publicado dia 26 de setembro de 2017
Novos olhares para o território: o patrimônio na Cidade Educadora
Reportagem: Nana Soares
publicado dia 26 de setembro de 2017
Reportagem: Nana Soares
Construções, caminhos e pessoas podem passar despercebidos na rotina de uma cidade. Mas o modo como falam, se vestem e se comportam os moradores; as linhas e cores que entrecortam a paisagem; a história e a cultura que ainda não chegaram aos livros: todos esses elementos se constituem como potencial de aprendizado para uma educação que acontece além dos muros da escola.
Em São Paulo, com o objetivo de promover o reconhecimento desses ativos e direcionar o olhar para os patrimônios locais, a equipe do coletivo Hey Sampa juntou-se aos professores participantes do curso “Potenciais Educativos do Território Urbano: rumo à Cidade Educadora” para o módulo de Educação Patrimonial, realizado no último sábado (23), no Solar da Marquesa.
A partir um roteiro realizado pelo arquiteto Roberto Colloto, os participantes adentraram a Sapataria Fidalga que preserva o mobiliário da época de sua criação, em 1928, e a dupla fileira de vitrines que, por décadas, permitiu que os clientes se encantassem pelos calçados. Quem visita a Sapataria percebe também os biombos que delimitam a área de prova dos sapatos. Prática incomum nos dias de hoje, no início do século foi uma estratégia para que as damas pudessem experimentar os produtos sem que suas pernas ficassem visíveis para os passantes da rua Quintino Bocaiúva.
Algumas quadras depois, na rua Álvaro Penteado, o edifício “Ouro Para o Bem de São Paulo” guarda a história de um estado que, em 1932, lutou por independência, usando dinheiro de alianças doadas pelas mulheres para arrecadar recursos para a causa. A homenagem resultou na construção de um edifício carregado de simbologias, como uma cúpula que lembra um capacete dos soldados e uma arquitetura que remete às alianças empilhadas.
As caminhadas e explorações pelo território são especialidade da Hey Sampa, cuja proposta é transformar a visão das pessoas que vivem em São Paulo, possibilitando o reconhecimento dos patrimônios materiais e imateriais produzidos na cidade.
“Toda caminhada é um novo aprendizado, nunca há uma saída igual à outra”, enfatizou Paula Dias, que conduziu a reflexão com os integrantes do curso. “Mas isso não é sobre o Centro de São Paulo, é sobre descobrir qual é a Sapataria Fidalga de seu bairro, qual é o marco zero. As relações sociais e a história acontecem em qualquer território”, afirmou ela, acrescentando que, em algumas situações, as histórias locais fazem mais sentido para os estudantes do que conhecer museus do centro da cidade.
A professora Cleide Portos, que leciona História na EMEF Desembargador Amorim Lima, apresentou exemplos de como essa concepção ecoa em sala de aula. Segundo ela, as visitas com os estudantes ao centro da cidade começaram em excursões tradicionais aos museus, mas foram substituídas por vivências de rua, acolhendo a demanda dos próprios estudantes que queriam ver o centro, as pessoas, conversar com os profissionais que ali trabalhavam e com os moradores em situação de rua.
“Tivemos experiências muito fortes e, em uma delas, eles ficaram muito tocados com o tratamento da Prefeitura aos moradores de rua e fizeram eles mesmos a mediação entre as partes, espontaneamente, o que só foi possível com diálogo.”
Potenciais Educativos
O curso “Potenciais Educativos do Território Urbano: rumo à Cidade Educadora” é uma iniciativa da Associação Cidade Escola Aprendiz, por meio do Programa Cidades Educadoras, em parceria com a Diretoria Regional de Educação do Butantã e coletivos, instituições e organizações sociais de São Paulo.
O programa da formação já contemplou os temas “Currículo do Território”; “Mobilidade Urbana a pé”, “Educação Ambiental”, “Tempos e Saberes da Cultura popular” e “Infâncias e espaço público”. Ao longo do semestre serão trabalhados ainda os eixos “Gênero e Território” e “Territórios Negros da cidade”. Em sua segunda edição em São Paulo, o curso pretende fortalecer o município como Território Educativo, apoiando práticas de articulação com as comunidades nas escolas da rede pública.