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publicado dia 25 de março de 2014

Após transformação radical, Bogotá vive nova crise de mobilidade

Reportagem:

Conhecido mundialmente pela revolução que causou na mobilidade urbana de Bogotá, capital da Colômbia, o Sistema TransMilenio de transporte público atravessa um momento turbulento em sua breve história.

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Inaugurado em 2000, o sistema de BRT (Bus Rapid Transit, ou Trânsito Rápido de Ônibus) transformou a até então caótica mobilidade urbana da cidade ao introduzir longos corredores exclusivos para a circulação de ônibus articulados e biarticulados, com o objetivo de conectar pontos extremos de Bogotá.

Sistema TransMilenio impactou a mobilidade urbana de Bogotá | Crédito: EMBARQ Brasil

De lá para cá, 12 corredores foram construídos – em um total de 112 quilômetros exclusivos para o TransMilenio, 143 estações e quase 1.400 ônibus –, transportando cerca de quatro milhões de passageiros por dia. Inspirado na rede integrada de transporte de Curitiba, o TransMilenio rapidamente se transformou no maior sistema de BRT do mundo e ajudou a desafogar o trânsito da capital colombiana.

Déficit

Entretanto, desde o início do ano, usuários do sistema vêm bloqueando o acesso a estações, em protesto contra o mau funcionamento do serviço público. Os passageiros reclamam de superlotação e atrasos dos ônibus, além da falta de segurança durante as viagens.

Atualmente, Bogotá possui 7,7 milhões de habitantes; nos anos 1950, esse número não ultrapassava 650 mil. | Crédito: Street Travel Art

Para a ex-diretora do Instituto de Desenvolvimento Urbano e atual conselheira de Bogotá (cargo similar ao de um vereador), Maria Fernanda Rojas, a atual crise do sistema foi deflagrada pela falta de planejamento, atraso na execução de obras e decisões políticas erradas. “Em 2014 deveríamos ter 388 quilômetros de corredores, mas a obra está atrasada. Isso explica parte do déficit que vemos”, analisa Rojas. “Hoje o desafio está na aprovação dos recursos para esses projetos urgentes. Além do mais, a classe política de Bogotá tende a achar que a solução da mobilidade tem que ser apenas uma – metrô ou TransMilenio –, mas o transporte precisa ser intermodal”, afirma.

Maria Fernanda Rojas participou da conferência A cidade e o Jovem, realizada na última quinta-feira (20/3), em São Paulo, que teve o objetivo de debater como as cidades do futuro devem estar mais preparadas para as novas gerações.

Conflitos

Rojas resgatou a história do planejamento urbano de Bogotá para explicar os motivos da crise de mobilidade que a cidade voltou a viver. Em 1950, a cidade tinha 647 mil habitantes e, à época, projeções mostravam que esse número atingiria dois milhões no ano 2000. Resultado: na virada do milênio a capital colombiana tinha uma população de 6,3 milhões de pessoas. “Houve uma grande migração interna devido à violência crescente no campo colombiano”, aponta Rojas. “Isso causou conflitos de mobilidade em Bogotá – e muitos outros também.”

E, se nos anos 50 a cidade contava com apenas 100 ônibus circulando pelas ruas, esse número chegou a 20.500 veículos em 1996, levando quase 5,8 milhões de passageiros. Rojas relembra as ruas tomadas pelo trânsito caótico dos ônibus. “Como responder a isso? Criamos planos de desenvolvimento e ordenamento territorial, além de projetos para o fortalecimento institucional e o saneamento das finanças”, explica. As ciclovias também fizeram parte da solução – atualmente há 313 quilômetros de vias exclusivas para bicicletas em Bogotá.

Uso de bicicletas é estimulado na capital colombiana. | Crédito: DaseinDesign

Intermodal

Segundo a conselheira, a solução para a crise passa pela necessidade de se estabelecer um sistema intermodal de transportes, onde os usuários tenham várias opções para se locomover. O estímulo ao uso das bicicletas e a construção de uma rede metroviária fazem parte do plano, além de teleféricos nas regiões montanhosas da cidade. “Bogotá é uma das poucas cidades com mais de quatro milhões de habitantes que não tem metrô. Costumo falar que o metrô de Londres tem 150 anos de funcionamento, enquanto o de Bogotá tem 100 anos de estudo”, brinca Rojas.

Enquanto o sistema de mobilidade urbana não se diversifica, Bogotá viu a frota de carros crescer exponencialmente nos últimos anos: de 500 mil veículos em 2002 para 1,5 milhão em 2012.

Rojas acredita na transformação da cultura automobilística e individualista, que faz muitas pessoas escolherem o carro mesmo sabendo que haverá congestionamento para chegar ao destino. “Esse conceito está mudando aos poucos. Depende de como nós avançaremos nos projetos.”

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