publicado dia 16 de dezembro de 2019
Ato em Paraisópolis (SP) exalta cultura e educação contra perseguição ao funk
Reportagem: Cecília Garcia
publicado dia 16 de dezembro de 2019
Reportagem: Cecília Garcia
Nas ladeiras de Paraisópolis (SP), o trompete entoava em alternância dois funks populares: Rap do Silva (MC Bob Rum) e o Rap da Felicidade (Cidinho e Doca), músicas que celebram o funk brasileiro e também denunciam à violência e o estigma sofrido pelo ritmo.
Foi com rimas e batuques que a “Marcha Contra o Genocídio da População da População Negra e Periférica” tomou as ruas de Paraisópolis (SP) no último sábado (14), em protesto contra a morte de nove jovens em truculenta ação policial no baile funk Ds7, há duas semanas.
Leia +: Criminalização do funk revela preconceito e discriminação contra as periferias
O ato começou às 17h na rua Ernest Renan, uma das vias principais de Paraisópolis, e terminou por volta das 21h com uma passeata que serpenteou a comunidade.
Articulada por movimentos sociais e culturais locais, como a Batalha de Paraisópolis e o coletivo Anarcoletiva, a manifestação misturou apresentações de rap, falas de lideranças comunitárias e chamadas para que os moradores participasse.m Faixas também foram penduradas, pedindo o fim da violência na região.
“Paraisópolis é uma comunidade com mais de 50 anos. Foi das umas responsáveis pela construção da cidade de São Paulo e sempre passou por pressão policial e do Estado, muito sentida no samba, no candomblé, na capoeira e com a molecada do baile funk”, declarou o rapper Igo Ngo.
“A molecada dessa comunidade consegue pressionar esse estado, consegue reunir todo fim de semana mais de 5 mil pessoas e quando a gente faz isso, a gente treina o sistema porque eles têm medo. Quando nosso povo se organiza, eles estão ligados que é perigo.”
Quem chegou em Paraisópolis para a manifestação se viu diante de duas cenas antagônicas e que sintetizam a disputa de narrativas que acontecem em territórios das inúmeras periferias brasileiras: nas ruas do entorno do bairro, policiais empunhavam fuzis; no meio do protesto, jovens seguravam livros junto com as faixas que pediam pelo fim da violência.
O rapper brasiliense GOG, que apresentou um pequeno show durante a manifestação, relembrou a importância da educação: “Paulo Freire dizia que o opressor vive na consciência do oprimido, e enquanto isso acontecer, essas cenas de violência serão recorrentes. A gente tem que entender que se a guerra é preta, a estratégia tem que ser quilombola, e isso passa pela educação.”
Um dos pioneiros na cena de rap e na construção de um pensamento sobre as diferentes periferias do Brasil, GOG ainda defendeu a cultura, uma das agendas que mais tem sofrido cortes em 2019:
“Educação sem cultura é treinamento, adestramento. Não defendo a bandeira da educação somente, e sim da cultura. O Estado foi feito para manter o estado da coisa. Não foi feito para transformar a coisa, isso é papel nosso.”
Em entrevista à Ponte Jornalismo a moradora Maria Betânia Ferreira Mendonça, falou sobre a questão da importância da juventude estar ali para protestar, seja fazendo funk, seja reivindicando por seus direitos.
“A gente tem que acordar, principalmente a juventude, a juventude não é o futuro, a juventude é hoje, temos que fazer agora, pois amanhã pode ser as nossas crianças. O jovem tem que lutar, pedir por paz, por melhores condições de vida, por uma educação digna, por uma saúde digna.”