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publicado dia 21 de setembro de 2022

Como pensar uma cidade para as crianças?

Reportagem:

Como é a experiência das crianças nas cidades? Como elas ocupam (ou não) as ruas, praças e espaços públicos? Parte do dia-a-dia urbano, as crianças costumam ser pouco ouvidas nas decisões sobre o espaço. Difundir a potência das ações realizadas por elas e reforçar a importância da participação infantil na formulação de políticas públicas é objetivo do ciclo de seminários A Criança e a Cidade – Participação Infantil na Construção de Políticas Públicas.   

Parte do curso de aperfeiçoamento “A criança e a cidade: participação infantil na construção de políticas”, realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Infância e Educação Infantil (NEPEI) com apoio do grupo Territórios Educação Integral e Cidadania (TEIA) da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG), os quatro encontros iniciados em agosto são online e gratuitos e vão até novembro. Confira a programação completa 

O segundo encontro, realizado em 27 de setembro e disponível no YouTube, reuniu representantes do poder público e pesquisadores. O debate mais recente pode ser assistido na íntegra abaixo:   

A importância da escuta das crianças 

Entender o processo de urbanização, com a tomada das ruas pelos automóveis e a naturalização da velocidade do trânsito, é o ponto de partida para entender a exclusão de diferentes populações nas grandes cidades. É o que explica a arquiteta e urbanista Eveline Trevisan, coordenadora de sustentabilidade e meio ambiente da BHTrans, empresa responsável por gerenciar o planejamento e execução das políticas de mobilidade e trânsito em Belo Horizonte (MG). 

Há 30 anos inserida na gestão pública da capital mineira, a urbanista recuperou sua trajetória de ir até escolas públicas para falar da importância de se considerar o ponto de vista dos mais vulneráveis na cidade, que pode incluir, além das crianças, os idosos, pessoas com dificuldade de locomoção e ciclistas. 

Para ela, na hora de projetar intervenções ou desenhar políticas para a cidade, mais do que partir de ideias prontas, é essencial estar aberto para a escuta. “O que precisamos para compreender os processos de acolhimento ou de exclusão de uma região é ir absolutamente abertos e com uma escuta muito atenta”, explica. “Quem vai nos ajudar a dizer pra cidade que uma rua mais lenta é necessária? As crianças têm o entendimento da cidade, da rua que elas querem, do processo de exclusão que elas sofrem no dia a dia”, explica. 

Professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Márcia Gobbi explicou que é importante entender as crianças como produtoras do espaço urbano e defendeu a importância de um olhar interseccional para as infâncias. Isto é, uma reflexão que considere a raça, o gênero e a classe social desses sujeitos. 

As distintas experiências de infância, em suas múltiplas perspectivas de mobilidade, lazer ou acesso a direitos também embasaram a fala do arquiteto e professor da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Samy Lansky, que pontua que não se pode falar de “infância” no singular, mas considerar realidades plurais. 

“É preciso considerar que os contextos afetam completamente a experiência de infância, principalmente nas oportunidades desiguais. Como comparar uma infância num condomínio de classe média alta, em que a criança pouco pode circular fora dos muros, fora do carro, sem colocar os pés nas ruas ou muito confinadas a outro extremo de crianças que vivem muita vulnerabilidade nas ruas?”, questiona. 

Lansky pontua, no entanto, que, apesar das desigualdades sociais, a criança urbana, tanto das elites como das classes populares, sofrem do que ele chama de segregação: “A sua presença na rua não é bem vista e bem recebida socialmente”, define. 

 “Quando falamos de urbanidade é preciso pensar no território: se ele é popular, ocupação, indigena, urbano. Isso nos afeta totalmente, já que nossos modos de vida são estruturados a partir das condições apresentadas”, explica. 

E como o atual contexto de crise política, econômica e ambiental pode afetar as crianças nas cidades? E quais exemplos de resistência podemos encontrar? 

Para Eveline, a arquitetura e o urbanismo precisam estar a serviço da sociedade e a gestão pública precisa ter a participação popular. “Eu acredito cada vez mais na micro-intervenção e vejo pequenos movimentos de resistência como grandes potencialidades de transformação. Ocupações de uma rua ou de uma pequena praça”, descreve ela. Em Belo Horizonte, por exemplo, houve a criação de ruas de zona 30, nas quais a velocidade dos carros é limitada para coibir acidentes. A política contou com a consulta de crianças e escolas do entorno no seu desenho. “Foi um processo poderoso, que ajudou a quebrar a resistência [em torno do tema]”, relata ela. 

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