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publicado dia 24 de outubro de 2018

Mostratec 2018: com pesquisas inovadoras, estudantes olham para o território e suas culturas

Reportagem:

Cada uma das crianças e jovens dos 755 projetos que compõem a Mostratec 2018, maior feira da América Latina de ciência e tecnologia, traz consigo a curiosidade pelo funcionamento do mundo: o interesse por pesquisar desde miudezas, como o funcionamento de um fungo, até grandes questões políticas contemporâneas, revela o desejo de alterar positivamente a realidade onde vivem.

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Organizada pela Fundação Liberato, a Mostratec está em sua 33ª edição e ocupa os pavilhões da FENAC dos dias 23 até 25 de outubro, em Nova Hamburgo (RS). Alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio e Técnico de 27 estados brasileiros e 22 países apresentam trabalhos em  áreas como tecnologia, história, identidade, engenharia, biologia e robótica. Eles concorrem a bolsas de estudos, de idiomas e graduação, além de convites para feiras no exterior.

“É fantástico saber que pessoas de tantos lugares diferentes almejam participar da mostra. Recebemos a notícia de alunos dos lugares mais longínquos que comemoram sua classificação para a Mostratec com faixas em frente suas casas. Aqui, os alunos ganham visibilidade para seus projetos e saem para o mundo”, explica o diretor da Fundação Liberato, Ramon Fernando Hans.

estudantes andam pela mostratec 2018
Jovens do Brasil e de outros países apresentam seus projetos em estandes na Mostratec 2018/ Crédito: Divulgação

O território como objeto de estudo

Os participantes da Mostratec 2018 apresentam uma gama múltipla de projetos, mas todos alinhados com questões contemporâneas e que afetam diretamente seu cotidiano. Em parceria com as escolas e comunidade, empreendem projetos de incidência, recorrendo à pesquisa de saberes locais e como eles podem incidir positivamente em problemáticas do seu entorno.

A Mostratec é dividida em segmentos: a Mostratec Júnior contempla estudantes da Educação Infantil e Ensino Fundamental; enquanto a Mostratec tradicional olha para estudantes do Ensino Médio e Técnico. Há também áreas dedicadas especificamente para a robótica.

Um bom exemplo disso é a escola E.E.E.F.M PIO XII, localizada em Bom Princípio, no interior do Rio Grande do Sul. Uma das cidades com maior contingente de imigrantes alemães, fugidos do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade mantém viva essa herança em saberes locais como o patrimônio, alimentação e práticas festivas. Interessados em preservar essa rica tradição, os estudantes Estevão Petter, Rafael Winter e Emanuela Alies, todos com nove anos, elaboraram o projeto Winterschneiss – Um Pedacinho da Alemanha nos Pagos do Rio Grande do Sul.

Usando uma metodologia vasta em pesquisa, tanto de campo quanto bibliográfica, eles aprenderam mais sobre si mesmos e sobre a cultura que os cerca. “A gente acha importante cultivar a cultura alemã para que as futuras gerações não fiquem só no celular e também possam fazer dança, comida e outras coisas”, explica Emanuela. Rafael adiciona que “fizeram pesquisa perguntando para os pais, avós e tios sobre as coisas da cidade.”

estudantes ficam em frente do seu projeto
Da esquerda para direita, Estevão Petter, Emanuela Alies e Rafael Winter / Crédito: Cecília Garcia

A escola como espaço de construção de identidade

As estudantes Larissa Gomes Santiago (16) e Mirele Pereira da Silva (17), da E.E.E.P Presidente Roosevelt, em Fortaleza (CE), também empreenderam um resgate de sua ancestralidade para incidir sobre a identidade de meninas e mulheres negras ao seu redor. O projeto Luta dentro da luta – Feminismo a partir do olhar da mulher negra e seu debate na escola começou com o episódio de uma aluna sendo hostilizada pelo uso de turbante dentro da escola.

As duas proponentes decidiram então pesquisar sobre feminismo negro e a valorização da cultura e da estética afro-descendente como ferramentas para transformar o incidente em um movimento de reflexão sobre gênero e identidade “Pesquisamos feministas como Angela Davis e Sueli Carneiro. Depois, promovemos atividades na escola com as meninas sobre a importância de se amar, fazendo oficinas de cuidados com os cabelos crespos”, recorda Mirele.

A escola foi o equipamento escolhido para disseminar a pesquisa porque, segundo Larissa, “reflete o que é a sociedade, então queremos trabalhar o combate ao machismo e ao racismo dentro dela. Mais do que estar na escola, queremos usar sua estrutura para conscientizar os estudantes e seus familiares.”

estudantes do projeto luta dentro da luta
As estudantes Mirele Pereira da Silva e Larissa Gomes Santiago / Crédito: Cecília Garcia

Pertencimento com o resgate de lendas do país

Um dos estandes que mais atraiu a curiosidade dos passantes foi o de um grupo de estudantes do país asiático do Cazaquistão. Suas falas, que misturam inglês, russo e cazaque, explicavam a pesquisa Estilos inglês e cazaque de contar fábulas: diferenças e similaridades.

O objetivo do projeto foi mergulhar nas fábulas contadas para as crianças no Cazaquistão, entendendo como estas histórias revelam costumes e hábitos do país asiático. Para isso, os estudantes Mirat Yenbekov, Midel Matkarimova e Nurislam Seidalin compararam mitos de sua cultura com suas versões em inglês, segunda língua mais falada na nação. O contraste permitiu observar como as narrativas comunicam diferentemente a partir da língua usada.

jovens do cazaquistão apresentam projeto
Estudantes do Cazaquistão apresentam trabalho sobre lendas e identidades do seu país / Crédito: Cecília Garcia

“Contos de fadas aparecem em algum lugar e depois se espalham por vários países, se modificando a partir de suas particularidades”, explica Midel. Ela adiciona que, durante as pesquisas, foi possível entrar em contato com o passado de seu país e como histórias sobre animais, valores, príncipes e heróis que moldaram o imaginário popular.

“Não podemos olhar para o futuro sem pensar no nosso passado e é isso que queremos incentivar. Através de lendas de escritores famosos como M. Auzeov, podemos conhecer mais sobre as narrativas, costumes, fauna e flora do nosso país.”

*A repórter participou da Mostratec a convite da Fundação Liberato

 

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