publicado dia 1 de junho de 2017
Fundão do Ângela se articula para defender seu patrimônio socioambiental
Reportagem: Nana Soares
publicado dia 1 de junho de 2017
Reportagem: Nana Soares
Nesta quarta-feira, 31 de maio, membros da comunidade do Fundão do Ângela, zona sul de São Paulo, se encontraram com especialistas e lideranças para, por meio do fortalecimento da rede local, construir estratégias que promovam práticas sustentáveis no território – nesse caso, um território farto em recursos naturais. O encontro “Águas e a Comunidade: o que fazer?” aconteceu no CEU Vila do Sol e foi organizado pelo Fórum do Fundão em parceria com a Cidade Escola Aprendiz.
Na parte da manhã, a discussão girou em torno das potencialidades educativas dos territórios. “Apenas a escola não é capaz de dar conta de todos os aspectos da formação de uma pessoa, como intelectual, cultural, político e afetivo”, explicou Helena Singer, socióloga, que defende que a meta é transformar o Fundão em um território educativo. “A gente se desenvolve em todos os lugares em que vive, e é preciso que todos esses lugares reconheçam isso e se articulem, pensem juntos as estratégias para se transformar em um território em que todos possam se desenvolver integralmente”, completou.
Helena, que já foi assessora especial do Ministério da Educação, explicou que, em um território educativo, o princípio do bem viver é o que dá o tom. Esse é um princípio desenvolvido pelos povos originários americanos, especialmente da América Latina, que prioriza o desenvolvimento dos sujeitos em lugar do desenvolvimento econômico tradicionalmente utilizado como termômetro.
“A lógica tradicional de desenvolvimento propõe uma ideia de dissociação e controle da natureza. Já o bem viver dá conta de que nós somos parte da natureza e que portanto não conseguimos uma vivência plena sem ela. Lutar pelos direitos humanos também é lutar pelos direitos da natureza”, avalia a socióloga, que também enfatizou a importância de se valorizar os saberes dos povos periféricos e tradicionais, do equilíbrio socioambiental e da participação da comunidade na construção de um território educativo.
Já o arquiteto e educador Tomaz Lotufo apresentou como as iniciativas sustentáveis devem ter um impacto positivo na população e no ambiente em que se situam. “Deve ser mais do que manter como está e sim mudar para melhor.” Lotufo mostrou as práticas iniciadas em Morretes, no litoral paranaense, e em um assentamento agrícola no Mato Grosso do Sul. Em comum, as práticas carregam muita consulta com a comunidade para avaliar o que seria melhor em cada território. Além disso, os materiais usados nas construções (Cozinha-escola em Morretes e Casa do Agricultor no assentamento) foram escolhidos por serem de fácil acesso às comunidades.
O arquiteto valorizou o fazer junto às comunidades, um processo que, segundo ele, é essencial para encontrar sentido e não causar alienação. “Nossa capacidade de criar sobre um sistema é limitada pelo desconhecimento, e conhecer é estar lá”, disse.
Durante a tarde, o evento contou ainda com as apresentações de André Graziano, proprietário da Pedra Verde, uma empresa que utiliza resíduos de entulho para produzir tijolos e pisos de forma sustentável. Américo Sampaio, da Rede Nossa São Paulo, relatou o processo de construção do Plano de Metas da gestão do prefeito Dória e convocou a todos a participarem do monitoramento e controle social das políticas públicas do Jardim Ângela.
O fim do evento contou com um World Café, metodologia de trabalho em grupo, que apoia o levantamento de sugestões e possíveis caminhos para a construção de um Plano de Ação Local.
Universidades envolvidas
Além da discussão, estudantes e professores da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e da Universidade de São Paulo (USP) apresentaram projetos e soluções pensadas para o Jardim Ângela em seus grupos de estudo e trabalhos de graduação. A área do Jardim Ângela é fortemente marcada por mananciais, com destaque para a represa de Guarapiranga, reforçando a importância de pensar em soluções sustentáveis e que aproveitem o potencial hídrico da região para seu desenvolvimento. Estiveram presentes alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas (FAU) e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.
No caso da PUC-Campinas, os alunos de arquitetura desenvolveram o Projeto Fundão como trabalho final de graduação, com o objetivo de requalificar os espaços da região, recriá-los e ressignificá-los. As soluções envolveram a valorização dos recursos hídricos da região, especialmente a represa Guarapiranga, instalar sistema de mobilidade intermodal e requalificar o sistema de geração e uso de energia elétrica. Os alunos que vão se graduar em 2017 estão dando continuidade ao projeto, dessa vez focados no Jardim Vera Cruz.
Já os alunos da FAU-USP apresentaram projetos do Grupo Metrópole Fluvial, coordenado pelo professor Alexandre Delijaicov, e que foca na resolução de problemas envolvendo as questões de água, lixo e mobilidade urbana.
Abraço Guarapiranga
A rede De Olho nos Mananciais vai realizar o Abraço Guarapiranga 2017 no próximo domingo, dia 4 de junho, a partir das 8h. Segundo os organizadores, o ato é “uma manifestação de respeito e carinho da população com as fontes de Água de São Paulo e também um ato de denúncia e indignação pelo descuido com a preservação dos mananciais”.
Esta é a 12ª edição da ação, que neste ano tem como tema “Por novas atitudes de cuidado com a água. Basta de degradação”. Às 8h, as caminhadas de Paróquias, que saem de diversos pontos do Jardim Ângela e do M’Boi Mirim, se dirigem ao Parque Ecológico do Guarapiranga, onde será celebrada uma missa campal. Às 11h30 haverá um plantio simbólico de mudas e, às 12h, o Abraço do Guarapiranga. Da Praça do Ciclista, o Pedal do Abraço parte às 9h em direção ao Parque da Barragem, local que receberá oficinas de sustentabilidade durante a manhã.