Medellín (Colômbia)
Publicado dia 20 de setembro de 2016
Publicado dia 20 de setembro de 2016
Para o arquiteto colombiano Felipe Uribe, é necessário perguntar sempre o que será feito com a brincadeira das crianças ao pensar o espaço urbano, convidando-as para brincar nele. “A contemporaneidade demanda que nós entendamos que a criança é parte fundamental da cidade. Nossas praças foram feitas para fazer negócios, fumar, tomar café, para passear. E isso é parte de uma cultura masculina de planejamento público que precisa acabar.” Uribe, um dos fundadores do escritório UdeB, foi responsável pelos ousados desenhos de cidade, que ajudaram a transformar a cara de Medellín. Antes uma cidade governada pelo medo e campo de batalha da guerra às drogas, a capital do estado de Antioquia hoje se orgulha em ser “a cidade mais educadora”. Em seu planejamento urbano na última década, Medellín foi dividida em distritos de ciência e tecnologia, comunicações, natureza e tecnologia limpa. A partir disso, o desenvolvimento de novos espaços foi sendo ordenado.
Para o arquiteto, tudo começou com a construção, entre 1998 e 2000, da praça dos Pés Descalços, um espaço público para pausar, despertar sensações e trazer famílias e crianças para brincar. Nele, as pessoas são convidadas a tirar os sapatos e andar pelas diversas superfícies presentes. Como Medellín está no centro de um vale, cortada por um rio de mesmo nome, Uribe resolveu trazer espelhos d’água e fontes para crianças brincarem, reforçando sua concepção de cidade como um conjunto de itinerários tanto espontâneos como desenhados, contrapondo-se aos que querem ver a cidade sem pessoas, como algo limpo e ideal. “As pessoas são a matéria prima do espaço público. São elas que o tornam infinito.”
Foi justamente na medida do infinito que o próximo projeto se deu. Convidado a reformar o planetário de Medellín, o arquiteto resolveu trazê-lo para fora. “Se você pode deitar numa praça e olhar as estrelas, ninguém vai acreditar que essa cidade é violenta.” Com isso em mente, começou a surgir o Parque de Los Deseos (Parque dos Desejos), que congrega o Planetário, uma ampla praça e uma casa da música, que abriga projetos sociais e orquestras infantis do bairro, além de ficar na vizinhança do Jardim Botânico, do museu interativo Parque Explora, do metrô e da universidade pública.
A praça funciona como um espaço para observação astral, com mobiliário urbano desenhado para esse finalidade, ao lado de estruturas que ensinam sobre o cosmos. Local de convivência, também abriga shows e exibições de cinema. “Ao levar a pedagogia para fora dos espaços, fazemos da cidade uma sala de aula. Diziam que isso era um projeto para Dinamarca, não para um bairro vulnerável de Medellín. Dez anos depois, o local segue sendo um sucesso. Precisamos sempre planejar a cidade com a noção de possibilidade aberta.”
Além destes projetos, o escritório de Uribe também foi responsável pela criação de uma biblioteca municipal e uma escola, na periferia da cidade, a Institución Educativa La Independência, que foi criada como um parque acessível para toda a comunidade, aproveitando-se das ruas e espaços de passagem já estabelecidos.