publicado dia 2 de setembro de 2025
Publicado dia 2 de setembro de 2025
Adultização
🗒️Resumo: Entenda o que é adultização, sua relação com o uso das redes sociais e como esse processo se relaciona com a violação de direitos de crianças e adolescentes.
Define-se “adultização ” como um processo decorrente da exposição precoce de crianças e adolescentes a conteúdos, comportamentos, responsabilidades ou padrões estéticos típicos da idade adulta.
No Brasil, o termo adultização ganhou visibilidade após um vídeo publicado pelo influenciador Felca em agosto de 2024, que já soma 49 milhões de visualizações no YouTube.
Nele, o influenciador denunciou canais em plataformas de redes sociais que veiculam vídeos de crianças e adolescentes em situações inadequadas para a idade ou vexatórias.
O que é a adultização
A adultização pode acontecer de forma direta, quando há incentivo explícito a essas práticas, ou indireta, por meio da exposição constante a referências e valores que antecipam etapas da vida.

A adultização precoce é também uma forma de exploração infantil, pois envolve o uso da imagem, do corpo e da vivência de crianças para gerar lucro, audiência ou atender interesses comerciais e de entretenimento, frequentemente sem considerar seu bem-estar ou respeitar direitos adquiridos.
Adultização e redes sociais
A adultização precoce ganhou novos formatos e turbinou sua visibilidade com a expansão do uso das redes sociais. No ambiente digital, o alcance de conteúdos com essas características foi turbinado por meio de algoritmos e de estratégias de monetização, já que o atual funcionamento das redes sociais prioriza conteúdos com alto potencial de engajamento, sem discriminar se são prejudiciais ao desenvolvimento infanto-juvenil.
Estima-se que conteúdos sexualizados são até 10 vezes mais recomendados pelas plataformas do que conteúdos comuns.

Entre os exemplos de vídeos com situações de adultização, podemos destacar a atuação de crianças e adolescentes influenciadores, a promoção de jogos de azar, perfis e canais de famílias influenciadoras, além de vídeos em que crianças e adolescentes aparecem em situações sexualizadas, incluindo coreografias, desafios e encenações com conotação sexual.
PL 2628: Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para o meio digital
Na esteira da repercussão do caso, da mobilização da sociedade civil engajada na defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes e da pressão da sociedade, o tema ganhou espaço no Congresso Nacional.
Leia Mais
- PL contra a Adultização avança e é aprovado pelo Congresso
- PL contra a Adultização: Câmara aprova regras para proteção de crianças nas redes
Em poucas semanas, os parlamentares aprovaram o PL 2628/22 (também chamado de ECA Digital ou PL contra a Adultização), que cria regras para limitar os casos e garantir a proteção de menores de idade no ambiente digital.

Com 16 capítulos e 41 artigos, o PL reforça a proteção integral promovida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e busca enfrentar os novos desafios colocados pelo ambiente digital. Entre eles, a exposição e indução de comportamentos sexualizados por menores de idade, risco de exploração sexual, violência, bullying e publicidade predatória.
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção de crianças e de adolescentes em ambientes digitais e aplica-se a todo produto ou serviço de tecnologia da informação direcionado a crianças e a adolescentes no País ou de acesso provável por eles, independentemente de sua localização, desenvolvimento, fabricação, oferta, comercialização e operação.
A nova legislação prevê, entre outros pontos, a remoção imediata de conteúdos relacionados a abuso ou exploração infantil com notificação às autoridades, além da adoção de ferramentas de controle parental e verificação de idade dos usuários.
Adultização: supressão da infância e trabalho infantil
O advogado Ariel de Castro Alves define a adultização como a exposição de crianças e adolescentes a conteúdos e situações inadequadas para a idade, maturidade e desenvolvimento infanto-juvenil.
“Essa adultização é uma forma de supressão da infância que resulta em consequências para a vida das crianças e dos adolescentes como traumas e sequelas pelo processo de violação de direitos fundamentais”, explica o ex-secretário nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério dos Direitos Humanos e ex-presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda).
Atual membro da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da OAB, Ariel destaca ainda a violação do direito ao brincar como outra situação em que ocorre a adultização precoce.

“No passado, as crianças brincavam de ser adultos, brincavam de casinha com amigos, e isso era saudável. Agora, as crianças se comportam, muitas vezes, como adultos, estão diante de conteúdos de violência e pornografia infantil e até sendo submetidas à exploração do trabalho infantil”, afirma.
Em geral associado a atividades como vender produtos nas ruas ou contextos rurais, o trabalho infantil também engloba situações de adultização na Internet.
Nelas, crianças e adolescentes são coagidos, induzidos ou obrigados a gravar conteúdos para o meio digital, com o objetivo de monetizá-los.
“Há casos de pais e mães que deixam seus trabalhos formais para o tempo todo gravar vídeos com os filhos e lucrar com essas situações”, conta Ariel de Castro.