publicado dia 7 de janeiro de 2019
7 projetos que remodelam a relação entre cidades e pessoas
Reportagem: Redação
publicado dia 7 de janeiro de 2019
Reportagem: Redação
“A cidade se apresenta centro das ambições / para mendigos ou ricos e outras armações / Coletivos, automóveis, motos e metrôs / Trabalhadores, patrões, policiais e camelôs / A cidade não para, a cidade só cresce / O de cima sobe e o debaixo desce”.
Expressas pela poesia de Chico Science & Nação Zumbi, as contradições da relação entre cidades e pessoas – de ordem social, econômica e ambiental – são sentidas na pele por 84% dos brasileiros, que moram na zona urbana segundo o último censo. Até 2030, mais de 90% da população estará vivendo em cidades.
Neste caldeirão de pessoas e culturas em que fervilha uma expansão desordenada, tem muita gente engajada em repensar a maneira como nos relacionamos com a selva de pedra, buscando torná-la mais democrática e amistosa.
Conheça sete empreendimentos que promovem essa reflexão!
Pode parecer mentira, mas o município de São Paulo tem mais de 300 rios catalogados, segundo o IBGE. E há outros tantos ainda a serem desbravados. “Em qualquer parte da cidade, você está a 300 metros de um rio ou de um curso de rio, mesmo que ele esteja invisível”, define o geógrafo Luiz de Campos Júnior, que ao lado do arquiteto José Bueno é idealizador do Rios e Ruas.
Eles promovem uma expedição a pé pela cidade para conhecer as águas que correm pelas sarjetas, embaixo do asfalto ou a céu aberto. Durante a caminhada informativa, os guias prezam pela construção da afetividade como um meio de conectar os participantes à hidrografia escondida.
“As pessoas acham que depois de enterrados os rios morrem, mas na verdade eles estão lá. Muitas vezes em condições precárias, com lixos, mas todo o dia está brotando água limpa das nascentes”, explica Luiz, para quem a disseminação de conhecimento e o apelo emocional podem gerar pressão social para a criação de políticas públicas que zelem pela hidrografia da cidade. “A nossa intenção é que as pessoas saiam das expedições considerando que o problema dos rios também é delas”.
Uma formiga apenas faz pouca coisa, mas é força indispensável de um formigueiro. Formigar também é verbo que pressupõe ação, que faz a gente se mexer para sair do desconfortável. Essas duas ideias explicam o trabalho do Formiga-me, criado em 2015 pelas jornalistas Carmen Guerreiro e Fernanda Carpegiani, em parceria com o designer Luciano Arnold.
A iniciativa atua pela promoção de cidades que façam sentido para pessoas. São diversas frentes, como produção de conteúdo, palestras e oficinas de sensibilização. A criação de mapas colaborativos, como o que fizeram para a Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, e um guia diferente do bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, estão entre as ações mais recentes.
“Quando você quer mudar o mundo todo, você se frustra. Então nós trabalhamos nessa escala do pequeno e do coletivo. O que você pode fazer hoje? Como você vive na cidade, no bairro, na rua, de forma que as transforme num lugar melhor? Nós dizemos às pessoas que é possível”, explica Fernanda.
Apesar de pouco contadas, as histórias protagonizadas por negras e negros estão por toda a cidade de São Paulo. Recuperar essa memória histórica é uma das ações da rede Diaspora.Black, voltada para a valorização da cultura negra.
Todas as sextas-feiras, às 15h, é organizado um tour por lugares emblemáticos, como o bairro da Liberdade, reduto negro nos séculos XVIII e XIX, e o Largo do Arouche. Durante o trajeto, os guias contam as histórias dos espaços e trazem também personagens importantes, como a escritora Carolina Maria de Jesus e o jornalista, poeta e patrono da abolição Luiz Gama. Você pode encontrar ingressos e outras informações sobre a Caminhada São Paulo Negra pelo site do roteiro.
Já o aplicativo Sampa Negra, pensado por Isabella Santos, elabora o mapeamento afetivo da história negra de São Paulo e redondezas. “A ideia é que a gente consiga ressaltar o papel da população negra na constituição da cidade e da nossa cultura e também recontar histórias que a gente já conhece, mas questionando algumas coisas. A figura do bandeirante, por exemplo, sabemos que não é nenhum herói”, contou Isabella, no episódio Empreender é pra mim? , do Pense Grande Podcast.
A capital pernambucana é conhecida por suas belas praias e pela efervescência tecnológica e cultural, mas como é a visão dos próprios recifenses?
Para promover a valorização dos espaços públicos, da gastronomia e da cultura entre os moradores da cidade, cinco estudantes de arquitetura da Universidade Federal e Pernambuco (UFPE) criaram o Oxê, minha cidade é massa!, que dá dicas de locais escondidos, conta histórias de moradores e realizam atividades de restauração de alguns dos cartões postais de Recife.
“Temos uma cultura muito rica. Queremos brincar com expressões populares, exaltar a culinária e livrar os cidadãos dessa espécie de miopia urbana que impede de enxergar o que a cidade tem de bom”, disse ao G1uma das criadoras, Larissa Garrido.
Ao lado de Manaus-AM, Belém-PA é a capital menos arborizada do Brasil, fato que motivou o engenheiro agrônomo de São Paulo Daniel Oliveira a tirar do papel uma ideia que gestou com muito carinho.
Ao se mudar para a capital paraense, criou o Verde Cidadão, que usa agricultura urbana, englobando produção de alimentos e plantas medicinais, arborização e paisagismo, para revitalizar espaços, praças, centros culturais e empresariais.
“Além dos vasos customizados e recicláveis, trabalhamos com a disseminação de conteúdo através de aulas, oficinas e palestras. Realizamos projetos de áreas verdes para pequenos e grandes espaços”, conta Daniel. A ideia central é recuperar a biodiversidade, promover ganhos como redução de poluição sonora e de partículas sólidas no ar, aumento da fauna e maior captação de CO2. Isso também muda a interação entre cidades e pessoas.
“Nós queremos provocar nas pessoas outra relação com a cidade, a natureza e com a alimentação”, resume o engenheiro.
Também de Belém-PA, o Laboratório da Cidade repensa a dinâmica entre cidades e pessoas por meio de valores democráticos, humanos e sustentáveis. A ideia surgiu do arquiteto e urbanista Lucas Nassar que, após uma temporada nos Estados Unidos, quis importar a cultura de participação da sociedade civil no desenho de políticas públicas.
Lançado oficialmente em 2017, o projeto já tem 300 voluntários cadastrados dispostos a criar soluções coletivas. Daí surgiu o parklet na Avenida Brás de Aguiar, que desloca o protagonismo dos carros para as pessoas, e o projeto Se essa Rua Fosse Tua?, que convida moradores do centro histórico a realizar atividades como ioga, oficinas de criação de hortas, ensinar a andar de bicicleta ou simplesmente sentar e bater um papo.
“Nossas ações visam recuperar o sentido do espaço público. Fazer com que a população reflita sobre o poder desses espaços na construção do sentido de comunidade, do sentido público do espaço e da cidade”, descreve a arquiteta e urbanista, também integrante do coletivo, Luna Bibas.
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