publicado dia 13 de dezembro de 2016
Premiação reconhece experiências que fortalecem os Direitos Humanos em SP
Reportagem: Danilo Mekari
publicado dia 13 de dezembro de 2016
Reportagem: Danilo Mekari
Homenagear as pessoas e projetos ligados aos Direitos Humanos e que tenham impacto direto nas escolas e territórios da cidade de São Paulo. Foi com essa intenção que a cidade de São Paulo recebeu, nesta segunda-feira (12/10), a cerimônia de entrega dos prêmios Educação em Direitos Humanos, Dom Paulo Evaristo Arns e de Direito à Memória e à Verdade Alceri Maria Gomes da Silva.
Este último, entregue pela primeira vez em 2016, foi criado pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, que seguiu a recomendação da Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo. É batizado com o nome de uma mulher negra e operária, assassinada em 17 de maio de 1970, aos 26 anos. Militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Alceri foi morta com quatro tiros por agentes da Oban e enterrada como indigente no cemitério municipal da Vila Formosa.
Vencedor do prêmio, o advogado e jurista Fábio Konder Comparato – responsável pelo questionamento da constitucionalidade da Lei da Anistia – dedicou a premiação ao povo afro brasileiro, “cuja dignidade admiro pelo sacrifício prestado a todos nós durante séculos”. O prêmio também entregou menções honrosas ao Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Unifesp (CAAF), criado há dois anos para identificar mais de mil ossadas da vala clandestina no Cemitério Dom Bosco, em Perus, e à cineasta Tata Amaral, que se inspira na resistência à ditadura militar em vários de seus trabalhos, inclusive o último filme, “Trago comigo”.
Padre Jaime: contra o genocídio negro
Realizada no Auditório Ibirapuera, a cerimônia de premiação reuniu centenas de pessoas, entre estudantes, professores, seus familiares e gestores públicos. Ao receber o prêmio de Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, o padre Jaime Crowe foi ovacionado pelo público. O religioso é conhecido pelo trabalho de combate à violência e promoção da cidadania na zona sul da capital paulista.
“Gratidão ao povo que me acolheu em 1969 no Embu das Artes e também ao povo do Jardim Ângela”, começou o irlandês. “Trabalhamos em conjunto, construindo e caminhando. Não cabe no prêmio todos os nomes que fazem parte dessa história. Esse premio é de todos nós.”
Padre Jaime alertou para o genocídio do povo pobre, negro, indígena e periférico que está ocorrendo a plenos pulmões nas bordas da cidade. “Lembro de um momento em que Dom Paulo Arns, que dá nome à esse prêmio, entrou na arquidiocese dizendo que não está certo o Estado armar jovens pobres, pretos e periféricos para prender, julgar e matar seus iguais. Não está certo uma cidade que vive tantas diferenças e desigualdades”, apontou.
“Esta premiação mostra que, se são criadas oportunidades para tanto, a juventude mostra o seu potencial. Vamos todos cantar em coro: nenhuma morte a mais, nenhum jovem a menos”, pediu o padre. Presente à cerimônia, o prefeito Fernando Haddad (PT) destacou a importância de se homenagear o trabalho de cidadãos “que a todo momento nos lembram de nossos deveres para com o próximo”. Citando os diversos povos e culturas que tornam a cidade multifacetada e heterogênea, Haddad afirmou que “o respeito mútuo é a base da diversidade. Pensar em Direitos Humanos é lembrar que todos pertencemos a uma mesma comunidade e que é preciso preservar esse sentimento.”
Educação em Direitos Humanos
Dividida em quatro categorias: Grêmio, Estudantes, Professores e Unidades Escolares, a premiação de Educação em Direitos Humanos busca incentivar e promover o fortalecimento da educação em direitos humanos nas escolas da rede municipal de ensino.
“Não é fácil debater e organizar o tema de Direitos Humanos em escolas de uma cidade como São Paulo”, afirmou a vice-prefeita e secretária de Educação, Nadia Campeão, “pois nossa realidade é muito contraditória, com diversas situações de dificuldade nos entornos da escola que causam impactos dentro dela.”
A 4ª edição do Prêmio aconteceu sob o recente lançamento do Plano Municipal de Educação em Direitos Humanos (PMEDH), documento aprovado no dia 6/12 e que tem o objetivo de consolidar e institucionalizar as experiências na área em curso na capital paulista. Os 14 vencedores do Prêmio abarcaram temas diversos, como cultura de paz, violência doméstica, bullying, homofobia, inclusão e território. Além de reconhecimento pelo seu esforço e trabalho, os projetos recebem como premiação livros e matérias do acervo da Coordenação de Educação em Direitos Humanos e também uma quantia em dinheiro.
Campo Limpo: território educativo
Vencedora da categoria Unidades Educacionais com o projeto “Revitaliza Campo Limpo: Mais cultura, esporte e educação”, a EMEF Dr. Sócrates Brasileiro também conseguiu muitos aplausos do público. A iniciativa pede a construção de um espaço de cultura no terreno baldio vizinho à escola, local que servia para descarte de entulho e tráfico de drogas. A escola, a partir de 2015, se uniu com comunidade e coletivos do território pra revitalizar o espaço.
Em entrevista ao Portal Aprendiz, o professor de História da instituição, Antônio Marcatti, estendeu as comemorações à comunidade escolar. “Pensamos não só na escola, mas principalmente na sua inserção no território. O prêmio nos dá força para manter a mobilização”, acredita. Agora, espera-se um posicionamento mais firme do poder público referente ao processo de anexação do terreno, que está em andamento.
“Sempre fizemos questão de relacionar esse espaço com o projeto pedagógico da escola. Estudamos o entorno da escola, o processo de ocupação do bairro, as modificações realizadas no córrego Olaria, que passa ali, a densidade populacional e as políticas públicas para periferia. O território veio para dentro da escola, que saiu de si mesma, instrumentalizando as pessoas através do conhecimento, para que tenham ainda mais ferramentas para lidar e modificar sua realidade”, define o educador.
Para o secretário municipal de Direitos Humanos, Felipe de Paula, os prêmios reconhecem aqueles que fazem a diferença no território e na rua. “São atividades importantes, que mudaram a cara da cidade e a forma como ela se relaciona com as pessoas”, finaliza.