publicado dia 23 de maio de 2025
Com juventudes no centro, pesquisa aborda efeitos da crise climática no Brasil
Reportagem: Nataly Simões | Edição: Tory Helena
publicado dia 23 de maio de 2025
Reportagem: Nataly Simões | Edição: Tory Helena
Resumo: Os resultados da pesquisa Adolescentes, Jovens e Mudanças Climáticas no Brasil, realizada pelo Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (CIESPI/PUC-RJ), foram apresentados em evento em São Paulo (SP) no dia 21 de maio. O estudo inédito se debruça sobre a percepção das novas gerações sobre a emergência climática e seus efeitos. Confira.
O que as novas gerações pensam sobre as mudanças climáticas? Essa é uma das perguntas que a pesquisa Adolescentes, Jovens e Mudanças Climáticas no Brasil se propôs a responder a partir da escuta de 200 estudantes de 12 a 18 anos, de escolas públicas e privadas em 10 capitais.
A pesquisa foi realizada pelo Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (CIESPI/PUC-RJ), com o apoio da Fundação José Luiz Setúbal e Nova Institute, e parceria da Cidade Escola Aprendiz, por meio do programa Educação e Território.
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Os resultados do estudo foram apresentados e discutidos em evento nesta quarta-feira (21 de maio) na sede da UMAPAZ – Coordenação de Educação Ambiental e Cultura de Paz, Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz, em São Paulo (SP). Entre os participantes estavam representantes de diferentes organizações da sociedade civil que compõem o ecossistema de defesa dos direitos de crianças e adolescentes e de educação ambiental.
Descobertas da pesquisa
Entre as principais descobertas da pesquisa está a de que 99,5% dos jovens já ouviram falar sobre mudanças climáticas e 90% estão preocupados com seus efeitos, sobretudo em relação ao futuro.
Outro dado revelado no estudo diz respeito à saúde emocional dos adolescentes — 68,5% dos entrevistados sentem ansiedade, medo ou insegurança diante da emergência climática.
“Cerca de metade da população do mundo está abaixo dos 25 anos. São populações jovens e que estão crescendo com uma ansiedade muito grande e insegurança em relação ao seu futuro”, afirmou a professora da PUC-RJ Irene Rizzini, diretora do CIESPI e coordenadora da pesquisa.
A pesquisa também evidencia as falhas do sistema educacional brasileiro no ensinamento sobre mudanças climáticas. Embora 71,5% dos entrevistados afirmem ter aprendido alguma coisa sobre o tema na escola, uma parcela de mais de 25% relatou não estudar nada no momento ou nunca ter aprendido.
Ainda assim, o estudo conclui que o ambiente escolar é a principal referência do tema para os jovens e que, apesar do conhecimento limitado, existe um potencial para engajamento das novas gerações no assunto.
“Nossa pesquisa mostra claramente que os jovens têm uma noção ainda muito vaga sobre o tema, tem muita ansiedade justamente em relação ao futuro e gostariam, mas não estão conectados a ações para contribuir. A melhor maneira de lidar com o medo é estar envolvido e ter condições de contribuir”, resume Irene.
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O que a sociedade ganha com o estudo?
Após a apresentação dos resultados da pesquisa, os participantes do evento foram convidados a contar suas impressões sobre os dados levantados pelo estudo.
“Mudanças climáticas é um tema muito complexo e trata-se de uma realidade que os jovens estão começando a aprender e eles têm uma carga de responsabilidade enorme. Saber quais são as lacunas e suas angústias nos ajuda a entender como podemos atuar e gerar impacto nas escolas e nas comunidades. A pesquisa contribui muito para sermos mais assertivos”, apontou o gestor ambiental Fábio Kinker, coordenador local do Programa Ambientes Verdes e Saudáveis (PAVS), da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.
Para a pedagoga Ketlin Santos, educadora do coletivo Encrespades e do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (IBEAC), os jovens podem contribuir, inclusive, na construção das ações que visem a justiça climática.
“Assim como todos os sujeitos adultos e idosos, as crianças e os jovens também precisam estar nas tomadas de decisões, refletindo e trazendo propostas para melhorias e combate ao racismo ambiental. É muito importante estarmos dentro das escolas, que é esse lugar de base para a Educação, mas temos que envolver também os jovens em ações práticas”, pontuou.
O estudo realizado pelo CIESPI-PUCRJ pode embasar também o trabalho desenvolvido por iniciativas como o Escolas pelo Clima, movimento que une escolas públicas e privadas de todo o Brasil engajadas na criação de ações para o enfrentamento da emergência climática. Atualmente, a iniciativa conta com 1.300 escolas signatárias.
“A gente precisa desse tipo de produção de conhecimento para confirmar nossas hipóteses e para entender quais são os gargalos. Quando o nosso movimento surgiu, em 2020, percebemos que falar sobre mudanças climáticas em muitos espaços era complexo e não era feito com a devida qualidade e tempo”, relatou a especialista em educação ambiental Livia Ribeiro.
Por fim, o evento contou com uma atividade que desafiou os participantes a trocarem experiências a partir das seguintes perguntas: Quais os desafios para ampliar a participação e o engajamento dos jovens? Quais estratégias podem ser adotadas para assegurar práticas de educação ambiental e climática mais sistêmicas, integradas e participativas? Quais recomendações às políticas públicas podem ser apresentadas com base na pesquisa?
Entre as ideias e trocas, ficaram em destaque pontos como a necessidade de garantir espaços para discutir mudanças climáticas com os jovens, o estabelecimento de comunicações capazes de dialogar as realidades das juventudes nos territórios, além do fortalecimento do repertório sobre o tema nos currículos escolares.
Para conferir na íntegra a pesquisa Adolescentes, jovens e mudanças climáticas no Brasil, acesse aqui.