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publicado dia 21 de maio de 2018

Evento reúne práticas de educação formal e não formal que dialogam com a comunidade

Reportagem:

Escolas abertas à comunidade incidindo sobre o território com sarais e outras manifestações artísticas. Cursinhos populares que acreditam na autogestão para uma educação mais democrática. Educadoras e educadores que levam sua identidade de gênero e raça para o currículo.

Essas e outras práticas de educação formal e não formal foram discutidas no 5º Fórum do Espaço de Leitura Educação Viva, realizado pelo Espaço de Leitura entre os dias 17 e 19 de maio no Parque da Água Branca, em São Paulo.

Voltado para educadores, gestores e atores de espaços não formais, o fórum escolheu o tema “Educação Viva: ações sociopolíticas entre escola, educação não formal e comunidade” para debater questões identitárias, espaço público, dentre outros pontos, na perspectiva de ampliar o diálogo entre educação e o contexto sociopolítico do Brasil.

Em funcionamento desde 2010, o Espaço de Leitura é uma ação sociocultural e educativa que oferece ao cidadão – especialmente às crianças – acesso à literatura. Para isso, ocupa pontos espalhados ao longo do Parque da Água Branca.

A primeira mesa de discussão abordou como práticas de educação formal e não formal podem fortalecer o debate identitário de raça e gênero. Em sua fala, Marcos Felinto, mediador e produtor cultural, abordou o conceito de “autoridade da experiência”, cunhado pela escritora bell hooks.

“É possível usar as experiências subjetivas e sociais de grupos que estão no processo de construção de identidade – como mulheres, população LGBT, negros e indígenas – para constituir uma base de conhecimento que ofereça outro padrão de relações dentro da escola”, afirmou o educador.

Outro ponto levantado foi a necessidade de pensar a vida do educador e do educando e suas experiências individuais e em grupo enquanto currículo que pode fortalecer o multiculturalismo. Herbe de Souza, educadora especialista em direitos humanos da pessoa trans, trouxe sua experiência como mulher trans de repensar gênero dentro da sala de aula.

“A escola que eu quero é a escola que eu não tive. Uma escola onde não haja separações de gênero”, afirmou Herbe, que criou ao longo de seus anos de docência projetos transdisciplinares sobre gênero. Ela também reconfigurou o espaço lúdico escolar, tornando híbridas as brincadeiras geralmente segmentadas entre meninos e meninas.

três palestrantes em fileira
Da esquerda para a direita: educadores Marcos Felinto, Iracema Nascimento e Herbe de Souza, que integraram a mesa Questões Identitárias / Crédito: Espaço de Leitura

Autogestão e comunidade

No segundo dia, o fórum tratou de processos de autogestão da educação formal e não formal e seus impactos. Denise Perdigão, por quatro anos educadora do projeto Sala de Leitura, apresentou resultados de sua militância poética nas instituições onde atuou e contou como a literatura periférica tornou-se parte do currículo das escolas, modificando a relação entre escola e comunidade com a criação de saraus abertos.

A perspectiva do fazer político dos estudantes foi trazida pelo doutor em Sociologia, Osvaldo Souza, que possui pesquisas dedicadas ao movimento secundarista que ocupou escolas brasileiras – em especial Paraná, Goiás e São Paulo – nos anos de 2015 e 2016 contra o fechamento de escola e a reforma do Ensino Médio.

Osvaldo pontuou como a maior conquista do movimento, para além da revogação de decretos, quando os estudantes perceberam que é possível gerir o espaço educativo de forma democrática e articulada a movimentos sociais.

pessoas em roda assistem os palestrantes falando sobre gestão e autogestão
Representantes de espaços formais e não formais de educação/ Crédito: Espaço de Leitura

Mara Gabriela Martin, educadora da escola Pedro Fukuyei Yamaguchi Ferreira, por sua vez, destacou a importância da intersetorialidade ao relatar sua experiência de articulação no extremo leste da cidade. Para realizar projetos multidisciplinares e responsivos ao entorno, a escola mapeou a comunidade, dialogando com pais, espaços públicos como praças e parques e o comércio local.

Os resultados se expressaram em projetos como Sarau na Esquina, onde alunos levaram poesia para uma esquina próxima da escola, soltando enxertos poéticos em balões. Outro foi Meu Mundo e Eu no Mundo, que envolveu práticas como visitações a organizações locais e espaços públicos de democracia – como o Tribunal de Justiça de São Paulo – e realizações de projetos voltados ao eixo de direitos humanos.

“A escola é local de democracia e de tecer vínculos. Não é estratégia, é uma realidade. Toda vez que a comunidade está dentro da escola, decidindo de forma política e consciente, esse processo é bem mais fácil”, concluiu Mara.

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