publicado dia 13 de dezembro de 2019
Projeto Giganto: artista agiganta em fotografias rostos diversos de São Paulo
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 13 de dezembro de 2019
Reportagem: Cecília Garcia
Nas multidões das ruas e transportes públicos das cidades, os rostos se apequenam, tornando-se quase indistinguíveis. Mas quem caminhar rente aos pilares que sustentam o Elevado João Goulart, no centro de São Paulo, não terá como escapar dos olhos dos seus. 29 fotografias hiperdimensionadas de toda diversidade de moradores da capital paulista cobrem 15 pilastras do viaduto.
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É o projeto Giganto que, desde 2009, destaca os moradores que formam o tecido da cidade. Raquel Brust, fotógrafa e criadora da iniciativa, começou a imaginá-lo quando se mudou de Porto Alegre para São Paulo, e se viu ante uma metrópole ferina, construída a partir de muitas outras partes do Brasil:
“São Paulo é uma cidade agressiva e por ver como as pessoas andam nela blindadas é que resolvi fazer o Giganto, esses rostos gigantes que não tem como ignorar. Em algum momento você vai olhar essa pessoa nos olhos e talvez preste mais atenção em seu vizinho, no motorista do ônibus, criando uma relação mais humana com as pessoas que estão à sua volta.”
A edição de 2019 do Giganto amplia rostos que de alguma forma representam a diversidade:
“Diferentes tipos de corpos, diversas origens, identidades de gênero, orientações sexuais e crenças. O projeto é para acolher e expôr toda essa diversidade”, retoma Brust. Entre as pessoas fotografadas, estão a drag queen e socióloga Rita Von Hunty, a Mãe de Santo Isaura de Oliveira e o Frei Longarez.
A exposição ao ar livre integra o MAR – Museu de Arte de Rua, iniciativa entre Secretaria Municipal de Cultura e de Educação e subprefeituras que convida artistas a usarem como telas os múltiplo espaços oferecidos pela cidade.
Desde o princípio dos trabalhos, o elevado João Goulart tem sido o suporte para as obras de Raquel; é perene a da fotografia de Salsabia, cozinheira da Jordânia que estampa um prédio próximo ao viaduto popularmente conhecido como Minhocão. Usar essa cicatriz urbana e seu entorno é, para Raquel, uma tentativa de ressignificar um projeto que nasceu sem nenhuma consulta popular e modificou radicalmente o centro da cidade.
“O Minhocão é parte importante da cidade de São Paulo, pulsa e tem vida própria. É um local que precisa de atenção e afeto, transformação e ressignificação”. Atualmente, corre no poder público uma proposta ainda incerta de transformar o viaduto em um parque suspenso.
Há tanto tempo usando suportes públicos como espaços de produção e reflexão de arte, Brust não se sente intimidada com o fato de que suas obras passem por degradação natural ou intencional.
“A arte urbana é essencialmente efêmera, não tem como querer preservar. Tem toda uma moldura urbana que faz parte, interferência, poluições, pessoas que habitam o entorno do Minhocão. Comecei a desenvolver o Giganto porque achava o espectador passivo diante da imagem, queria alguém mais ativo”, conclui.