Da Secretaria de Comunicação da UNB
Pesquisa do Instituto de Psicologia trouxe uma ideia inovadora para os estudos do relacionamento: que a dança poderia ser um instrumento valioso para diagnosticar eventuais disfunções afetivas na vida de um casal. No caso, o contato-improvisação, um gênero de dança contemporânea essencialmente livre, nascido da contracultura. Com a dissertação de mestrado Dança de casais: a relação conjugal à luz da socionomia e do contato-improvisação, a psicóloga Renata Ito propôs um exercício diagnóstico capaz de revelar mais do que as palavras: convidou dois casais a participarem de sessões de contato-improvisação, gravou as sessões e submeteu cada gravação à interpretação de três observadores – a da pesquisadora, a de uma contatista (especialista em contato-improvisação) e a do próprio casal. De entrevistas semi-dirigidas, colheu diagnósticos confirmados pelos casais que aceitaram servir de estudo de caso para a pesquisa.
Para o professor Paulo Bareicha, membro da banca examinadora e docente do Departamento de Teorias e Fundamentos da Faculdade de Educação da UnB, o pressuposto defendido pela mestranda – que o contato-improvisação poderia também oferecer indicadores de questões subjacentes na relação de um casal – é “verdadeiramente inovador”. “Eu nunca antes havia ouvido falar de terapia de casal diagnosticada por meio de uma dança contemporânea”, diz o professor, que toma posse nesta sexta-feira, 1º de fevereiro, como presidente da Federação Brasileira de Psicodrama (Febrap).
A tese de Renata é uma investigação qualitativa a partir do estudo de caso de dois casais específicos. Segundo o texto, após as sessões gravadas de contato-improvisação, cada casal assistiu ao seu próprio vídeo e “reagiu com comentários durante uma entrevista semi-dirigida reflexiva acerca do tema”. De acordo com a autora, a abordagem teórica usada para compreender o estudo foi a socionomia proposta por Jacob Levy Moreno, criador do psicodrama e pioneiro no estudo da terapia em grupo. A socionomia é a ciência das leis sociais que regem os pequenos grupos – desde um casal a grupos de 5 mil indivíduos, por exemplo. Inclui métodos de ação terapêutica, entre eles o psicodrama – tipo de psicoterapia em que a representação dramática é usada como abordagem e exploração da psiquê humana.
De acordo com o professor Paulo Bareicha, que trabalha com sociodramas ou “catarses de integração de bem–estar afetivo de grupos maiores”, o “estudo exploratório” foi bem-sucedido. “Com os dois casais estudados, a estudante verificou que, de fato, o contato-improvisação pode se tornar um instrumento diagnóstico, justamente pela característica do improviso”, diz.
De fato, o contato-improvisação sugere uma conversa espontânea entre corpos: ocorre de forma improvisada, mas consciente, trabalhando a queda e a sustentação física e a relação com o outro, como um jogo físico e silencioso de pergunta e resposta. Dessa liberdade, “a dança revela o modo de funcionamento da relação conjugal”, segundo a autora. Para ela, ainda que com certas reservas, “ficou evidente” que o contato-improvisação “expressa a dinâmica conjugal”.
Professor Bareicha explica que o psiquiatra J.L. Moreno usava a dança de forma muito diferente da proposta por Renata: ele se valia do que chamava de psicodança como técnica de aquecimento preparatória para o psicodrama.