquer coisa que possa parecer com uma estruturação sólida dos lugares e das conexões entre eles. São ações criadoras de possibilidades”. (Por Beatriz Goulart, em “O Glicério por suas Crianças”)
“O Glicério por suas crianças” traz, além do acúmulo de um ano de trabalho projeto, suas memórias e metodologias, um estudo técnico da região, com seus aparelhos públicos e aspectos urbanísticos, em conjunto com a visão “poética” das crianças, explica Rodrigo de Moura, arquiteto e urbanista que coordenou o mapeamento afetivo do projeto. “Essa publicação quer lembrar o que é muito esquecido no planejamento urbano: que o foco disso tudo são as adultos e crianças”, afirma. Ao todo, foram impressas 4 mil cópias com apoio da Fundação Bernard van Leer, Unicef, Instituto C&A, Aldeias Infantis e SOS Brasil. O projeto também é apoiado pela São Paulo Carinhosa.
Ao chegar no bairro, Moura conta que pediu às crianças que apresentassem sua compreensão de cidade. “Elaboramos uma metodologia lúdica para realizar o mapeamento afetivo. Na primeira parte, eles foram nosso guias. Depois, pedimos que eles desenhassem um mapa da região individual. Após isso, juntamos todos para um mapa coletivo”, relata o urbanista, que considera que esse processo gera relações de afeto e construção.
“Nisso, foram aparecendo detalhes, sensibilidades, percepções até então invisíveis. Como tudo se deu por brincadeira, fugia um pouco do regime impositivo escolar e assim construímos outros pertencimentos”, afirma.
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Segundo ele, isso é importante pois tira a criança de um regime de invisibilidade urbana. “A criança é vista só como um não-adulto, não como um sujeito com necessidades, que demanda espaço”, pondera Moura, que afirma que o projeto seguirá em 2016.
O guia
O leitor curioso e o educador interessado encontrarão na publicação muitos dos tesouros que este projeto descobriu. Entre relatos poéticos e reflexões, vão se abrindo possibilidades de leitura e novas maneiras de enxergar a cidade, a partir de quem a vê de mais baixinho. Os desenhos e textos vão colocando em diálogo a cidade interna de cada um com a percebida pelas crianças, e nesse conversar, o espaço público ganha ares lúdicos, de imaginação.
Dentro da cartilha, abundam fotos do processo, de suas brincadeiras, assim como desenhos das crianças e o mapa afetivo da região. Não faltam aproximações férteis entre urbanismo e educação, mostrando na prática que a cidade pode ser educadora.
Acesse a publicação “O Glicério por suas crianças” e veja abaixo o vídeo resultado do ano de trabalho de 2015.