publicado dia 24 de agosto de 2017
App sobre jardins de Burle Marx aproxima população do patrimônio de Recife
Reportagem: Nana Soares
publicado dia 24 de agosto de 2017
Reportagem: Nana Soares
Formas sinuosas, espaços contemplativos, vegetação nativa. Essas são algumas das características dos jardins de Burle Marx, um dos principais arquitetos e paisagistas da história brasileira. Em 85 anos de vida, há marcas deixadas por ele em diferentes cidades brasileiras, entre elas, Recife, onde morou por cinco anos.
Para resgatar esse episódio da história e promover a valorização do patrimônio local, o produtor cultural Sandro Lins desenvolveu o aplicativo Patrimônio PE Mobile, lançado no início de agosto. O dispositivo contempla 12 praças de Recife projetadas por Burle Marx e reúne informações e dados históricos sobre seus jardins e as temáticas, levantadas pelas professoras Julieta Leite e Ana Rita de Sá Carneiro, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Os espaços escolhidos foram: Praça Faria Neves, Praça de Casa forte, Praça Salgado filho, Jardim da Capela da Jaqueira, Praça Artur Oscar (mais conhecida como Praça do Arsenal), Praça Chora Menino, Praça Dezessete, Praça da República, Jardim do Palácio das Princesas, Praça Maciel Pinheiro e Praça Euclides da Cunha. Dessas praças, seis já foram tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e outras seis estão passando por reformas para poder entrar em processo de tombamento.
Essa é a segunda versão do app, que em 2013 foi lançado com apoio do Funcultura de Pernambuco, abordando outros 12 patrimônios materiais de Recife e Olinda (como a casa de Gilberto Freyre, igrejas e sinagogas). Foi a partir da iniciativa piloto que Sandro Lins viu necessidade de criar um aplicativo focado na obra de Burle Marx. “Ele está para o nosso paisagismo assim como o Niemeyer está para nossa arquitetura”, justifica.
Para Sandro, é crucial que a população, especialmente a mais jovem, entenda esses espaços como seus e, consequentemente, zele por eles. Em sua visão, a ausência desse sentimento é um dos motivos para as constantes reformas de patrimônios depredados ou mal conservados.
“Os mais velhos têm história nas praças, facilmente contam algo relacionado àquele lugar, o que não acontece com os mais jovens, em geral. Se o jovem não sente que aquele equipamento é dele, se não convive, usa e se apodera do espaço, a relação não será a mesma”, defende Lins. “Costumo dizer que careta não é o turista que tira selfies nesses jardins reconhecidos internacionalmente. Careta é frequentar o lugar e não entendê-lo, não conhecê-lo.”
Educação Patrimonial
A vocação educativa do aplicativo é intensamente valorizada pela equipe que o desenvolveu. “É uma ferramenta gratuita e com muita informação, muito fácil de trabalhar nas escolas. Esperamos que desde cedo os alunos entrem em contato com esse conceito de preservação do que é nosso”, declara Lins.
Embora seja focado no público local, qualquer pessoa pode baixar o Patrimônio PE Mobile e aprender sobre os jardins. O app é gratuito para Android e IOS e está disponível também em inglês, francês e espanhol, além de ter uma versão acessível para pessoas com deficiência.
Lins projeta recontar outros patrimônios em aplicativos. “Tenho mais projetos na fila, Pernambuco tem um vasto território a ser explorado, como as igrejas centenárias e os fortes de Fernando de Noronha, e nas palestras de lançamento da iniciativa percebo que outras cidades têm carência desse tipo de trabalho”, argumenta.
Burle Marx e Recife
Roberto Burle Marx foi um dos mais importantes e influentes arquitetos-paisagistas do século 20. Nasceu em São Paulo, mas tinha intensa ligação com Pernambuco, estado natal de sua mãe. Morou em Recife entre 1934 e 1939 e, como diretor de Parques e Jardins do Departamento de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (1935-37), projetou um conjunto de jardins públicos que fazia parte de um plano de aformoseamento do Recife e foram elevados à categoria de Jardins Históricos da Cidade pela prefeitura, em 2015. Burle Marx deixou mais de 50 obras no estado, sendo cerca de 20 praças.