publicado dia 12 de setembro de 2014
Futuros docentes aprendem matemática na mesa de sinuca
Reportagem: Danilo Mekari
publicado dia 12 de setembro de 2014
Reportagem: Danilo Mekari
Aberto diariamente desde 1986, o Big Small é uma referência para os amantes da sinuca que vivem em São Paulo. O bar, situado no bairro de Pinheiros, zona oeste da cidade, oferece mesas de bilhar que divertem noite adentro os mais assíduos jogadores. Na última quarta-feira, uma proposta inovadora converteu o local de diversão em espaço de aprendizagem.
A iniciativa, promovida pelo Instituto Singularidades – voltado para a formação inicial e continuada de professores e especialistas em educação –, tirou os alunos de graduação em matemática da sala de aula para propor uma maneira original de aprender e ensinar trigonometria.
Divididos em seis duplas mistas, os alunos foram instruídos a “prever” a trajetória das bolas de acordo com a angulação escolhida para a jogada. Em seguida, eles mediam os ângulos que se formavam a partir do toque da bola branca na bola que seria encaçapada.
A cada rodada, os estudantes anotavam as jogadas que davam certo – quando a bola escolhida caía no buraco – e as que davam errado. “A partir disso a gente discute quais são os acertos e os problemas na leitura dos ângulos”, explica a professora Ruth Itacarambi.
Para ela, o jogo de sinuca tem uma estrutura semelhante à da resolução de problemas. “Em um, o objetivo é ganhar. No outro, é chegar a um resultado. Estimulamos o aluno a analisar as condições iniciais para então tomar a decisão do que fazer para chegar ao resultado final: a bola certa na caçapa”, afirma Ruth.
O estudante Eduardo, do primeiro semestre, acredita que trabalhar com jogos é uma maneira mais efetiva de atrair o interesse das crianças. “Precisamos trabalhar menos com a lousa e mais com atividades lúdicas, que são uma maneira do aluno solidificar aquele conceito aprendido na sala de aula.”
Matemática no cotidiano
Focado na formação de docentes, o Instituto Singularidades tem o objetivo de “formar um ser pensante”, de acordo com o coordenador do curso de matemática, Valdir Carlos da Silva. As salas de aula possuem um formato que favorece a colaboração, com mesas de reuniões onde os alunos podem trocar conhecimentos, além de integrar turmas de diferentes níveis – como o 1º e o 2º semestre, turmas escolhidas para participar da aula de matemática no Big Small.
“Precisamos trabalhar a formação do professor para que, então, ele repasse o que aprendeu ao aluno”, reflete Silva. “Só transformaremos a realidade de nossa educação quando mudarmos os professores que estão ingressando no mercado de trabalho.”
Para ele, a visão de que a matemática é um obstáculo para os alunos precisa urgentemente acabar. “A criança tem que entender que a matemática está em qualquer lugar, mesmo que não a sinta. A matemática escolar precisa ser incorporada ao cotidiano do aluno – do contrário, não vai despertar o interesse da maioria”, observa.
Levar a matemática para a sinuca, por exemplo, é uma forma de aplicá-la, dando a possibilidade para o estudante visualizar que aquilo que é ensinado em sala de aula realmente acontece. “Propor atividades diferenciadas e fora da escola é uma das soluções”, opina Silva sobre as mudanças necessárias ao ensino da matemática.
Na prática
Também estudante do 1º semestre, Aline acredita que a atividade foi importante não apenas para ela, que pretende ser professora, mas também para os seus futuros alunos. “Vi na prática como são aplicadas as teorias de matemática. Isso é interessante para o processo de aprendizagem”, pontua. “Se eu passo o conteúdo apenas na lousa, muitas vezes o aluno não visualiza e não vê a aplicação real daquilo. Praticar o conceito aproxima o estudante da matéria.”
Ruth lembra que muitas pessoas que têm dificuldades com álgebra na sala de aula possuem maior habilidade na hora do jogo. “São características daquele aluno que o professor não vê em ambientes formais de aprendizagem”, revela.
A docente define como interdisciplinar a atividade no Big Small. Afinal, além da trigonometria, os alunos tiveram que estudar o jogo e suas regras, “bastante relacionado com leitura e interpretação de texto”. “É também uma ocasião importante para se analisar a auto-organização dos alunos, assim como um estímulo à socialização através do jogo.”
As fotos são de autoria de Henrique Miranda.