publicado dia 12 de novembro de 2018
Lugar referência para o povo Guarani é reconhecido como patrimônio cultural
Reportagem: Redação
publicado dia 12 de novembro de 2018
Reportagem: Redação
*Esse texto foi publicado originalmente no site Archdaily. O autor é o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Lugar de referência para a memória e a identidade do povo Guarani, a Tava, localizada na área que corresponde ao Sítio Histórico de São Miguel Arcanjo, em São Miguel das Missões (RS), foi construída e habitada por seus ancestrais a pedido de sua divindade, Nhanderu. Esse lugar sagrado foi reconhecido como Patrimônio Cultural do MERCOSUL. A decisão foi tomada e anunciada no XVII Encontro da Comissão do Patrimônio Cultural do MERCOSUL, que acontece durante os dias 30 e 31 de outubro, em Montevideo no Uruguai.
O processo de reconhecimento da Tava como Patrimônio Cultural do MERCOSUL teve início durante o processo de registro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em dezembro de 2014, quando o bem foi inscrito no Livro de Registro de Lugares. Na ocasião, lideranças Guarani pediram o que a Tava fosse reconhecida também por Argentina e Paraguai. Eles solicitaram que o Iphan apresentasse aos outros países os estudos realizados sobre o bem, mostrando sua importância como lugar sagrado onde todos, indígenas e não indígenas, podem aprender sobre a trajetória do povo Guarani.
A titulação que a Tava recebe pelo MERCOSUL significa o reconhecimento da presença ancestral dos Guarani no território Yvy Rupá, que hoje integra o Brasil, a Argentina e o Paraguai, no qual organizaram uma grande rede étnica, formada por aldeias, caminhos e locais sagrados. Transitar livremente por esse território, como fizeram seus ancestrais, os antigos, é um dos fundamentos do bem-viver que os Guaranis desejam preservar.
A Tava, Lugar de Referência para o Povo Guarani, corresponde aos significados e valores atribuídos pelos Guaranis ao lugar amplamente conhecido como Sítio Histórico de São Miguel Arcanjo. Trata-se de um espaço vivo, de atividades diversas e de aprendizado para os mais jovens, pois ali viveram seus ancestrais, conhecidos como os antigos.
Conforme as narrativas dos Guarani-Mbyál, os antigos seguiram os preceitos do bem-viver Guarani, plantando e colhendo alimentos tradicionais, cantando e orando em suas Casas de Reza, caminhando por um vasto território, fundando aldeias e erguendo construções em pedra, as Tavas, para orientar a caminhada dos Guarani contemporâneos.
A Tava Guarani possui um sentido cosmológico profundo. Por estar em ruínas, é um testemunho da condição de finitude que caracteriza a vida terrena, mas ao mesmo tempo, demonstra que é possível superar essa condição, como fizeram os antigos que a construíram. Eles se tornaram pessoas encantadas e alcançaram a morada celeste dos imortais, onde tudo permanece vivo e se renova.
Assim, a Tava aciona sentimentos de pertencimento e identidade. Além disso, por meio dela, os Guarani-Mbyá interpretam o evento histórico das Missões, incorporando-o as suas narrativas e reelaborando-o segundo a lógica de sua cosmologia.