publicado dia 14 de maio de 2015
Imaginação no poder: crianças se reúnem no Bixiga para pensar a praça Dom Orione
Reportagem: Pedro Nogueira
publicado dia 14 de maio de 2015
Reportagem: Pedro Nogueira
“Quero lesmas espalhadas. E pássaros para fotografar”, dizia o desenho de Francisco. Pergunto se ele quer muitas lesmas. “Umas quatro. Uma família. Caramujos, com as conchinhas”, responde Francisco, 5. Porquê? “Porque elas são legais”.
O diálogo acima se deu na praça Dom Orione, do lado debaixo das escadarias do Bixiga, na zona central de São Paulo. Estavam reunidos, durante o “13 na 13”, evento que propõe discussões e ocupações para o espaço público do Bixiga, estudantes da escola particular Lumiar e da Associação Novo Olhar, que atende crianças e adolescentes no contraturno de escolas públicas na região da Bela Vista.
A praça, que aos domingos abriga a tradicional feira de antiguidades do Bixiga, foi tomada emprestada pela imaginação das crianças. A tarefa era simples: perguntar o que elas sonham para aquele espaço.
Misturados e divididos em quatro grupos, entre um pega-pega e outro, fizeram propostas de infraestrutura para o local, hortas comunitárias, trilhas educativas e brinquedos que poderiam ocupar os vazios da praça.
Falante e animado, Tiago, de 6 anos, queria que o coreto fosse restaurado. Mostrando seu desenho, ele defende que as pessoas ficariam mais animadas se pudessem ouvir mais música. “E se quiserem dançar, também podem”. Enquanto seus amigos pensavam sobre o que mudariam naquele espaço amplo e arborizado, Tiago se entusiasmava: “E mais árvores. E uma daquelas coisas de colocar bicicletas. E mais lixeiras, porque tá muito sujo.”
Essa, aliás, era uma das principais reclamações de jovens e adolescentes. Talvez pelas inúmeras aulas de educação ambiental que acontecem nas escolas, ou pela organização dos lares, mas o fato é que a sujeira do espaço público incomoda demais os pequenos. Especialmente as bitucas de cigarro, que deverão ser retiradas em breve, quando as crianças voltarem para realizar um mutirão de limpeza, proposto por elas.
“Para nós, é fundamental sair do local protegido, consagrado para a educação. Desconstruir metodologias e apresentar novas vivências, que não limitam, que incentivam a imaginação das crianças sobre o mundo”, argumenta Manoela Mignone, educadora ambiental da Novo Olhar e coordenadora do grupo de discussão sobre hortas comunitárias. “Parar aqui e olhar o ambiente, pensar sobre ele, agir e, possivelmente, ver resultados, é animador para nós e para as crianças, que se sentem ouvidas.”
As impressões de Manoela são reforçadas por Suellen e Vitória, de 13 anos, que participam das atividades na praça. “A gente sente revolucionando a voz”, empolga-se Suellen, “e pode falar o que acha que é bom não só para a gente, mas também para as outras pessoas”. Para o educador Bruno Martins, da Lumiar, o importante é ver “o senso de participação fortalecido”.
Ideias públicas
Banheiros limpos, paredes grafitadas, ecotrilhas sensoriais com plantas de cheiro, casas nas árvore, um novo coreto, uma estátua de dinossauro, pássaros, lesmas e uma grande horta. Estas foram algumas das muitas sugestões que surgiram nesse dia. Se uma cidade para crianças, imaginada por elas, for possível, cabe agora ao poder público ajudar a materializá-la.
“É bom ver o que o futuro pensa sobre a praça, esses novos olhos. A Subprefeitura espera ansiosamente receber esse material, que será olhado com carinho”, garante Alcides Amazonas, subprefeito da Sé, responsável pela zeladoria do espaço público do centro da capital paulistana.