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publicado dia 28 de agosto de 2013

Educação Integral no DF contempla anseios da comunidade

Reportagem:

O Centro de Ensino Fundamental (CEF) Arapoanga, localizado em Planaltina, no Distrito Federal (DF), não toca sirene há 11 anos. Em vez do repetitivo alarme, a escola toca música para sinalizar o fim das aulas. “Como o bairro onde estamos é muito violento, sempre tem sirene de polícia e ambulância. Nós não tocamos para o aluno não identificar com aquilo que vê na rua”, explica Jordenes Ferreira da Silva, diretor da escola.

O CEF Arapoanga é uma das 23 instituições de ensino do DF escolhidas para a implantação do Programa de Educação Integral em Tempo Integral (PROEITI). Desde o início de 2013, 6.831 estudantes são atendidos em 231 turmas pelo projeto da Secretaria de Educação do estado. Segundo Jeovany Machado, coordenador estadual de Educação Integral, a pasta pretende dobrar o número de escolas no PROEITI em 2014. Nessa primeira etapa, foram escolhidas escolas situadas nas regiões de maior vulnerabilidade social e com altos índices de violência.

“Durante a construção do projeto, houve reuniões com a comunidade para explicar sobre essa nova forma de atendimento, para que eles pudessem sugerir atividades interessantes para que os estudantes da região se aperfeiçoassem”, relata Machado.

Atividades externas

Além de ampliar a jornada escolar para 10 horas diárias, entendendo até mesmo o período de alimentação como tempo educativo, o PROEITI promoveu mudanças curriculares que articulam os saberes clássicos e os saberes locais com o projeto político-pedagógico de cada escola.

Aula de meio ambiente na Escola Classe Bucanhão, localizada em Brazlândia-DF

A grade horária das escolas não prevê o turno e contraturno tradicionais. “Ao longo do dia, o aluno tem várias aulas que entremeiam o currículo tradicional com a parte diversificada, com aulas de artes, meio ambiente e educação física”, afirma Andréia Rolemberg, diretora da Escola Classe (EC) Ipê, que atende a educação infantil e os primeiros anos do ensino fundamental.

Machado pontua que, por ter um tempo muito extenso, a educação integral não pode acontecer estritamente dentro do ambiente escolar. “Temos articulações intersetoriais garantindo que cada estudante tenha pelo menos duas atividades externas à escola por semana”, afirma. Para as crianças trabalharem com arte, ciência e esporte fora da escola, ele cita parcerias com centros de iniciação em educação física, centros olímpicos, pontos de cultura e escolas-parque.

Na EC Ipê, os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental vão três vezes por semana à Base Aérea de Brasília praticar futebol, natação e vôlei.

Jovem Educador

Na esteira da implementação do PROEITI, o governo do DF lançou em abril o Programa Jovem Educador, que selecionou 2,9 mil voluntários para dar suporte às atividades da educação integral. Cada escola pode contratar um jovem educador para cada 20 estudantes – o voluntário recebe bolsa mensal de R$ 462 para despesas com alimentação e transporte.

Para participar do programa, o jovem educador deve ter no mínimo 16 anos e estar matriculado em alguma universidade (pública ou privada) ou escola pública, caso seja estudante do ensino médio. Segundo Machado, o objetivo do programa é complementar a formação dos estudantes em áreas onde não há profissionais habilitados para tanto, como teatro, circo, balé, música, canto, caratê e língua estrangeira.

Lançamento do Programa Jovem Educador

“Nós pedimos às escolas para que elas contratem pessoas da comunidade para fazer esse trabalho diferenciado junto ao professor”, explica o coordenador.

Na EC Ipê, duas jovens educadoras foram contratadas – formadas em pedagogia, elas são mães de dois alunos da escola e auxiliam os docentes nas atividades internas e externas. Já o CEF Arapoanga não precisou contratar esses jovens. “Como nosso projeto foi previamente discutido, e não apenas implantado, conseguimos professores para cada área”, observa Jordenes.

Autonomia financeira

Segundo Machado, para complementar o aporte financeiro que chega através do programa federal Mais Educação, o PROEITI repassa cerca de R$ 40 mil para cada escola, somados a R$95 por aluno. “Nós procuramos dar autonomia financeira para as escolas se adaptarem de acordo com a realidade e as necessidades dela. Ela tem autonomia para fazer o que o grupo de estudantes decide”, afirma Machado.

No CEF Arapoanga, por exemplo, os alunos pediram mais aulas de língua estrangeira. A solução foi reduzir a carga horária de Educação Física para abrir espaço para aulas de espanhol. Para Jordenes, o Projeto Político Pedagógico das escolas deve estar pronto para aceitar esse tipo de demanda. “Talvez o nosso sucesso aconteça devido a um projeto que cumpre o anseio do professor, da comunidade e dos alunos”, comemora o também professor de biologia.

Formação

A formação dos 512 docentes que dão aulas no PROEITI é feita na Escola de Aperfeiçoamentos Institucionais de Educação do DF. Segundo o coordenador do programa, a formação desses professores aborda as concepções de educação integral, focando na mudança de perspectiva para além da ampliação da jornada escolar. “O docente precisa entender que o estudante permanecer mais tempo não significa necessariamente mais conteúdo, e sim mais oportunidades pedagógicas.”

Para Jordenes, o PROEITI só terá sucesso se os professores aceitarem o projeto. “Eles precisam participar do programa. Quando eles têm a oportunidade de conviver mais com o aluno, o rendimento melhora, independente de onde está escola, de quanto o professor ganha. O convívio com o docente desperta no aluno uma necessidade de desenvolvimento”, argumenta.

Os gestores educacionais são eleitos pela comunidade, e o programa prevê a existência de um coordenador pedagógico para cada oito turmas da escola. “Assim nós garantimos uma melhor distribuição das funções administrativas no espaço escolar”, afirma Machado.

Aulas de música também fazem parte do currículo diversificado do PROEITI

Resultados iniciais

Como o programa foi implantado no começo do ano, os dados escolares ainda não estão atualizados para avaliar a evolução do ensino nessas 23 escolas. Jeovany Machado, porém, garante que a evasão escolar – um dos maiores problemas antes do PROEITI, devido às distâncias entre casa e escola e ao fato de que a maioria dos pais no DF moram em uma cidade e trabalham em outra – está beirando o zero.

“A escola trouxe uma rede de melhorias ao bairro”, avalia Jordenis. Com o trabalho exercido no CEF Arapoanga, as companhias de água e energia elétrica de Brasília chegaram à comunidade no entorno da escola, e foram estabelecidos mecanismos para a sociedade se organizar [foi criada uma associação de costureiras, por exemplo]. “Começamos a alfabetizar os pais dos nossos alunos à noite, e eles puderam ajudar mais os filhos nas lições e também conseguiram empregos”, revela.

“A verdadeira escola dá asas, não impõe gaiolas”, conclui o diretor.

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