publicado dia 5 de junho de 2019
No Dia Mundial do Meio Ambiente, conheça escola sergipana que revitalizou área local
Reportagem: Redação
publicado dia 5 de junho de 2019
Reportagem: Redação
*Matéria publicada originalmente na Fundação Telefônica Vivo.
Durante as férias de janeiro, um grupo de alunos e professores se revezava para cuidar do mais novo xodó do Colégio Estadual Delmiro de Miranda: uma horta de 50 metros quadrados e 11 canteiros de onde saem coentro, alface, cebolinha e muitos outros alimentos direto para a merenda escolar.
A horta faz parte de um projeto ambiental que revitalizou toda a escola, localizada na cidade de Canindé de São Francisco (SE). A paisagem do sertão sergipano foi substituída por uma zona completamente arborizada. A aposta é que daqui uns anos, quando as árvores recém-plantadas começarem a crescer, a escola se torne um cinturão verde no meio da área urbana onde ela se localiza, numa confluência de alegria para os olhos, descanso para a mente e novos ares para os pulmões.
O carinho da equipe escolar é especial porque toda a mudança foi promovida pelos estudantes dos 2º e 3º anos do Ensino Médio, liderados pelas alunas Deysiane Souza de Lima e Ianara Mesquita da Silva, de 17 anos, e Tainara Moura dos Santos, de 18 anos. Com trabalho iniciado em agosto de 2018, os alunos pegaram na enxada, carregaram pedras e colocaram as mãos na terra para limpar o terreno ocioso, plantar as novas árvores e construir a horta.
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“Foi muito bonito ver todo mundo mobilizado e trabalhando junto”, relata a professora de sociologia Maria Nilza de Santana Ferreira, que fez parte do grupo de professores que orientou os estudantes e participou mais ativamente do projeto. “Todo mundo aprendeu com isso. Os professores viram que um projeto simples pode ser transformador e trazer muito aprendizado, os alunos descobriram que a união e a troca de ideias fazem milagres. Nossa escola ficou muito linda!”
O projeto na escola foi uma extensão de algo que começou na comunidade rural onde Deysiane, Ianara e Tainara moram, a 18 quilômetros da zona urbana. Elas são parte das 45 famílias – cerca de 300 pessoas – que vivem no assentamento Florestan Fernandes, onde os moradores vivem da agricultura. O problema é que a região enfrenta seca há seis anos.
A água só chega de caminhão-pipa, que costuma demorar de seis meses a um ano para passar na região. Nesse meio tempo, animais morriam de sede e as frutas e hortaliças não tinham seu melhor desempenho. “Meus avós contavam que antigamente tinha uma nascente por aqui. Só que era difícil de visualizar porque era só terra que enxergávamos”, conta Deysiane.
Recentemente, uma equipe técnica do Ministério do Meio Ambiente incluiu a região na estratégia chamada Urads (Unidades de Recuperação de Áreas Degradadas), que visa mitigar os efeitos da seca e neutralizar a degradação das terras do semiárido brasileiro. Com base nos relatos dos moradores e contando com o envolvimento de toda a comunidade, a equipe conseguiu escavar até desobstruir a nascente. A água reapareceu, foi encanada e a área da nascente, de 50 metros quadrados, foi cercada, reflorestada com plantas nativas e protegida como uma área de preservação permanente.
“A água foi canalizada e tratada para tirar o sal. Em pouco tempo já notamos uma recuperação da fauna e da flora. Pássaros que tinham sumido reapareceram”, explica Deysiane, que coordena grupos de escolas para que conheçam a nascente. A jovem explica que os caminhões-pipa logo não serão mais necessários e a comunidade vai voltar a conviver com a água.
Com o projeto, a comunidade se engajou em outras melhorias, como construção de cisternas para armazenamento de água da chuva e irrigação do plantio, construção de ecofogões para moradores e até a construção de uma casa para uma família que vivia numa moradia de barro.
Foi por causa dessa mobilização toda no assentamento onde moram que as três jovens decidiram estender o projeto para a recuperação de áreas degradadas da escola. A direção apoiou logo de início e as portas do colégio foram abertas para as famílias do assentamento. “Elas vieram nos ajudar. Sem a comunidade, não teríamos conseguido nada. Eles nos orientaram como fazer a horta, como proteger da luz solar, plantar de maneira adequada”, conta a professora Maria Nilza.
Boa parte da capacitação dos alunos foi feita na própria comunidade. “Não adianta a gente chegar com teoria na escola. Primeiro tínhamos que levar o colégio para a comunidade e depois fazer o movimento inverso. Por isso, levamos os alunos para ver, na prática, como se constrói uma horta. Muitos moram na cidade e não tinham a menor ideia de como mexer na terra”, explica Deysiane.
Escola modelo
No colégio, as estudantes realizaram palestras para sensibilizar cada vez mais alunos sobre a importância da recuperação e preservação do meio ambiente. Além do Ensino Médio, outras turmas também foram incentivadas a visitar o assentamento e se envolver nas ações. Agora a escola quer aumentar o projeto também para o Ensino Fundamental e equipar ainda mais a horta para que os alimentos excedentes possam ser comercializados na região.
A integração com a comunidade e as ações da escola chamaram a atenção do Ministério do Meio Ambiente, que, a partir dessa experiência, criou um programa derivado da Urad, chamada Urade (Unidade de Recuperação de Áreas Degradadas nas Escolas), que visa ampliar as ações de recuperação do paisagismo e construção de horta em outras escolas da região.
Além disso, o projeto de revitalização da escola e conservação do meio ambiente foi um dos premiados no Desafio Criativos da Escola 2018, promovido pelo Instituto Alana. A iniciativa celebra projetos protagonizados por crianças e jovens de todo o país que estão transformando as escolas, as comunidades e os municípios onde vivem.
“Quando nos inscrevemos, eu nem imaginei que de dois mil projetos de todo o Brasil, a gente seria um dos premiados. Ficamos muito felizes, até porque de onde eu venho, a gente gosta de compartilhar conhecimento”, diz a jovem Deysiane, que coordena um grupo de 23 jovens do assentamento onde mora. “Nós estamos sempre inovando, nos engajando em projetos tanto na escola como na comunidade, com foco no coletivo”.