publicado dia 5 de fevereiro de 2018
Aplicativo valoriza cultura afro-brasileira ensinando língua kimbundu
Reportagem: Redação
publicado dia 5 de fevereiro de 2018
Reportagem: Redação
Por Thais Paiva, do Centro de Referências em Educação Integral
O que os termos moleque, cafuné, ginga, marimbondo, fubá e canjica têm em comum? Essas palavras e tantas outras do repertório linguístico dos brasileiros têm origem no kimbundu, língua falada em Angola, pertencente à família bantu.
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Escavar as raízes destes “empréstimos lexicais” e entrar em contanto com o kimbundu é trazer à tona a história e identidade deste povo e, consequentemente, valorizar sua contribuição para cultura afro-brasileira. É desta premissa que parte o aplicativo gratuito Alfabantu que propõe ensinar a língua angolana para as crianças.
“Como professores da rede, percebemos que havia ainda muito dificuldade sobre como praticar a Lei 10.639/03 nas escolas [que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana]. Quase sempre a abordagem que se fazia era por meio da questão religiosa, mas não ia muito além disso”, conta a professora e socióloga Odara Dèlé, idealizadora do app ao lado do historiador Edson Pereira.
Da constatação, surgiu a ideia de criar a ferramenta, lançada em novembro do ano passado. “A ideia não era fazer um aplicativo de tradução, mas algo que proporcionasse a aprendizagem por meio da brincadeira, de forma interativa e que enfatizasse essa contribuição kimbundu e bantu”, conta. “Como os alunos passam muito tempo em seus celulares, o formato app pareceu oportuno”, acrescenta Odara.
Como funciona
O app se assemelha a um jogo e é composto por um glossário formado por diversas palavras, o alfabeto kimbundu, números, saudações, partes do corpo, nomes de animais e ainda um quiz pensado como estratégia de memorização das palavras.
No Alfabantu, as palavras em kimbundu são apresentadas, acompanhadas de sua tradução para o português, pronúncia e uma ilustração. “O áudio permite esse outro conhecimento, pois a pronúncia, mesmo das palavras incorporadas pelo português brasileiro, é diferente. O kimbundu é uma língua mais nasalada”.
Com o auxílio da tecnologia, é possível elaborar planos de aula que deem conta, por exemplo, de apresentar o continente africano sem estereótipos, contemplando toda sua diversidade étnica-cultural. “Ainda se tem essa falsa ideia de que a África é um país só, mas o continente é muito múltiplo e diverso. E explorar suas línguas é um caminho para essa descoberta”, aponta Odara.