publicado dia 15 de agosto de 2015
Fabriciano (MG) adota educação integral nas escolas e converte-se em uma cidade que educa
Reportagem: Pedro Nogueira
publicado dia 15 de agosto de 2015
Reportagem: Pedro Nogueira
Não é fácil a tarefa de reconectar a educação com o mundo e a sociedade com a escola. Mas esse é o desafio que uma cidade de 100 mil habitantes no interior de Minas Gerais tomou para si. Encrustada entre Ipatinga e Timóteo, dois pólos industriais do Estado, Fabri, como é apelidada, agora quer ser conhecida como Cidade Educadora.
A história começa em 2006, quando a Escola Municipal Otávio Cupertino dos Reis adotou a educação integral. A experiência de pensar a ampliação da jornada e o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes fez com que o poder público notasse que era preciso também ampliar os espaços educativos, as oportunidades de aprendizagem e as articulações locais. Hoje, 14 unidades escolares oferecem educação em tempo integral, através do Mais Educação, programa do Ministério da Educação.
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Como desdobramento desse processo, o município criou o programa “Fabri: uma cidade que educa”. Quem explica é Álen Reggiani, coordenadora de políticas e programas educacionais da cidade. “A gente levou a sério essa ideia de que a criança e o adolescente não podem ficar restritos ao espaço escolar. No começo, foi até uma necessidade, porque as escolas não comportavam o tempo integral, então tivemos que fazer parcerias com clubes, galpão da igreja, com diversos espaços da cidade que se abriam à educação”, relembra.
A ideia é a iniciativa seja uma política permanente. Para isso, embasará o Plano Municipal de Educação (PME), responsável por delinear a educação da cidade pelos próximos dez anos. O PME, inclusive, foi batizado com o mesmo nome do programa. Mas a esperança é que a série de ações desenvolvidas deixe uma marca profunda na comunidade.
Um exemplo de como isso vem ocorrendo, de acordo com Álen, pode ser visto em algo tão simples quanto atravessar a rua. Para garantir que as atividades externas – em praças, parques e áreas públicas da cidade – aconteçam, as escolas contam com o apoio dos habitantes da cidade, que passam a contribuir diretamente para a garantia da segurança das crianças.
Guarda-chuva
A política foi estruturada como um guarda-chuva que abriga diversas ações que são desenvolvidas intersetorialmente para garantir que o espaço de Fabriciano seja um território de direitos e se torne cada vez mais educativo.
“A cidade já tinha diversas ações e projetos que traziam o trabalho escolar para o centro da vida pública, aproximando a comunidade do cotidiano da educação”, conta Álen. “O Arraiá da Cidade, o desfile de 7 de setembro, a parada afro-brasileira-, a caminhada pela paz são alguns eventos da cidadania que tiveram forte presença da escola. Além disso, faremos em setembro a Mostra de Educação e Cultura, que apresentará os trabalhos dos alunos pela cidade”. No final do ano, cada escola adotará uma praça e nela fará uma decoração natalina com materiais recicláveis.
Antes, lembra a coordenadora, a produção escolar ficava “confinada”. Agora, a cidade faz parte do currículo. “A gente pegou todas essas ideias no ar e fez com que conhecer o bairro, a associação de moradores, a feira, seja parte do currículo. Porque tudo isso é parte da formação e da vivência da cidadania”, relata.
Para aproximar ainda mais a família e a comunidade, um vídeo institucional foi feito apresentando o programa e um encontro foi marcado com instituições públicas e privadas para pensar como os diversos entes – indústrias, faculdades, comércio, museus – podem se articular com o território educativo, a partir de um mapeamento de Coronel Fabriciano.
Intersetorialidade
Mas não é só com a comunidade que o programa se relaciona. Por seu caráter interdisciplinar, ele aposta na intersetorialidade e age como um pólo aglutinador de secretarias. “A gente começa a pensar o estudante, a criança, o adolescente, como um sujeito integral que é atendido pelo Bolsa-família, pela Assistência Social, pela Saúde. Com a gestão compartilhada, conseguimos ter uma visão mais ampla do todo desse indivíduo.”
O Fórum Municipal da Saúde Mental da Criança representa bem esse esforço. Composto por professores, pedagogos, assistentes sociais, gestores de escola e articulado pela Educação, Assistência Social e Saúde, o órgão trabalha com problemas de aprendizagem de estudantes e questões psicológicas que surgem no ambiente escolar. “Isso tem ajudado os professores a entender melhor as crianças e tem nos auxiliado muito com as questões da educação inclusiva”, acredita Álen.
“A escola é frequentemente impactada pelos problemas sociais, uso de drogas, pela violência. Se a gente não fizer um movimento no qual Segurança, Direitos Humanos, Saúde estejam articuladas e atuantes, não conseguiremos resolver nossas principais questões. Acho que uma cidade que educa sabe da impotência da escola para resolver tudo, mas não abre mão do seu papel cidadão de acolhimento e transformação”, defende.
A gestora sabe que o projeto ainda tem muito que caminhar, mas espera em dez anos ter uma escola mais antenada com os problemas sociais e que compartilhe com a cidade e seus habitantes a responsabilidade pelos processos educativos. “Esperamos que o córrego que está sujo e passa atrás da escola seja matéria de sala de aula, e que a matéria de Ciências trabalhe para propor soluções. Que a escola intervenha nos espaços para melhorá-los e que a comunidade intervenha na escola para transformá-la”, conclui.