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publicado dia 3 de outubro de 2013

Conheça a história do educador morto por fundar escola libertária

Reportagem:

Recital na Escola Moderna de Barcelona

“Os meninos e meninas terão uma liberdade insólita, farão exercícios, jogos e relaxamentos ao ar livre, insistiremos no equilíbrio com o entorno natural e com meio, na higiene pessoal e social, desaparecerão as provas, os prêmios e os castigos. Teremos especial atenção a questão da higiene e da saúde. Os estudantes visitarão centros de trabalho – as fábricas têxteis de Sabadell, especialmente – e farão excursões de exploração. As redações e os comentários dessas vivências por parte de seus protagonistas se converterá em um dos eixos da aprendizagem. E isso será levado também às famílias dos alunos, mediante a organização de conferências e debates dominicais”.

O trecho acima parece dizer respeito ao que entendemos hoje por educação integral, democrática ou libertária, mas foi proferido há mais de cem anos, pelo educador catalão Francisco Ferrer y Guardia em seu livro “La Escuela Moderna”, disponível aqui em espanhol.

Guardia, que foi executado após um julgamento notoriamente injusto há 104 anos, na Espanha, foi um pioneiros da educação libertária e fundou a Escola Moderna, que funcionou entre 1901 e 1909, ano de sua morte. Apesar de a condenação ter partido de uma falsa acusação sobre a participação do educador em um atentado, ela é atribuída principalmente ao seu trabalho educativo.

Considerada a primeira experiência de educação mista e laica em Barcelona, levantou grande antipatia do clero e de seus devotos por promover a igualdade. A escola buscava uma educação secular, racionalista e não coercitiva, visando o desenvolvimento integral do estudante.

Pensamento livre

Apesar de ter mensalidades, que restringiam a participação de crianças de classes populares, a ideia era que o próprio funcionamento da instituição englobasse filhos de trabalhadores, praticando a solidariedade ativa. Também havia uma busca por professores que entendiam que seu papel era de apoio e não de repressão.

A escola, que fomentava o pensamento livre e a não-competitividade, possuía um laboratório, um museu natural, uma biblioteca e buscava instalações bem iluminadas, além de publicar um boletim produzido por estudantes. Aulas e apresentações de teatro e até uma Universidade Popular para adultos também estavam no programa deste colégio, que formou centenas de alunos.

Crime de fundar escolas

Anatole France, presidente da Liga Internacional para a Educação Racional da Infância, organização cocriada por Ferrer, declarou na ocasião de sua morte que o crime do catalão “era ser republicano, socialista, livre pensador; seu crime foi ter criado o ensino laico em Barcelona, ensinado a milhares de meninos a moral independente; seu crime foi o de ter fundado escolas”.

A experiência de Ferrer não acabou com sua morte. Apenas em São Paulo, duas Escolas Modernas foram fundadas, em 1909 e 1913, por sindicalistas anarquistas. John Dewey, teórico da Nova Escola, também fundou uma em Nova Iorque, nos EUA. Dentre os pensadores influenciados pelo pensamento do catalão, destaca-se o educador brasileiro Paulo Freire.

Cassadas pelos governos da época, que acusavam as escolas modernas de “ninhos do anarquismo” e “escola de bandidos”, elas proliferaram pelo Brasil adotando novos nomes. Até 1920, foram fundadas pelo menos 30 escolas seguindo a mesma metodologia, no Rio de Janeiro, interior de São Paulo, Pará, Ceará, Rio Grande do Sul e Bahia.

Eventos resgatam memória do educador

A Biblioteca Terra Livre realizará duas atividades em outubro para lembrar os ensinamentos do educador catalão. No dia 6/10, domingo, 16h, será exibido o filme A Língua das Mariposas. Após o filme, haverá um debate sobre as influências do ensino racionalista no contexto da Revolução Espanhola. A atividade acontecerá na Casa Mafalda, localizada à Rua Clélia, 1895, Lapa, São Paulo.

No dia 13/10, aniversário da Morte de Ferrer, haverá um evento no Centro de Cultura Social de São Paulo, na rua General Jardim, 253, sala 22, às 17h. A iniciativa visa debater o legado do pensador a partir de jornais anarquistas da época, assim como textos e poesias de Ferrer e contará com a presença da doutoranda em educação Luciana Santos. A entrada é franca.

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