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publicado dia 29 de julho de 2024

Há 15 anos no Brasil, Slam fortalece voz e expressão das juventudes periféricas

Reportagem:

Resumo:  Disputada em espaços públicos, a batalha de slam, poetry slam ou poesia falada está cada vez mais presente nos diferentes territórios do Brasil. Estima-se que existam mais de 400 iniciativas no país, com experiências inclusive dentro de escolas. Saiba mais sobre a trajetória de 15 anos do gênero literário periférico no país.

Conhecido por trazer os anseios das juventudes periféricas para o centro do debate, o slam completou 15 anos de existência no Brasil em 2023. Com rimas sintonizadas com temas atuais como o racismo, o machismo e a LGBTfobia, as batalhas de slam costumam ocorrer em espaços públicos, como terminais de ônibus e praças. O embate é caracterizado pelo protagonismo do poeta, que se expressa por meio da voz e do corpo em períodos de até três minutos.

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Atualmente, estima-se que existam ao menos 400 iniciativas do tipo acontecendo em todo o país, em batalhas de poesia cada vez mais jovens, negras e inclusivas. É o que vê Roberta Estrela D’Alva, uma das precursoras do movimento.

“O slam começou com gente mais velha e foi ficando mais negro e jovem. Os MCs tomaram conta da primeira geração. Depois, o slam foi para as ruas e surgiu o slam das minas, que antes não iam, assim como [acontecia] nas batalhas de rap. Hoje, estamos em um movimento não-binário, com a comunidade trans, que também tem usado bastante o slam”, explica a atriz-MC e slammer. 

O lugar do slam nas escolas 

Além de ser uma importante expressão cultural e política das periferias, a batalha de poesia falada também encontrou um espaço potente nas escolas públicas.

Em 2013, o coletivo de literatura periférica Slam do 13 foi um dos primeiros a levar o slam para dentro de escolas da zona sul de São Paulo (SP). Formado pelos poetas e produtores culturais Caio Feitoza, Maite Costa, Jéssica Campos, Santos Drummond e Thiago Peixoto, o coletivo já circulou por dezenas de instituições de ensino da rede pública e privada, ocupando as quadras esportivas ou os pátios como praças de comunhão da palavra poética.

“É uma atividade que dá muito certo e vai ao encontro do trabalho desenvolvido pelos professores. Muitos utilizam as poesias do slam como ferramenta para dialogar com os alunos diversas temáticas trabalhadas em sala de aula”, explica o poeta e cofundador do Slam do 13, Thiago Peixoto.

O Slam do 13 foi o primeiro a levar a poesia falada para as escolas.
O Slam do 13 foi o primeiro a levar a poesia falada para as escolas. Foto: Reprodução/Instagram

Em 2024, o coletivo já esteve em sete escolas, em visitas mensais. Até o fim do ano, a previsão é somar outras seis instituições, impactando ao todo cerca de 3 mil estudantes. As atividades foram fomentadas por meio do programa “A Poesia é Compromisso”, da Prefeitura de São Paulo.

Nascido na outra ponta da capital paulista, na zona leste, o Slam Interescolar SP também soma 300 encontros em escolas públicas somente neste ano. Criado em 2015 por Cristina Assunção, Emerson Alcalde e Uilian Chapéu, a iniciativa foi inspirada por uma experiência francesa. No país por conta da Copa do Mundo de Slam, um dos fundadores visitou uma batalha de poesias que acontecia dentro das escolas de Paris. 

Para os participantes e educadores, a participação dos estudantes nas batalhas pode fortalecer os laços com a comunidade escolar e alimentar o interesse pela escrita e leitura.

“A poesia falada mobiliza toda a escola, que cria junto ao bairro uma comunidade poética”, descreve o poeta, escritor e professor de Geografia Fernando Julio da Silva. O educador, que também é formador do Slam Interescolar SP, defende a inclusão da atividade cultural no currículo escolar.

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Em outro reconhecimento da potência do slam, as atividades feitas pelo coletivo literário durante o isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19, receberam o Prêmio Jabuti 2021 na categoria “Fomento à Leitura”, do eixo “Inovação”. 

“Foi muito difícil, mas bonito e emocionante ver as crianças participarem em suas casas, em barracos de madeira, chão de terra e até terminal de ônibus porque não tinham Internet. Foi uma superação da precariedade intensificada pela pandemia e uma grande conquista para todo mundo que faz slam”, recorda Emerson Alcalde, um dos fundadores do Slam Interescolar SP.

Campeonato de poesia falada entre escolas no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, em novembro de 2023
Campeonato de poesia falada entre escolas no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, em novembro de 2023. Foto: Sérgio Silva

Mostra Gira da Poesia percorre os 15 anos do Slam no Brasil

A trajetória do slam no Brasil ganhou uma exposição em sua homenagem no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo (SP). A mostra ganhou o nome de “Gira da Poesia – 15 anos de slam no Brasil” e foi originalmente realizada no Museu de Arte do Rio (MAR) pela Festa Literária das Periferias (Flup), em 2023. Aberta para visitação até 08/09, a instalação ganhou novos contornos para ajudar na construção da linha do tempo desde a chegada do slam no país até sua atualidade.

Com curadoria de Julio Ludemir, Roberta Estrela D’Alva e Luiza Romão,  a exposição traz mais de 400 itens divididos em 10 eixos condutores, destacando a produção, a circulação e a recepção do movimento no país.

Roberta Estrela D’Alva explica que a criação da exposição era um sonho antigo, que se materializou com o apoio de Julio Ludemir, um dos fundadores e organizadores da Flup. Para tirar o projeto do papel, a dupla criou um conselho consultivo com pessoas de todas as regiões a fim de que a mostra não tivesse um “olhar sudestino”.

Roberta Estrela D'Alva, uma das precursoras do slam no Brasil, durante a Flup 2019.
Roberta Estrela D’Alva, uma das precursoras do slam no Brasil, durante a Flup 2019. Foto: Sérgio Lima

A partir de vídeos, fotos, exemplares de livros, recortes de jornais, peças de roupas e medalhas, a exposição apresenta episódios marcantes, como a chegada do slam nas escolas, além de mostrar como o movimento se tornou uma ferramenta de diversidade e inclusão.

Para o escritor e produtor cultural Julio Ludemir, o slam também deu uma cara nova para a literatura produzida no Brasil. 

“A cena literária no Brasil tem a minha cara: é branca, do sexo masculino, heterossexual e de cabelos brancos. É isso que a gente entende como literatura. A cena do slam eu entendo como uma passagem fundamental na história da literatura e da poesia brasileira, que nunca teve algo como o que vimos agora”, conclui.

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