Por Vanessa Fajardo, do G1
Jovens de todo o Brasil encontraram na internet espaço para desenvolver o empreendedorismo e extravasar criatividade e talento para ensinar. De Alagoas, Larissa Maranhão Rocha, de 18 anos, criou o blog Enem Red, com dicas de redação. Do Mato Grosso do Sul, Felipe Dib, 24, coordena o canal no youtube Você Aprende Agora com aulas de inglês. Miguel Andorffy, 22, socorre os estudantes com dúvidas de matemática por meio de aulas gravadas no Rio Grande do Sul e postadas no site Me Salva!.
De diferentes partes do país, os projetos têm objetivos parecidos: causar impacto social e inspirar. Larissa resolveu criar o Red depois de tirar nota máxima na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano passado e passar a ser procurada por estudantes que queriam dicas para repetir o bom desempenho.
Recebia textos, corrigia e os devolvia por e-mail com comentários e observações pontuais por parágrafos. Por conta do volume de pedidos, resolveu montar um blog para organizar e divulgar o trabalho. “Nas três semanas antes do Enem cheguei a corrigir 52 redações em três dias”, diz.
O projeto cresceu e em breve deve virar um site que também trará dicas de matemática, com vídeo aulas, simulados e listas de exercícios por ordem de dificuldade. O Red ainda conta com outra vertente para alunos da rede pública de Alagoas São aplicados simulados de língua portuguesa que detectam as dificuldades dos alunos e são oferecidas aulas de reforço. Larissa também pretende buscar parcerias para custear a ida à universidade de estudantes da zona rural de Alagoas que não têm como pagar um curso de ensino superior. “Muitos alunos brilhantes deixam de estudar porque precisam trabalhar para ajudar em casa. Não é o potencial que falta, e queremos dar incentivo financeiro.”
Larissa diz que herdou o espírito empreendedor dos pais e dos avós, e pretende com o Red causar impacto social. “Acredito que uma sociedade que escreve bem funciona bem. Quanto maior a excelência na educação de um país, maior a chance de ele conseguir êxito mundial. O Brasil é um país de jovens empreendedores e a internet é a nossa grande aliada.”
Trabalho voluntário na Índia
Filha de agrônomos, desde criança Larissa tem sede de conhecimento. Fez seu primeiro intercâmbio aos 13 anos, quando foi para a Flórida, nos Estados Unidos, aprender inglês. Aos 15, substituiu a festa de debutante por uma nova viagem: passou dois meses em uma cidade do interior da Inglaterra morando com uma família egípcia.
No primeiro ano do ensino médio, voltou para os Estados Unidos para um novo intercâmbio. “Fui morar com uma família americana igual à dos filmes. Era uma ‘vida de plástico’ bem certinha. Até hoje mantenho contato com eles. Fui do coral de escola, líder de torcida, participei do jornal, mais por curiosidade do que por talento. Achava o máximo”, lembra. Neste mesmo ano foi para Universidade de Harvard fazer um curso de economia por dois meses, para onde voltou no ano seguinte para um curso de teoria da globalização.
A conclusão do ensino médio foi ano passado. Neste ano, Larissa foi aprovada em economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas cursa apenas algumas disciplinas. Durante período da greve da instituição, arrumou as malas e seguiu para outro desafio: foi dar aulas de inglês como voluntária na Índia por um mês. “De manhã eu ia para uma escola paupérrima, os alunos sentavam no chão. Dava aulas de inglês, as crianças não sabiam nada e ensinava o alfabeto. À tarde ia com uma amiga do Egito para um templo ajudar os mais velhos com matemática e inglês. A Índia me impressionou pelo contraste entre as classes, muito mais severo e aparente do que no Brasil.”
Os planos de Larissa se voltam novamente para os Estados Unidos, onde pretende fazer faculdade. Neste momento acerta os últimos detalhes do application (processo seletivo americano). Se for aceita por alguma instituição, não vai abandonar o Red. “Vou ver o que está funcionando lá fora e fortificá-lo, pois vou conhecer pessoas inovadoras. Não pretendo deixar de ajudar no projeto, pelo contrário, estamos recrutando voluntários para expandir a rede.”
Salvação matemática
Morador de Porto Alegre (RS), Miguel Andorffy, 22, estuda engenharia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e começou a dar aulas de cálculo quando tinha 18 anos, tamanha a sua facilidade com a disciplina. Em maio do ano passado, migrou as aulas para a internet com ajuda de uma câmera fotográfica, no melhor estilo caseiro, e postou no Youtube. “Fiz uns 30 vídeos e muito rápido começou a dar muito acesso. Percebi que havia uma demanda e fui melhorando”, lembra.
No início deste ano, Miguel criou um novo site e agregou aulas de física para o projeto que chamou de Me Salva!. Já são 200 vídeos publicados, 70% deles destinado ao conteúdo do ensino superior. Desde maio de 2011 até agora foram mais de 2 milhões de acessos.
Os vídeos não passam de dez minutos e, segundo Miguel, se assemelham a uma aula particular. O jovem conta que recebe mais de 50 e-mails diários de pessoas agradecendo os ensinamentos. “Não acho cálculo fácil, por isso, tem de ser bem ensinado. O segredo é ter aulas legais. Tinha expectativa quando comecei porque sempre quis criar um projeto grande, mas nunca quis fazer nada parecido com Khan”, diz Miguel, ao se referir à comparação com o professor Salman Khan, que faz sucesso com aulas gravadas em vídeo.
Para Miguel, as profissões de professor e engenheiro se confundem e se complementam. “Um bom engenheiro tem de ter o princípio de um professor. Sendo professor, me beneficio como engenheiro, que tem de ser líder de projetos. É um papel essencial no aprendizado da liderança.”
O foco do projeto de Miguel é causar impacto na sociedade e, se possível, captar lucro. Para o jovem professor, empreender é o caminho para materializar uma ideia, logo, se a ideia saiu do papel, cria-se um empreendedor. “O primeiro passo é desenvolver o mínimo da ideia para mostrar para as pessoas darem sua opinião, depois é ‘tocar a ficha’, como uma máquina de caça nível onde tu acha que vai ganhar.”
Ensino de inglês para agradecer
Depois de sofrer dois acidentes de carro seguidos num período de um mês, o professor Felipe Dib, 24, morador de Campo Grande (MS), quis “agradecer a Deus pelo milagre de ter sobrevivido”. A forma que encontrou foi a de criar um canal no Youtube chamado Você Aprende Agora, onde publica vídeos com aulas de inglês.
Felipe teve fraturas no fêmur, na face e na costela por conta do segundo acidente, em setembro do ano passado. Passou por uma cirurgia, se locomove com a ajuda de uma bengala e ainda está em recuperação.
O jovem dá aulas de inglês desde o 17 anos e atualmente também leciona no curso de relações internacionais da Faculdade Anhanguera de Mato Grosso do Sul. É ele quem banca sozinho o projeto do Você Aprende Agora. Permutou com a produtora um carro ano 2010 pela gravação e edição de 350 aulas de inglês.
Depois de um ano no ar, foram reunidas 386 aulas em um canal do youtube. Os vídeos seguem uma sequência e têm duração de três minutos em média. A recomendação é assistir cada vídeo três vezes, na primeira entender o conteúdo, na segunda para escrevê-lo e na última para repeti-lo em voz alta.
“Ensino inglês há cinco anos e sei o que estou fazendo. A sequência que eu adoto é o que há de mais ‘top’. Tenho certeza absoluta que é possível aprender”, afirma o professor. Felipe pretende atender as escolas públicas com seu projeto.
Para o professor, o ingrediente mais importante do empreendedorismo é a paixão, além da vontade de fazer a diferença na vida de alguém. “Antes fazia a diferença na vida de uma pessoa, hoje quero fazer a diferença no Brasil.”
Jovens Inspiradores
Larissa, Miguel e Felipe ficaram entre os dez finalistas do Prêmio Jovens Inspiradores, realizado em parceria com a Fundação Estudar e Veja.com no mês de novembro. Foram selecionados candidatos com espírito de liderança e potencial para transformar o país entre mais de 8.000 estudantes. A seleção foi realizada em três etapas: entrevista, prova e dinâmica em grupo.