publicado dia 12 de agosto de 2025
Na rota da COP30, Fórum focaliza papel da Educação e protagonismo juvenil frente à crise climática
Reportagem: Nataly Simões | Edição: Tory Helena
publicado dia 12 de agosto de 2025
Reportagem: Nataly Simões | Edição: Tory Helena
Resumo: O papel da Educação e dos territórios no combate às mudanças climáticas e o futuro das juventudes ganharam destaque no Fórum Movimentos pela Regeneração – Em direção à COP30. O evento foi promovido pelo Sesc São Paulo entre os dias 7 e 10 de agosto na capital paulista e contou com a presença de autoridades, ambientalistas e ativistas.
Faltam menos de 100 dias para a 30ª Conferência das Partes (COP30) começar em Belém (PA). Com a proximidade do megaevento diplomático, as discussões sobre as mudanças climáticas em todo o Brasil estão aquecidas.
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Na última semana, o Sesc Pinheiros recebeu o Fórum Movimentos pela Regeneração – Em direção à COP30, que reuniu ambientalistas, autoridades e ativistas pela Justiça Climática para debater o tema. Com a presença da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, o encontro aconteceu em São Paulo (SP), de 7 a 10 de agosto.
Com atividades presenciais e transmissão ao vivo pelo canal do YouTube do Sesc São Paulo, o evento teve como objetivo mobilizar a sociedade para ações de mitigação e adaptação, a fim de fortalecer os processos regenerativos em defesa de todas as formas de vida no planeta, além da conservação da biodiversidade.
Desigualdades, Educação e COP30
Os impactos da desigualdade e o papel da Educação para além da sala de aula no enfrentamento das mudanças climáticas foram visibilizados ao longo de todo o evento.
Outro destaque foi a participação da ministra Marina Silva, que abordou o papel do Balanço Ético Global (BEG), um dos pilares da mobilização do governo federal para a COP30.
O BEG propõe uma reflexão com base na Cultura, Artes, Ciência e saberes indígenas e de comunidades tradicionais para debater a mudança de comportamentos e trajetórias coletivas, fundamentais para a transformação ecológica.
Em sua fala para 400 jovens durante o evento no sábado (09/08), Marina Silva alertou que o enfrentamento à crise climática depende de um compromisso ético que passa, sobretudo, por mudanças nos padrões de consumo.
“São 8 bilhões de pessoas desejando ter e o planeta não aguenta as pessoas sendo felizes apenas se tiverem. Mas o ideal do ser é sustentável. Há limites para ter, mas não há limites para ser. Aí seremos mais felizes, porque teremos o consumo necessário, desejável, compatível. E vamos consumir outras coisas: mais poesia, mais conhecimento de paisagens, mais livros”, afirmou a ministra.
Conexão da Educação com o Meio Ambiente
A potência dos processos educativos para promover a formação integral dos sujeitos engajados na proteção do planeta Terra, gerando impactos positivos para as suas comunidades, foi abordada na mesa “Saberes e fazeres na Educação frente às mudanças do clima”.
Denise Baena, gerente de Educação para Sustentabilidade e Cidadania do Sesc São Paulo, deu início à discussão abordando a conexão da Educação com a pauta ambiental.
“A Educação sempre esteve conectada com o Meio Ambiente por ter uma perspectiva capaz de transformar realidades, melhorar condições de dignidade humana e respeitar o ambiente onde a gente vive. Essa Educação que promove conhecimento, vida e participação é a que queremos ter na pauta da questão ambiental”, afirmou.
Os diferentes saberes científicos, geracionais, tradicionais e territoriais ajudam a compreender o potencial da Educação presente no território para o enfrentamento às mudanças climáticas.
Uma experiência que exemplifica isso é a Escola Viva, movimento de apoio a projetos indígenas de fortalecimento e transmissão de seus saberes tradicionais. Presente nos territórios dos povos Guarani, Maxakali, Huni Kuin, Baniwa e Tukano-Dessano-Tuyuka, a iniciativa é coordenada pela professora Cristine Takuá, da etnia Maxakali.
A educadora classificou o currículo tradicional utilizado pelas escolas brasileiras como “quadrado” na questão ambiental. Para ela, o conhecimento em saberes e fazeres, como diz o nome da mesa, está intrínseco à relação com as florestas.
“Os avós dos nossos avós não tiveram como base estruturante a letra e o número na sua Educação. Essa mania esquisita de achar que a escolarização é letra e número não vale para a Escola Viva”, pontuou a educadora indígena, destacando a importância da relação com a natureza e a valorização de saberes ancestrais.
Outra experiência que demonstra a conexão da Educação com a agenda ambiental é a do projeto “Você Repórter da Periferia”, idealizado e realizado pelo coletivo Desenrola e Não Me Enrola nas periferias brasileiras desde 2014.
A iniciativa pesquisa, reconstrói e cria espaços para o exercício das identidades culturais dos jovens, utilizando o jornalismo como elemento pedagógico para a produção de conhecimento.
O jornalista e editor do Desenrola, Ronaldo Matos, apresentou um vídeo de uma reportagem feita pelo projeto em que a jovem repórter Jéssica Calheiros sai de Itaquera, um dos bairros mais populosos da Zona Leste de São Paulo, para visitar uma aldeia indígena no Jaraguá, na Zona Noroeste da capital paulista.
Nesta visita, a jovem tem a oportunidade de conhecer as tradições do povo Guarani e sua relação de cuidado e de respeito com o meio ambiente.
“No nosso trabalho, enxergamos a juventude não só como um público ou pessoas que estão em processo de aprendizagem, mas como alguém que pode solucionar problemas. A Jéssica aprendeu sobre ancestralidade e tecnologias e pode levar esse conhecimento para o seu convívio social. Para além de ser uma comunicadora nas redes sociais, ela pode pulverizar esse conhecimento e construir outras coisas a partir disso”, comentou Ronaldo.
A COP 30 e um futuro sem distopia
O futuro dos jovens e a necessidade de ações para mitigar os efeitos das mudanças climáticas — que já são vivenciados por crianças e adolescentes — foi levantado no debate pelo professor Marcos Sorrentino, atual diretor do Departamento de Educação Ambiental e Cidadania da Secretaria Executiva do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
“O grande desafio que estamos enfrentando é como vamos construir um futuro que não seja distópico. Quem mais vai vivenciar esse futuro são os jovens, por isso é preciso dialogar com eles nas escolas e fora delas como vamos construir esse futuro”, disse.
Sorrentino reconheceu que é do Estado a responsabilidade de formular políticas públicas para garantir um futuro melhor para as juventudes e destacou a importância de iniciativas como as abordadas pelos outros participantes do debate.
“As experiências apresentadas aqui são importantíssimas e talvez ajudem a delinear o futuro que queremos, mas elas precisam ganhar escala”, avaliou.
De acordo com o diretor do Departamento de Educação Ambiental, a COP30 é uma oportunidade para isso, mas sua expectativa para a conferência das Nações Unidas não é positiva.
“É bem provável que a COP30 vire apenas uma Torre de Babel, um diálogo entre diplomatas de terno e gravata, um encontro de ciência erudita para pensar quanto de CO2 precisa ser sequestrado e quantas árvores precisam ser plantadas”, criticou.
“Os 200 chefes dos Estados-Nação se reúnem, decidem o futuro da humanidade e nós, outros humanos, não cumprimos o que eles decidem até porque nós não fomos consultados. As vozes da diversidade não foram consultadas para se expressarem em Belém”, argumentou.
Também durante o evento no Sesc Pinheiros ocorreu o lançamento do Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades de 2025, estudo desenvolvido pelo Instituto Cidades Sustentáveis com base na metodologia usada pela ONU. O material traz 100 indicadores para o monitoramento da Agenda 2030 nos 5.570 municípios brasileiros. A pesquisa já está disponível na internet.