publicado dia 27 de abril de 2018
Debate sobre extensão universitária mostra caminhos para territorializar a universidade
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 27 de abril de 2018
Reportagem: Cecília Garcia
Há 100 anos, irrompeu em uma cidade argentina um dos grandes movimentos por uma educação democrática. A Reforma Universitária de Córdoba (1918) reconfigurou o que seria uma universidade verdadeiramente latino-americana, quando estudantes tomaram a instituição reivindicando que se conectasse com o território, produzindo conhecimento com e a partir dele. Desde então, a extensão universitária se firmou como espaço de troca entre comunidade e academia. O termo “extensão” é dado a todas as atividades promovidas por uma instituição de Ensino Superior destinadas a sua interação com o entorno.
As atividades que compõem a extensão universitária ultrapassam o âmbito acadêmico e são abertas a todos. A extensão é garantida no artigo 207 da Constituição Federal Brasileira: “As universidades (…) obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.
É para fortalecer a extensão enquanto prática latino-americana que ocorrem as Jornadas de Exténsion del Mercosur. Em sua sexta edição, o encontro aconteceu de 24 a 27 de abril na cidade argentina de Tandil, comemorando um século da reforma universitária. A organização do evento é feita de forma conjunta por diversos atores do cenário acadêmico da América do Sul, como a Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires (UNCPBA), a Universidade de Passo Fundo (UPF) e a Associação de Universidades do Grupo Montevideo (AUGM).
“O debate da extensão universitária nos obriga a repensar de que forma podemos territorializar a universidade. Como articulamos as experiências educativas dentro do território e como os processos de aprendizagem que acontecem na academia ganham outros espaços quando atravessados por dinâmicas sociais”, explica Márcio Tascheto, professor da Faculdade de Educação da UPF e coordenador do programa UniverCidade Educadora.
Márcio foi um dos educadores brasileiros convidados a compor o painel O Direito à Educação na Cidade: Cidades que Educam. Junto a ele estavam Débora Mazza, diretora da Faculdade de Educação da UNICAMP (SP), e também convidados latino-americanos que aproximaram o debate da extensão universitária da cidade educadora.
Papel da universidade na cidade educadora
Desde 2011, a Universidade de Passo Fundo (UPF), localizada na cidade homônima do Rio Grande do Sul, se constitui como experiência bem-sucedida de costura entre o conhecimento tecido dentro da universidade e a comunidade que a circula.
O programa coordenado por Márcio, UniverCidade Educadora, debruça-se sobre questões do território como mobilidade urbana, serviços públicos e relação entre crianças e cidade. “A universidade dentro da América Latina tem um papel social muito importante, uma vez que aqui temos muitas questões em aberto, uma série de problemáticas sociais que precisam ser enfrentadas”, alerta.
A Associação Internacional de Cidades Educadoras (AICE) também esteve presente na jornada, fato que Márcio vê como um avanço importante no estreitamento da relação entre extensão universitária e o conceito de cidades educadoras.
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UniverCidade Educadora, em Passo Fundo (RS), dissemina integração entre conhecimento e território.
“O conhecimento produzido pelas cidades educadoras qualifica a forma de organizar a cidade em uma perspectiva educacional, criando estratégias para pensar o território. Isso casa com o movimento que a universidade vem fazendo de territorialização das suas práticas”, opinou Márcio.
Isso se torna especialmente relevante em um cenário que o professor chama de “disputa de futuro”, onde o avanço de pautas conservadoras força os diversos setores sociais a se mobilizarem para co-criar ações de enfrentamento ao desmonte de políticas públicas na América Latina.
“A onda conservadora latino-americana é um elemento desafiador na construção da agenda das cidades educadoras. Mas não podemos ficar reféns dessa conjuntura. Temos que continuar construindo, co-criando experiências sociais. As cidades educadoras podem ser uma das estratégias mais potentes para o enfrentamento dessas situações”.
Ilustração da capa pelo artista argentino Xul Solar