publicado dia 24 de outubro de 2016
Confira as práticas pedagógicas para a educação integral realizadas durante o SIEI 2016
Reportagem: Clipping
publicado dia 24 de outubro de 2016
Reportagem: Clipping
por Ana Luiza Basílio, do Centro de Referências em Educação Integral.
“Você sabia que a Praça Roosevelt já foi um velódromo? Que a Rua Maria Antônia foi palco da repressão pela ditadura nos anos 60? E que no bairro há uma seringueira de raízes enormes e córregos por debaixo das ruas?” Passo a passo essas informações iam se materializando entre o grupo que topou percorrer o território do centro da cidade de São Paulo sob mediação da arquiteta e urbanista Rayssa Fleury.
Durante a caminhada, a profissional incentivou as pessoas a resgatarem as memórias locais – a partir do uso de fotos, textos e mapas -, a exercitarem o olhar e a atenção para os espaços e a interagirem com pessoas desconhecidas, além de perceberem as sensações visuais, táticas e olfativas que o local gerava nelas.
“A memória é espacial. Ao propor que as pessoas saiam pelo território e o exercitem, a cartografia permite a criação e socialização de um outro mapa para um local que, num primeiro olhar, pode parecer árido”, comentou.
A oficina A cidade, o mapa e a lupa: cartografia no território como prática pedagógica, feita pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), foi uma das práticas pedagógicas realizadas durante o 2º Seminário Internacional Internacional de Educação Integral (SIEI) 2016 nos dias 19 e 20 de outubro, em São Paulo, que tiveram como objetivo mostrar aos docentes e gestores como a perspectiva da educação integral, em diálogo com as oportunidades do território, podem acontecer na prática cotidiana das escolas.
Educação integral e cidade educadora
A partir do reconhecimento de que a educação integral é uma estratégia em potencial para a melhoria da aprendizagem e redução das desigualdades, o seminário debateu a importância da inovação nas práticas pedagógicas para que todas as crianças, adolescentes e jovens tenham acesso a oportunidades educativas e adquiram repertório suficiente para fazerem suas escolhas de vida.
A discussão, no entanto, extrapolou os espaços escolares e se deu também no âmbito das cidades pelo entendimento de que elas podem compor o processo de ensino-aprendizagem como territórios educativos, considerando seus diversos tempos, espaços e agentes pedagógicos.
“Ao pesquisar e descobrir, os alunos se engajam mais no processo de aprendizagem; e o professor, por sua vez, quando se entende mediador, também passa a empoderá-los na busca pelo conhecimento”, Maria Antônia Goulart.
Foi essa relação que as práticas pedagógicas ofertadas durante o primeiro dia do seminário buscaram evidenciar. Orientadas pelas dimensões “Ensino-aprendizagem na cidade”, “Experimentação”, “Múltiplas interações”, “Letramento e cultura digital”, “Participação educativa da comunidade” e “Personalização”, as oficinas sensibilizaram para a necessidade de uma educação mais significativa, criativa e plural.
Maria Antonia Goulart, coordenadora-geral do Movimento Down, reconhece a importância das escolas circularem pelos espaços e instigarem outros percursos para além das salas de aula. Ela ainda entende que a experimentação é capaz de modificar a dinâmica escolar: “ao pesquisar e descobrir, os alunos se engajam mais no processo de ensino-aprendizagem; e o professor, por sua vez, quando se entende mediador, também passa a empoderá-los na busca pelo conhecimento”, colocou.
A relação entre escola e território também é o eixo estruturante da experiência educativa do município de Florida, na Colômbia. Durante o seminário, o diretor Anibal Bubu Ramos contou sobre o Projeto Educativo Comunitário (PEC) que implementou no território a partir das necessidades das comunidades indígenas, que ainda tinham parte de suas crianças fora da escola.
De responsabilidade de todos da comunidade – diretores, professores e famílias-, a proposta pedagógica – que chama de “tecido educativo” – é composta por uma malha curricular que tem como seus principais componentes o território, a jurisdição, a saúde, a economia e a espiritualidade. É a partir desse eixo central que se distribuem as 28 disciplinas presentes na matriz curricular.
As aprendizagens se dão em diálogo com o contexto local, buscam valorizar as práticas comuns àquele território – como plantio de café, verduras, manipulação de adubos, recuperação do solo e plantio de árvores frutíferas – e fortalecer o reconhecimento dessas identidades no campo. “Queremos que essas crianças estabeleçam laços com o território e que essa pessoas tenham condições de permanecerem no campo, hoje muito esvaziado em toda a América Latina”, apontou Bubu.
O projeto que começou em caráter piloto com 16 escolas no município hoje está em 56 unidades escolares ao todo, parte delas em outro Estado.
Confira fotos de algumas práticas pedagógicas realizadas durante o Siei 2016: