publicado dia 1 de julho de 2013
Artista vira boi no metrô para questionar superlotação do transporte público
Reportagem: Pedro Nogueira
publicado dia 1 de julho de 2013
Reportagem: Pedro Nogueira
Quem nunca fez baldeação na estação da Sé às 18h da tarde talvez não entenda, mas a intervenção de Bruno Garibaldi, artista paulistano de 26 anos, coloca os cornos pra coçar de quem já está cansado dessa vida de gado.
O vídeo “Tem Boi na Linha”, revela as experiências de Bruno no Metrô de São Paulo. Vestido com uma cabeça de boi, durante o período de luta salarial dos metroviários em 2011, ele arrancou suspiros, exclamações, apoio, risadas e olhares curiosos dos usuários do transporte público.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=GNwtb5ZAFXo[/youtube]
O lançamento do vídeo na internet não poderia vir em momento mais propício: enquanto milhões de brasileiros saem do aperto do transporte público e dos engarrafamentos para debater, de pé e nas ruas, a cidade e os meios de locomoção que querem.
Conversamos brevemente com Bruno para saber como foi esse “assalto” no cotidiano dos usuários do Metrô. Confira:
Portal Aprendiz: Como surgiu a ideia do projeto?
Bruno Garibaldi: Minha ideia era catalogar e registrar as histórias que se passam no metrô e criar uma imagem para uma história que eu captei. Desde pesquisa em achados e perdidos, histórias de personagens, ouvir conversas. Queria uma imagem que correspondesse a sensação das pessoas. Aí eu reparei que sempre se ouve no metrô falando “nossa, parece que a gente é boi” e usei isso como ponto de partida.
Aprendiz: E o lançamento, por que agora?
Garibaldi: Lancei agora por conta do contexto, estava esperando acabar a pesquisa, mas com as manifestações isso estava pedindo para sair da caixa e causar uma reflexão na galera. E é bom, porque a pauta ganhou muito mais visibilidade e força. Saiu de um plano utópico e ficou algo mais palpável. As pessoas indo para as ruas conseguiram transformar a tarifa e suas cabeças. Agora são gados manifestantes.
Aprendiz: E como foi a vida de gado?
Garibaldi: Foi impactante a possibilidade de criar um evento, um incidente no cotidiano das pessoas. Ele pode ser visto como uma brincadeira, algo cômico, mas é muito forte, quebra a relação das pessoas com o espaço do metrô. Depois que elas viram um boi no dia a dia, com certeza chegaram em casa e comentaram com a família, refletiram. O boi é uma metáfora das pessoas que estão ali e faz parte do povo que está ali. Me interessa criar uma identidade para a condição das pessoas.
Aprendiz: O metrô de São Paulo geralmente não permite que se façam imagens dentro das estações e vagões. Como você se virou com isso?
Garibaldi: Eu até pensei em pedir autorização, mas vi que seria complicado e limitado. Resolvi tomar de assalto e acho que foi muito mais coerente com o trabalho. Já que estava tomando de assalto o cotidiano porque não fazê-lo com a instituição? Alguns funcionários falavam que não podia, outros faziam vista grossa e davam risada. Os policiais ficaram perplexos com a situação e não sabiam como reagir. Tiraram o chapéu, coçaram a cabeça.
Crédito das imagens: Victor Ribeiro (vídeo) e Gustavo Morita (foto)
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