publicado dia 1 de março de 2013
Universidade no campo desenvolve práticas de aprendizagem inovadoras
Reportagem: Clipping
publicado dia 1 de março de 2013
Reportagem: Clipping
Por Edu Shima do Educ.Ação
Pense sobre onde você vive e responda:
Como você responderia a este questionário ? Acho que vale investir alguns minutos e refletir sobre as respostas.
Este é o questionário distribuído no primeiro dia de aula para os alunos de um dos programas de mestrado mais ousados do planeta.
Estamos na ecovila de Lynedoch criada ha mais de 12 anos, onde está o Sustainability Institute a 9km da região vinícola de Stellenbosch e a cerca de 30km da Cidade do Cabo na África do Sul.
O vilarejo de Lynedoch é fruto do sonho de Mark Swilling e Eve Annecke. O complexo acomoda o Sustainability Institute, uma creche, uma escola, uma casa para hóspedes além de casas bastante simples ao lado de outras com design bem arrojado. Aqui, famílias de diversas “camadas sociais” convivem no mesmo espaço. A diversidade é base do projeto.
O complexo recicla a água do esgoto, chuveiros e cozinha. Depois de puxar a descarga, minhocas, outros micro organismos e a seguir vários tipos de plantas e filtros construídos com base em diversos tipos de sedimento, purificam a água deixando-a reutilizável para as futuras descargas e também irrigação.
Cada uma das casas do complexo foi aprovada pelo conjunto de moradores e teve justificativas de sustentabilidade apresentadas.
O Sustainability Institute é o coração acadêmico da eco vila. Aqui, um ousado programa de pós-graduação e mestrado focado em desenvolvimento sustentável promete aliar excelência acadêmica, meditação, além de trabalho comunitário e arte.
O mestrado tem 4 linhas :
E é filiado e acreditado pela Universidade de Stellenbosch, uma das mais respeitadas deste país africano.
O programa tem duração de dois anos na modalidade tempo integral (para os que estarão 100% dedicados ao estudo por este período) ou ainda quatro anos na modalidade de período parcial (para os que trabalham e estudam).
As bases para o projeto do Mestrado foram (Mark Swilling):
O olhar interno para a “sustentabilidade”:
O dia começa com alunos e equipe formando um circulo no grande hall. Em geral, um aluno ou funcionário lê um texto curto ou uma poesia, a seguir, grupos de trabalho são distribuídos para diversas tarefas na comunidade que podem ser desde o trabalho nas hortas, limpeza do jardim, trabalho na cozinha, limpeza do complexo ou ainda, trabalho na fazenda de um agricultor orgânico da comunidade. Por aqui, todos põe a mão na massa.
Após duas horas de intenso trabalho comunitário é hora de ir para a classe para palestras e leituras.
Tanto o trabalho físico como o intelectual são bastante intensos. Cada módulo (são cerca de 8 por ano no caso de tempo integral) tem a duração de uma semana, de segunda a sábado das 08.00h as 18.00h.
Os sábados são reservados para apresentações em grupo dos trabalhos feitos ao longo da semana.
Para equilibrar a agenda intensa, nos períodos da tarde, aulas de arte e movimento são o momento de descansar ou talvez “libertar” corpo e mente.
Após cada módulo temático, cada aluno produz um diário, resumos de leitura, além de um artigo com cerca de 8.000 palavras no mínimo e que deve juntar teoria e também o estudo de um caso prático.
Aulas acontecem em inglês, uma das 11 (sim!) línguas oficiais do país.
Em 2013 mais de 200 alunos pré-qualificados concorreram para ocupar uma das 49 vagas abertas por ano. A classe tem alunos e alunas do Malawi, África do Sul, Zimbabwe, Nigéria, Coreia do Sul e também um único e orgulhoso brasileiro.
Quando almoçava com alguns colegas no refeitório, Mark Swilling me perguntou por que eu estava lá. Depois da longa história passando por radicais decisões de carreira, viajando o mundo com três amigos em busca de educação inovadora, disse que acabei decidindo pousar ali em busca de um casamento entre diversidade, mão na massa e excelência acadêmica, e que seria o primeiro de muitos brasileiros. Mark sorriu. Eu sorri.