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publicado dia 9 de outubro de 2015

Bairro-Escola Rio Vermelho funda território educativo no coração de Salvador

Reportagem:

Educação, coletividade, respeito, convivência, comunicação e transformação. São estes os seis princípios que guiam a atuação do Bairro-Escola Rio Vermelho (BERV), iniciativa que vem utilizando o potencial educativo que existe nas ruas de um dos bairros mais conhecidos de Salvador para desenvolver uma aprendizagem inovadora nas escolas na região.

Desde 2012, o Bairro-Escola mobiliza – para além das instituições de ensino –, moradores, artistas, associações, pequenos e grandes empresários, pesquisadores e poder público nessa caminhada em busca de uma Cidade Educadora.

Três anos após a sua criação, um balanço geral realizado no início de setembro mostrou que os feitos do BERV não são poucos. Ao firmar parceria com sete escolas públicas, o projeto já envolveu cerca de 1.800 estudantes em trilhas educativas (metodologia que incorpora os saberes locais no currículo escolar) pelo Rio Vermelho, promoveu formação continuada para 246 profissionais da educação e ofertou nada menos que 65 oportunidades educativas no território. As ações também incluem a elaboração coletiva de um projeto para a Praça Monsenhor Antônio da Rocha Vieira, mais conhecida como Praça do Pôr do Sol.

Bairro Escola utiliza o potencial educativo que existe nas ruas de uma das regiões mais conhecidas da capital baiana.
Crianças participam de atividade de leitura na Praça Pau Brasil.

Esta reportagem foi produzida em parceria com o Centro de Referências em Educação Integral. Para saber o papel das escolas no território educativo do Rio Vermelho, leia a matéria Após três anos, Bairro-Escola Rio Vermelho reflete sobre suas articulações comunitárias.

“De porta em porta, batendo perna no Rio Vermelho, fomos identificando os possíveis parceiros, que vão desde a Colônia dos Pescadores até a Paróquia Sant’Ana”, relembra Fernanda Colaço, que faz parte da coordenação técnica do BERV, feita em parceria entre a Cipó – Comunicação Interativa, o Instituto Inspirare e a Associação Cidade Escola Aprendiz.

O mapeamento educativo do território estabeleceu parcerias com inúmeros equipamentos, como a Biblioteca Juracy Magalhães Junior, a Casa de Jorge Amado, o Teatro SESI e a Sala de Arte da Bahia, entre outros. Restaurantes, bares e cafés também compõem o cenário educativo, assim como instituições públicas, como a Secretaria de Educação e a Polícia Militar.

Em setembro de 2014, foi constituída uma Comissão Gestora do BERV. Formada por nove membros, a Comissão ficou com a tarefa de planejar o processo de construção coletiva de um Plano Educativo Local, partindo de um diagnóstico sobre a educação das escolas parceiras e da cultura, meio ambiente, segurança pública e rede de atenção do Rio Vermelho.

Moradora do bairro desde a década de 60, Lucia Menezes conhece como poucos as calçadas, esquinas e espaços públicos da região. “Minha história muitas vezes se confunde com a trajetória do bairro”, aponta Lucia, uma das integrantes da Comissão Gestora, que se reúne mensalmente em locais itinerantes. As decisões, porém, são tomadas de forma democrática e participativa em reuniões do Grupo Ampliado, dando espaço para todos os equipamentos envolvidos no BERV.

Lucia vê semelhanças entre o Rio Vermelho e a Vila Madalena, bairro paulistano onde foi realizada a experiência matriz de Bairro-Escola. “Mantendo as proporções, aqui também existe uma característica boemia, artística e cultural, com muitos restaurantes, bares, galerias de arte e espaços de convivência. Enfim, a escolha por um lugar pulsante do ponto de vista da vida urbana.”

De acordo com Fernanda, o BERV viu no espaço público “o lugar fundamental de ressignificação como espaço de aprendizagem.” Próxima ao Colégio Estadual Manoel Devoto, a Praça Pau Brasil tem recebido atividades, entre elas, a inauguração de uma pequena biblioteca comunitária, customizada por um artista plástico local, que promove a troca de livros em espaços públicos. Na rua da Paciência, uma sucessão de grafites foi mapeada pelos estudantes do Colégio Estadual Alfredo Magalhães e, claro, virou tema da aula de Linguagens Artísticas.

Bairro Escola utiliza o potencial educativo que existe nas ruas de uma das regiões mais conhecidas da capital baiana.
Estudantes trabalham com paredes grafitadas no Rio Vermelho.

A terceira edição do Festival Bairro-Escola Rio Vermelho acontece no dia 23/10 (sexta-feira), das 8h ao meio dia, na Praça Pau Brasil. Rodas de conversas, jogos, contação de histórias, brincadeiras tradicionais, apresentações e oficinas estão na programação do evento.

Lucia também faz parte do coletivo cultural Palhaços do Rio Vermelho, que desde a década de 80 leva a alegria dos arlequins para o carnaval de rua soteropolitano – desde que o trio elétrico não tenha cordas para separar quem pagou ou não o abadá. Hoje, o grupo participa das atividades do BERV, maquiando as crianças e divertindo-as com pernas de pau, malabarismos, perucas coloridas e nariz vermelho. Uma exibição dos Palhaços no Teatro SESI, um dos parceiros locais, deu a oportunidade para muitas crianças e famílias conhecerem um espaço de apresentação artística.

“Sem dúvida há um novo olhar da escola para a cidade. Quando você vai numa praça, num museu, percebe que a ocupação popular está aumentando. A escola está começando a se apoderar do território e se integrando com ele”, define Lucia.

Diretora do Teatro SESI, Rosa Villas Boas acredita que as ações do BERV resultam em uma maior integração entre as pessoas – não só moradores, mas também empresários do bairro. “Os jovens se sentem mais participantes, conhecem mais gente, sabem onde estão os equipamentos educativos”, observa.

Bairro Escola utiliza o potencial educativo que existe nas ruas de uma das regiões mais conhecidas da capital baiana.
Crianças realizam apresentações artísticas nos equipamentos culturais do bairro.

O local abre seu espaço para os estudantes apresentarem seus trabalhos, além de permitir seu acesso à espetáculos de cultura na área de dança, teatro e música. “A cultura e a diversidade do Rio Vermelho são fatores essencias para a ampliação do conhecimento desses jovens, do que eles pensam da vida e do mundo.”

Outro equipamento que aderiu à iniciativa, a Biblioteca Juracy Magalhães Jr. promove contações de histórias, oficinas literárias e apresentações artísticas em praça pública. Maria José Leal, responsável pelas exposições e programação do espaço, elogia o que chama de ‘processo de revitalização’. “Tem ajudado muito a adquirir conhecimento e fazer as várias culturas que existem no bairro interagirem.”

Articulação Intersetorial

Como a segurança pública sempre foi uma questão latente nas reuniões ampliadas do BERV, foi estabelecida uma parceria com a 12ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM). Além de apoio policial para o trajeto das crianças e jovens pelo bairro e até mesmo o empréstimo de ônibus para o deslocamento delas, a PM já ofereceu uma aula pública sobre Educação Ambiental, realizada no Parque Metropolitano de Pituaçu.

Também ajudou a construir um seminário sobre exploração sexual infantil, organizado em meio a Copa do Mundo de 2014. “A ideia sempre foi ampliar a imagem da corporação no que tange à filosofia de polícia comunitária, da qual a 12ª CIPM é signatária”, aponta o tenente Aílson Carvalho. “Diante da multidisciplinariedade proposta pelo Plano Educativo Local, podemos dizer que os resultados alcançados foram a quebra do paradigma de que a polícia é uma força inimiga.”

Bairro Escola utiliza o potencial educativo que existe nas ruas de uma das regiões mais conhecidas da capital baiana.
Comunidade também participa das ações do BERV.

O sucesso da empreitada é tanto que o BERV está inspirando outros territórios a adotarem práticas educativas semelhantes. Em parceria com a Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), será replicado o diagnóstico participativo no bairro da Federação. No início de setembro, a UFBA, a Cipó e o Inspirare assinaram um protocolo de intenções de cooperação técnica que pretende criar as bases para a implementação do Bairro-Universidade Federação.

Além disso, outros cinco territórios se mostraram interessados em replicar a metodologia do BERV: os bairros de Pituaçu e Liberdade, na capital baiana, e três cidades do estado, como Jequié, Camaçari e Santo Antônio de Jesus.

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