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publicado dia 15 de fevereiro de 2018

Artigo “Darcy no reino dos áulicos”, por José Pacheco

Reportagem:

Na obra “O Brasil Como Problema”, Darcy questionava: Qual é a causa real de nosso atraso e pobreza? Quem implantou esse sistema perverso e pervertido? E propunha um diagnóstico dos obstáculos cruciais, que a nação brasileira precisaria ultrapassar, para se desenvolver. Nesse livro, o maior dos obstáculos seria a nefasta ação de um certo tipo de intelectual: o áulico.

O áulico é um ajudante-de-ordens, aquele que está contente com o mundo tal qual é, e faz o seu papel. E o raciocínio do Darcy permanece atual. Ainda hoje, os áulicos prosperam, vivendo à sombra do poder, produzindo ideias irrelevantes, planos inconsequentes, ou contribuindo para destruir qualquer esboço de inovação educacional.

José Pacheco é fundador da Escola da Ponte, em Portugal. No Brasil, é colaborador do Projeto Âncora, em Cotia (São Paulo). É autor de diversas publicações no campo da educação, entre elas o livro Dicionário de Valores, disponível para download na plataforma Cidades Educadoras.

Identificamos dois tipos de áulicos: os ingênuos e os esquizofrênicos. Os primeiros controlam estruturas do poder público. Os outros infestam universidades e comissões de especialistas. Deixemos estes para próximo artigo e reflitamos sobre diatribes dos ingênuos.

A comunicação social, pródiga em notícias de maus tratos infligidos à Educação, diz-nos que áulicos vereadores enquistados no poder público reveem o Plano Municipal de Educação, aproveitando a oportunidade para o extirpar do que não lhes convém manter. A Meta 19 foi quase ignorada. Agora, suprimem a Meta 18, aquela que visa implementar a Educação em Direitos Humanos na Educação Básica, viabilizar ações de combate ao preconceito e discriminação no ambiente escolar. Em total impunidade, “ingênuos” vereadores não cumprem o Plano Nacional de Educação, contribuindo para negar o direito à educação a milhões de jovens brasileiros.

Nas escolas particulares, onde educação se converte em mercadoria, as novas tecnologias assumem-se como diferencial de mercado. Na ânsia de deter a queda da taxa de evasão e para melhorar a captação de alunos, ingênuos gestores recorrem a áulicas consultorias, especializadas no uso da tecnologia para atrair pais e para captar alunos.

O drama se repete nas escolas (ditas) públicas. Em mais uma manifestação de ingenuidade pedagógica e para fomentar o envolvimento das famílias na vida escolar dos filhos, uma secretaria de educação decidiu abrir concurso e acolher propostas de empresas especializadas em “mecanismos para motivar o aluno e em ferramentas para melhorar a gestão escolar (…) com o objetivo de aumentar a aprovação”. O regulamento do concurso estabelece que apenas poderão concorrer organizações que já tenham prestado serviços envolvendo um mínimo de 5.400 alunos. Mas, o que se poderá esperar de tais organizações, certamente altamente especializadas em projetos conduzidos por áulicos? Exatamente o que os áulicos autores de anteriores projetos produziram: o desperdício de mais alguns milhões.

O secretário da educação justifica a medida: A educação está anacrônica. O jovem pressente isso e foge. Buscamos alternativas para esse fracasso. Mas, o zeloso secretário insiste em anacrônicas medidas de política educativa.

Como diria o Frederico, no reino dos áulicos, reina a lisonja, a mentira, a ostentação, o usar máscaras, o fato de brincar de comediante diante dos outros e de si mesmo. Mas, a crise ética instalada também é tempo de oportunidades. E quase nada é mais inconcebível do que o aparecimento de um instinto de verdade honesto e puro. Oremos…

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