publicado dia 23 de novembro de 2016
Plataforma estimula a produção artística de crianças em escolas públicas do Brasil
Reportagem: Danilo Mekari
publicado dia 23 de novembro de 2016
Reportagem: Danilo Mekari
Foi lançado nesta terça-feira (22/11) o movimento Ocupação Criança. Encabeçada pelo Instituto Avisa Lá, a ação pretende valorizar a produção artística de alunos de educação infantil da rede pública brasileira.
Partindo do diagnóstico de que manifestações, ideias e expressões infantis raramente são reconhecidas nas instituições de ensino do país, a Ocupação Criança quer sensibilizar, comunicar e socializar práticas que respeitam o potencial das crianças nos segmentos da Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental.
É muito comum encontrar em escolas infantis de todo o Brasil pinturas nas paredes de personagens consagrados pela televisão e por livros infantis – normalmente desenhados por profissionais ou até mesmo por professores.
De acordo com o movimento, tratam-se de desenhos estereotipados que denunciam um desacreditar no que crianças pequenas podem produzir artisticamente para povoar as paredes e murais de suas escolas. “Em geral, o que as escolas expõem não revela o fazer e as capacidades das crianças de ler o mundo ao seu redor e de produzir segundo seu tempo e seu modo próprio de fazer.”
Lançamento
Em um evento realizado na Unibes Cultural, em São Paulo, a coordenadora do Instituto Avisa Lá, Silvia Carvalho, afirmou que a intenção da mobilização é “reforçar a ideia de que as crianças são produtoras de cultura e que seu potencial é puro ouro para a educação”. Silvia também acredita no potencial estético da infância para além do espaço escolar. “Queremos que as crianças ocupem definitivamente os espaços de educação e também praças, museus e outros espaços públicos. Elas têm muito a nos dizer.”
O movimento Ocupação Criança reuniu em um banco virtual boas práticas de reconhecimento e valorização do protagonismo infantil.
Para a educadora Rosa Iavelberg, autora do livro Desenho na Educação Infantil, é necessário criar situações adequadas para que o potencial da criança possa se desenvolver junto com a sua arte. “A arte-educação contemporânea não acredita apenas na livre expressão, mas aposta na intervenção docente para apreciar as produções infantis e sugerir perguntas, dialogando com a criança sobre seus processos e produtos e incentivo a sua autonomia”, aponta a educadora. “Se a gente respeita e alimenta a investigação infantil, acaba apoiando a criança no desenvolvimento de sua arte e, consequentemente, em sua vida.”
O evento contou também com a apresentação de experiências de centros de educação infantil que já trabalham com a perspectiva de tornar a criança protagonista de sua aprendizagem. No CEI Nossa Senhora de Guadelupe, localizado na zona sul de São Paulo, o projeto O que os muros contam incentivou os pequenos a criarem desenhos e ilustrações para o muro da escola.
“Faltava a marca das crianças na nossa parede, uma ação para valorizara cultura infantil”, conta José Farias. A ideia era contar, a partir dos desenhos, como era a rotina dos alunos do local. “Antes, o muro não dizia nada. Quais crianças a gente tinha ali dentro?”, questiona Vera Lúcia Silva. Com a ajuda de pais e da comunidade do Jardim Autódromo, foi realizado um mutirão que coloriu as paredes do CEI e também contou com a instalação de pneus coloridos, floridos e mosaicos.
As outras três experiências apresentadas durante o encontro estão sendo realizadas em escolas públicas de Jundiaí, no interior de São Paulo. Na EMEB Alceu Toledo de Pontes, o projeto Desenhar se aprende desenhando reserva três momentos semanais para o desenho livre e dois momentos para rodas de apreciação e troca sobre os desenhos. Para Marcela Giaretta, desenhar é lúdico. “O desenho é linguagem, fala e gesto. Se observarmos bem, é a primeira escrita da criança, sua primeira marca. Um modo dela se expressar emocionalmente, sua alegria, tristeza e medos.”
Durante um ano, foi possível notar evolução nas produções infantis, como experimento de novas cores, ocupação dos espaços em branco do papel e representação mais fiel do mundo real. Regina Poiate retomou a necessidade de se realizar uma formação com os docentes. “A ideia do desenho livre enfrenta muita resistência. O projeto promoveu momentos de apreciação de obras, desenhos de observação, e hoje os professores valorizam mais o caderno de desenhos.”
Autonomia e desenvolvimento
Na EMEB Judith Carreta, o projeto Manifestações Infantis teve como foco a escuta das crianças. “Nossa equipe cresceu muito com esse movimento”, avalia a coordenadora pedagógica, Juliana Bagne. “Olhamos para as brincadeiras e expressões infantis e pensamos sobre o que elas nos traziam. Mais do que ouvir os pequenos, trabalhamos a partir do que eles falavam.”
No site da Ocupação Criança, é possível inscrever novas ações escolares que valorizem a produção artística infantil no banco de práticas. Algumas delas serão selecionadas para participarem do II Seminário Ocupação Criança, a ser realizado em novembro de 2017.
Para ela, trata-se de uma oportunidade da criança avançar autonomamente em seu desenvolvimento pessoal. “Quando o adulto diz que quer te ouvir, a criança começa a expandir seu conhecimento e mostrar as suas aprendizagens.”
Juliana Bérgamo, coordenadora da EMEB Florisa Volpe, descreveu o projeto Li e gostei como um novo olhar para a produção do aluno. “As crianças sempre tiveram contatos com os livros, mas muitas vezes de maneira restrita. Hoje eles são produtores de textos”, aponta.
“É preciso dar oportunidade para que as crianças mostrem cada vez mais seu potencial. Não somente deixá-los escrever, mas criar um momento em que ela tem o professor para incentivá-la, sendo ele capaz de fazer boas perguntas para a criança avançar em seu desenvolvimento.”