publicado dia 30 de abril de 2019
O direito à cidade mais vagarosa. Conheça o Desacelera SP
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 30 de abril de 2019
Reportagem: Cecília Garcia
“Tempo não é dinheiro. Tempo é o tecido da nossa vida”. Essa frase do escritor Antonio Candido apanha bem o espírito do movimento Desacelera SP. Idealizado pela jornalista e educadora Michelle Prazeres e o também educador Eduardo Cordeiro, o projeto propõe uma iniciativa de contrapelo ao caos urbano, pelo direito à uma cidade e vida mais leves, menos lépidas e mais bem-vividas.
Leia +: O Bem Viver: Alternativas Indígenas para se pensar a vida em comunidade.
“Se a gente tivesse um mundo menos acelerado, teríamos um planeta e pessoas mais saudáveis, com menos consumo e mais natureza, e crianças vivendo plenamente sua infância. Movimentos como o Desacelera SP podem reverberar e construir relações menos violentas com relação ao tempo”, declara Michelle. Organizam também o movimento Elaine Santos, Solano Diniz e Michelle Ohl.
Signatário do Movimento Slow, uma iniciativa política que congrega vários países por um modo mais consciente de se viver o tempo, o projeto trabalha com atividades que promovem uma desaceleração do ritmo, tanto o mental quanto o vivido nos espaços da cidade.
Para tanto, uma rede de colaboradores caracóis – uma referência afável a poesia apreciadora do tempo de Manoel de Barros – promovem práticas que vão desde mapear afetivamente à cidade em busca de lugares onde o tempo é mais vagaroso até cursos de formação e de narradores que olhem para a produção de conteúdo e de relações com mais alteridade.
Aula de capoeira no Itaim Paulista; loja lotada discos no centro da cidade; e amplos espaços verdes do Parque do Carmo, na zona leste da cidade. Esses são alguns dos espaços mapeados pelo Guia Desacelera SP. Usando a figura do caracol, a rede marca de maneira espontânea e experimental espaços públicos e privados acessíveis na cidade.
“A curadoria é bem importante: quando essa rede escolhe esses lugares, são espaços onde ela passa bastante tempo, entendendo o cheiro, a música e outros sentidos que estavam nele”, relata Michelle.
Em crescimento, o mapa tem ainda a maioria dos espaços concentrados na zona central e oeste da cidade, o que revela uma desigual distribuição de espaços públicos e pouca democratização do direito à cidade na capital paulista: “Temos a consciência que são poucas as pessoas que têm o privilégio de escolher desacelerar o tempo, mas essa também é uma luta política, que pode gerar benefícios para todo mundo”.
Ela ainda adiciona que a ideia de afrouxar o tempo não é necessariamente igual para todos: “Desacelerar não pode virar uma agenda dentro da agenda, porque cada um encontra seu tempo possível. Para algumas é passar com quem ama, para outros é ter plantas em casa, ou observar as crianças, que tem uma outra relação com o tempo”.
Síntese das múltiplas experiências acumuladas pelo grupo nas áreas de formação, conscientização e prática, o Dia Sem Pressa é uma data criada para celebrar o desaperto do tempo e que está em sua segunda edição. “O conceito dele é o da própria tríade do Desacelera: consciência, convivência e experiência”, relata Michelle.
Yoga, meditação, espaços de brincadeiras e de convivência são algumas das iniciativas do evento, criadas por essa mesma rede de parceiros e de pessoas que se propõe a olhar o tempo de uma maneira diferente.
Ainda para Michelle, a movimentação e a espontaneidade de sua força tem a capacidade de articular pautas em um nível político, influenciando e pautando discussões sobre cidades mais democráticas e sustentáveis: “O movimento slow tem uma plataforma política que olha para o planeta, pensando que estamos no limite e que não dá mais para crescer. Temos que decrescer”.
O Dia Sem Pressa acontecerá no dia 28 de setembro de 2019, no Espaço Unibes Cultural.