publicado dia 15 de abril de 2016
Crianças fazem caminhada contra Dengue no centro de São Paulo
Reportagem: Jessica Moreira
publicado dia 15 de abril de 2016
Reportagem: Jessica Moreira
Carregando cartazes com os dizeres “Fora Zika”, “Xô Dengue” e “Lixo não”, as crianças da Emei João Theodoro e CEI Dom Gastão saíram em caminhada por dentro do Parque da Luz (centro de SP), na manhã dessa sexta-feira (15/4), entoando o grito de guerra “Engue, engue, engue, Fora Dengue!”.
A menina Fátima, de 5 anos, foi uma das estudantes participantes. Ao chegar no parque, às 9h, já dançava e cantava a “mosquito feioso, mosquito feioso”, agitando os amigos, dizendo o que precisavam fazer para evitar a doença.“Tem que limpar a casa, colocar rede nas janelas e portas para o mosquito não entrar na nossa casa”. Quando as professoras perguntaram aos colegas sobre formas de prevenção, eles respondiam, sem titubear: “eu vou fazer isso que a Fátima falou ”.
“A atividade leva a criança a pensar que ela faz parte da sociedade e que, além de seus direitos, ela também possui deveres, trabalhando a autonomia moral, fazendo-os se sentirem parte de algo maior, que vá além da sala de aula ou de suas casas, mas que envolve toda a cidade, o país, o mundo”, apontou a coordenadora pedagógica da CEI Dom Gastão, Monica Lopes, uma das co-organizadoras da caminhada.
Além de um exercício de cidadania, a ação teve momentos lúdicos, foco do processo educativo com os pequenos. Apoiados por agentes de saúde da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Bom Retiro e professores, os estudantes participaram de brincadeiras como pega-pega utilizando máscaras que faziam alusão ao mosquito da Dengue.
Silvia Ruiz, coordenadora pedagógica da Emei João Theodoro, aponta que, ao sair da sala de aula, a criança pequena aprende a se relacionar e a ter noções de espaço que vão além das dimensões criadas pela escola. “Ao sair, os conceitos são mais interiorizados nas crianças, pois elas podem falar para outros ouvintes além daqueles da escola. Isso pode colaborar no ato de se expressar, assim como coordenação motora e expansão dos movimentos.”
A atividade, que trocou a sala pelo parque, foi um projeto coletivo pensado por diversos atores que da região, considerada uma das mais atingidas pelo vírus da dengue na capital paulista. O processo envolveu as escolas, agentes de saúde e estudantes de curso técnico de enfermagem do trabalho.
“A aprendizagem não se dá apenas na sala de aula ou com os professores. Ela precisa de mediação, e qualquer pessoa, objeto ou atividade podem ser mediadores, pois podem provocar a vontade de aprender nas crianças. Sair da escola e vir para cá é legitimar a aprendizagem. Os cartazes não cumprem apenas a função da escrita, mas sim uma função social”, apontou Monica.
O tema foi uma demanda trazida pelos próprios alunos, que começaram a solicitar mais informações a partir daquilo que ouviam dos pais. As escolas passaram então a fazer atividades lúdicas envolvendo a temática, como elaboração de desenhos, contação de histórias, entre outros.
No mês de março, as agentes do PAVs (Programa Ambientes Verdes e Saudáveis), em parceria com o Programa Saúde na Escola (PSE), realizaram também algumas ações. Além das atividades de educação ambiental que já realizam, como os jardins sensoriais, elas promoveram uma gincana que permitiu que as crianças vestissem luvas e detectassem possíveis focos de dengue no local.
“As crianças ensinam os adultos. O principal problema hoje é a falta de educação e orientação. A educação é fundamental e, em conjunto com a saúde, é possível avançar no cuidado com o meio onde se vive”, explica Patricia Torres, agente do PAVS.
Também preocupados com a disseminação da doença pelo bairro, os estudantes dos cursos técnicos de Enfermagem do Trabalho e Farmácia do Senac Tiradentes, em parceria com a Rede Social da unidade, realizaram uma exposição que explicava as doenças da Dengue, Zika e Chikungunya, no espaço do curso. A apresentação foi replicada dentro do Parque da Luz, despertando a curiosidade de quem passava pelo espaço, enquanto as crianças faziam a caminhada.
“É muito importante que a escola saia da estrutura tradicional. Os estudantes podem fixar melhor o conteúdo quando realizam atividades voltadas à população”, defende a coordenadora da especialização pós-técnica em Enfermagem de Trabalho do Senac Tiradentes.