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publicado dia 13 de agosto de 2014

3ª edição da “É da Nossa Conta!” é lançada para articular a sociedade contra o trabalho infantil

Reportagem:

Por Ana Luísa Vieira, Fernanda Portela e Yuri Kiddo,do Promenino

Ao som de clássicos do forró e da MPB, o sanfoneiro Renan Mendes, nascido no pequeno município de Uauá, no sertão baiano, recepcionou mais de 300 convidados da terceira edição da campanha É da Nossa Conta!, iniciativa daFundação Telefônica Vivo, e correalização do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), e da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O evento aconteceu nessa terça-feira (12), na cidade de Juazeiro (BA).

Na plateia, além dos organizadores, crianças, adolescentes, professores, especialistas sociais e representantes da comunidade local estavam reunidos para debater a questão do trabalho infantil. “Em primeiro lugar, devo reforçar nosso agradecimento a cada um que está aqui hoje. Essa campanha é para vocês”, afirmou a presidente e diretora da Fundação Telefônica Vivo, Gabriella Bighetti. “Não podemos nos esquecer da urgência do tema trabalho infantil.”

O encontro, de cinco horas, manteve em foco a educação como uma das alternativas ao trabalho infantil. Em pauta, outros temas igualmente urgentes, como a Lei de Aprendizagem e a fiscalização do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA). Trata-se de uma ação imprescindível para mobilizar a sociedade civil e o governo, a fim de que o Brasil cumpra sua meta de erradicar as piores formas de trabalho infantil até 2020.

“Essa campanha não é feita apenas dentro de casa, só com os parceiros. É uma campanha colaborativa, desenhada com a sociedade – e, nesta terceira edição, conta com atores sociais do Semiárido brasileiro”, informa Gabriella. A proposta, de acordo com ela, é a de ser uma campanha participativa, recheada de ideias, conceitos e ações de mobilização nos territórios de atuação.

No coração do Semiárido

Juazeiro, cidade com 214.748 mil habitantes – população estimada de 2013 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – foi o município escolhido para sediar o evento, que aconteceu no Centro de Cultura João Gilberto – espaço que leva o nome do compositor baiano, pioneiro da bossa nova, um dos filhos famosos de Juazeiro.

Nesta terceira edição, o foco da campanha É da Nossa Conta! está no Semiárido, também conhecido como Sertão, e tem como objetivo mobilizar parceiros, governo e sociedade com ações específicas, voltadas às famílias, empregadores e jovens. Uma das principais ideias é conscientizar empregadores sobre a ilegalidade do trabalho infantil e o incentivo ao trabalho adolescente protegido. A campanha este ano pretende alcançar 280 municípios, mobilizando mais de 80 mil famílias. Por meio das redes sociais (Twitter Facebook) pretende-se sensibilizar 35 milhões de internautas.

“A criança precisa crescer descobrindo a possibilidade de brincar, de estar livre e de estudar. Precisamos trabalhar para combater o trabalho infantil. Esse problema é uma aflição verdadeira para a nossa sociedade. Precisamos de mais pessoas somando”, afirma Gilberto Gil, um dos apoiadores da campanha, durante o vídeo institucional que arrancou aplausos da plateia.

Parcerias e conversas

A secretária de Desenvolvimento e Igualdade Social de Juazeiro, Célia Regina Carvalho (que representou o prefeito Isaac Carvalho), contou o quanto é difícil conversar com os pais quando se pede para que o filho vá à escola sem oferecer-lhes contrapartida de trabalho ou renda. “Temos oportunizado cursos de formação profissional aos pais para que seus filhos possam frequentar a escola”, diz. Célia relembra que 26 mil famílias em Juazeiro são atendidas pelo Bolsa Família e, com isso, “98% das crianças cujas famílias recebem o programa de transferência de renda do governo têm atendimento escolar. E agradecemos o apoio da Fundação Telefônica.”

A opinião é compartilhada pela mestre de cerimônias do encontro, Rita Batista. “A campanha é fruto de uma ação coletiva e colaborativa, comprometida com a causa dos direitos das crianças e adolescentes.” A chefe do Programa de Proteção do Unicef no Brasil, Casimira Benge, reforça a opinião. “Para o Unicef é uma grande alegria nos associarmos à campanha e aos seus parceiros”, afirma. Ela explica que o Unicef atua no Brasil há 50 anos e que “a situação do trabalho infantil é muito preocupante, ainda mais no Semiárido. Prevenir e combater o trabalho infantil é responsabilidade de todos, do poder público à sociedade civil. É da nossa conta, sim. Temos de lutar para que os direitos das crianças sejam realizados”, ressalta.

Marco zero

De acordo com Francisco de Assis Santiago Júnior, gestor da ONG Aldeias Infantis SOS Brasil, 12 de agosto de 2014 é uma data emblemática. “Trata-se de um marco zero para o início das pré-campanhas regionais nas quais as instituições atuarão na campanha, que reverberará em nosso país”, assegura.

Na mesma linha de pensamento, a gerente da Área da Infância e Adolescência da Fundação Telefônica Vivo, Patrícia Santin, frisa que é preciso ter várias estratégias para combater o trabalho infantil. “Lugar de criança e de adolescente é na escola, por isso também criamos o Projeto Se Liga Aí!, para capacitar adolescentes a mobilizar suas comunidades”.

De acordo com Patrícia, todo cuidado é necessário para “cuidar de quem cuida das crianças e adolescentes”, ampliando a maneira de estudar e olhar para o assunto. “Podem existir formas que não conhecemos para enfrentar o trabalho infantil. O que podemos fazer de diferente? Será que é possível inovar?”, questiona. “Não podemos ficar parados, temos de estimular as pessoas.”

O objetivo desta edição do É da Nossa Conta! é produzir e divulgar as ações nacionalmente, bem como articular com as representações locais, estimulando alternativas de proteção ao trabalho infantil. “Queremos também promover a prática do trabalho adolescente protegido”, explica Patrícia. Segundo Francis Helen, coordenadora de Projetos do Instituto da Infância (Ifan), nessa ação todas as ONGs parceiras seguirão respeitando as especificidades de cada um dos territórios atendidos.

Luciano Simões, coordenador executivo da Cipó – Comunicação Interativa, organização responsável pela coordenação da campanha, pensa da mesma forma e complementa destacando sobre a importância da Lei de Aprendizagem. “Essa lei reconhece que existe demanda do adolescente para ingressar no ambiente de trabalho e se qualificar, mas trata-se de um processo formativo. Há critérios que devem ser associados a uma metodologia de formação, formação para além do instrumental do trabalho”, avalia.

A grande questão, para Simões, é desnaturalizar que alguns possuem direitos, por terem mais oportunidades financeiras, e outros não. “É a mesma consciência de direitos. As empresas contam, de maneira muito parecida, como é enriquecedor receber os jovens para o processo formativo, são aprendizes com postura, que trazem referência de ideias, de entusiasmo, o que mobiliza bastante o processo empresarial”.

Criatividade e roda de prosa

Para enfrentar o trabalho infantil e conscientizar as comunidades do Semiárido, valem os tipos mais criativos de divulgação e panfletagem. Entre eles estão a Motocada (uma parceria com mototaxistas em Codó, no Maranhão, realizada pela Plan Internacional Brasil) e a Anuncicleta, em diversos municípios, por meio de bicicletas com autofalantes são divulgadas mensagens da campanha para a população: “Criança tem direito de brincar, de estudar e de ser cuidada pela comunidade. Trabalho infantil não ajuda nossos meninos e meninas. A escola está em primeiro lugar. ‘Você aí com menos de 14 anos, psiu, já para a escola!’, alerta.

Para encerrrar o encontro, o público do auditório foi convidado a participar de três debates.  No primeiro, com o tema “Crianças e jovens vivendo a infância”, meninos e meninas citaram a influência dos pais ao optar em trabalhar ou não. “Meus pais disseram que, se o trabalho não atrapalhasse meus estudos, eu poderia trabalhar, mas desde que não deixasse a escola, pois a melhor forma de vencer na vida é estudar. Precisamos enfrentar esses desafios. Estar na escola é muito importante. O vínculo familiar me ajudou muito nessa decisão”, diz o jovem Eduardo Freitas da Silva, coordenador de campo do Projeto Compromisso Vivo do Instituto da Infância (Ifan).

Já na segunda conversa, “Mais famílias cuidando, mais crianças estudando”, uma mãe compartilha sua experiência. “É muito duro para gente que é mãe ver seu filho trabalhando. ‘Ah, tá trabalhando perto de casa, sentadinho, não machuca, ganha o dinheirinho dele, tá bom’. Não é por aí. Qual adolescente não quer seu dinheirinho no bolso? Você se perde achando que ele está 100% feliz e não está. Tenho três filhos, dois adolescentes, nunca deixei trabalhar, mesmo com o pouco conhecimento que eu tinha sobre o assunto. Hoje, um dos meus filhos tem trabalho assistido. Somos muito agradecidos por essa oportunidade. É sempre bom dividir isso com as pessoas”, conclui Patrícia Soares.

O terceiro e último debate, “Mais pessoas agindo, mais crianças estudando: Lei de Aprendizagem”, teve a presença de educadores sociais, jovens aprendizes, parceiros locais e pais. Levantou-se a questão dos dois lados da moeda, do empregador e do aprendiz, e que no final das contas mais se ganha com a aprendizagem. “Você entra com 14 de idade, trabalha quatro horas por dia, desde que não atrapalhe sua escola. Eles ensinam como se portar na vida pessoal e profissional, ajudam nas questões sociais, como o trabalho infantil. Gosto muito, me ajuda bastante. Se eu não tivesse fazendo isso, estaria trabalhando”, diz Anderson Silva, jovem aprendiz e integrante do MJPOP (Monitoramento Jovem de Políticas Públicas).

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