publicado dia 26 de outubro de 2016
Museologia comunitária e participação política juvenil são temas na Mostratec
Reportagem: Danilo Mekari
publicado dia 26 de outubro de 2016
Reportagem: Danilo Mekari
Produzir ciência que tenha impacto local. Um dos principais objetivos da Mostratec está sendo cumprido à risca pelos estudantes que participam da 31ª edição da maior feira de ciência jovem da América Latina, que ocorre até sexta-feira (28/10) em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul.
Nos inúmeros estandes que abrigam os projetos, divididos em longos corredores, o que se vê é muita troca de conhecimento entre estudantes de diferentes idades e nacionalidades. Professores e orientadores também participam deste intenso momento de aprendizagem.
Os 420 projetos científicos que compõem a mostra principal estão divididos em 13 categoriais. Uma delas, a de “Ciências Sociais, Comportamento e Arte”, abriu espaço para a museologia comunitária através do projeto “Jovem Explorador e o Ecomuseu”. Realizado pelos jovens Charles Miller e Maria da Conceição, ambos de 17 anos, a iniciativa tomou corpo a partir de uma comissão de 20 exploradores que queriam conhecer mais e melhor o território de Pacoti, cidade de 11 mil habitantes situada no interior do Ceará.
A Mostratec prossegue até sexta-feira (28/10), no Centro de Eventos Fenac (rua Araxá, 585 – Novo Hamburgo/RS). O repórter Danilo Mekari cobre o evento a convite da Fundação Liberato.
A comissão, formada por estudantes da Escola de Ensino Médio Menezes Pimentel, tinha um longo trabalho pela frente, pois Pacoti se encontra na divisão entre a mata atlântica e a amazônica e possui uma enorme diversidade biológica. “A busca pelo conhecimento exige que a gente conheça o nosso entorno”, observa Maria.
Após a pesquisa e exploração, surgiu a proposta de se criar um EcoMuseu de Pacoti. “Partimos da história local, as agregamos outras disciplinas nesse processo”, relembra Charles. Com referências ao francês Hugues de Varine, criador do conceito de ecomuseu, os jovens montaram uma exposição sobre a primeira escola pública da cidade e construíram o primeiro ecomuseu de plástico do Brasil.
“Hoje, ele é um ponto de referência para todo o patrimônio material e imaterial de Pacoti”, aponta Maria sobre o projeto que foi um dos contemplados pelo prêmio Criativos da Escola 2015. “Cuidar e aprender caminham juntos. Eu acho que a iniciativa despertou em nós a valorização do que é nosso”, finaliza.
Outro projeto que também contemplou a museologia comunitária foi o “Roteiro Turístico, Ambiental, Cultural e Religioso de Maranguape”, que ajudou a transformar cada vez mais o EcoMuseu da cidade em um dos pontos de interesse da comunidade local. Também no interior do Ceará, Maranguape é a terra natal dos jovens Caio Bezerra e Bruno Rodrigues, de 17 anos.
Estudantes da EEEP Torquato Gomes de Matos, os garotos caracterizam a cidade como “viva e pulsante, cheia de belezas naturais e arquitetônicas”, mas somente 10% dos entrevistados em uma pesquisa afirmaram conhecer o patrimônio local. Pensaram então em despertar a comunidade para a preservação da memória local através de ações culturais e patrimoniais.
“Queremos criar sensibilidade para o turismo local”, afirma Bruno. “Que não só os turistas, mas os próprios moradores de Maranguape possam ter acesso aos locais menos conhecidos.”
A participação política juvenil também foi tema de alguns projetos apresentados na feira. A gaúcha Diéssi de Oliveira, 18, natural de Sapiranga, estava incomodada com a forte rejeição à política apresentada por seus colegas do Instituto Estadual Mathilde Zatar. Segundo ela, eles vinculavam política apenas com disputas partidárias.
Com o objetivo de analisar a participação juvenil nos debates políticos, decidiu criar o projeto “Política: quando o jovem entra em cena”. Através de uma página no Facebook, a estudante divulga diferentes posicionamentos referentes à diversas questões públicas. “Acredito que a busca pelo conhecimento faz a diferença. Mais de 90% dos seguidores da página são jovens.”
Vitor Scherner, 16, estudante do Instituto Federal do Mato Grosso também resolveu trabalhar com esse tema, apresentando o trabalho “Política e juventude: representação, interesse e participação” que mostrou uma realidade alarmante na cidade de Tangará da Serra: dos quase 400 jovens entrevistados, 58% afirmou ter pouco ou nenhum interesse pela política, e outros 78% disseram que não têm nenhum interesse em participar de partidos políticos.
“Toda a situação política que atravessa o Brasil hoje afeta muito o jovem”, aponta Vitor. A pesquisa pediu ainda para os jovens desenharem representações da política, em sua grande maioria negativas. O jovem acredita que o discurso que pede uma escola sem partido só tende a piorar esta já dura realidade. “A escola sem discussão política e histórica não pode ser considerada uma escola.”
(A foto que abre esta reportagem foi retirada da página Política: quando o jovem entra em cena)