publicado dia 4 de junho de 2012
Durante os últimos quatro anos, 30 comunidades situadas em diferentes regiões de alta vulnerabilidade da cidade de São Paulo, participaram do projeto Plataforma dos Centros Urbanos. Empenhados em mobilizar a população local, os envolvidos atuaram em parceria com o poder público para reduzir a desigualdade de acesso aos serviços e bens comuns, além de contribuírem para o sentimento de corresponsabilidade, protagonismo e pertencimento dos envolvidos.
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O projeto, desenvolvido com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), contribuiu para a melhoria de 18 de 20 metas relacionadas à proteção e garantia dos direitos de crianças e adolescentes. Durante o evento de comemoração pelo sucesso do projeto, Silvio Kaloustian, coordenador dos Escritórios do Unicef para São Paulo e Minas Gerais conversou com o Portal Aprendiz.
Portal Aprendiz – Qual o objetivo do projeto?
Silvio Kaloustian – A intenção é reverter o quadro de desigualdade da cidade. Porém, não se trata somente da promoção dos direitos, mas também do protagonismo das comunidades e a corresponsabilidade na ação pública. Durante 4 anos articulamos todos os parceiros da cidade em prol da infância. São várias as atividades que tiveram a implementação dos próprios atores locais. É claro que, para isso, ocorreu a negociação entre a comunidade, o setor privado e o terceiro setor, que já vinha realizando ações relevantes em territórios de alta vulnerabilidade.
Aprendiz – Como as metas são estipuladas?
Kaloustian – As metas são estabelecidas em conjunto, de forma consensual com o poder público municipal. São áreas em que os indicadores para a infância não são satisfatórios. Dizem respeito sobretudo à sobrevivência, educação de qualidade, a questão do HIV/ Aids e doenças sexualmente transmissíveis, da violência, do orçamento público e medidas socioeducativas. São metas altamente prioritárias para a reversão do quadro de desigualdade na cidade.
Aprendiz – Das 20 metas, duas não foram alcançadas. Quais são?
Kaloustian – Uma diz respeito à redução de homicídios na faixa etária até os 19 anos. Essa meta exige uma atuação muito bem articulada do poder municipal com as esferas estaduais e federais. Requer uma ação integrada com diferentes níveis de governo. A outra diz respeito ao monitoramento do orçamento voltado para a infância e a adolescência. A meta é que estivesse disponível para a população em geral, mas ela ainda não foi alcançada. Há, no entanto, plenas condições em curtíssimo prazo pra que seja.
Aprendiz – Qual o impacto de um projeto como o Plataformas Urbanas num ano eleitoral?
Kaloustian – O Unicef advoga que os programas eleitorais, suas metas e focos sejam voltadas para a redução das desigualdades. Nós vimos que os governos municipais de São Paulo e Rio de Janeiro conseguem alcançar as metas municipais. É um sinal de que os outros municípios, com pouco investimento, também conseguem.
Aprendiz – O projeto será replicado em outras localidades?
Kaloustian – A partir da experiência aprendida em São Paulo e no Rio de Janeiro existe a perspectiva de ampliar para outras capitais. É todo um padrão de urbanização que não está focado nas políticas públicas e que acaba levando à exclusão de parcelas significativas da população infanto-juvenil. Por isso o Unicef vai advogar de forma plena para que as políticas públicas dessas outras localidades estejam focadas nos segmentos populacionais mais vulneráveis. A conjuntura eleitoral é oportuna para a explanação de diferentes propostas eleitorais com o compromisso público dos próximos governantes.
Aprendiz – Que tipo de melhorias o Plataformas dos Centros Urbanos trouxe para as comunidades?
Kaloustian – Um dos casos, por exemplo, é o do Jardim Aracati. A ação comunitária junto à subprefeitura conseguiu acelerar o processo de construção de uma escola municipal. Foi um fato importante de resposta do poder público a uma demanda gerada no ambiente da Plataforma, com a mobilização de diferentes segmentos da comunidade. Outro foi o da aproximação com as Unidades Básicas de Saúde [UBS] em todas as 30 comunidades participantes.
Por meio de processos de capacitação e oficinas, gestores municipais e lideranças comunitárias puderam discutir direitos sexuais e reprodutivos. Utilizamos metodologias legitimadas por diferentes parceiros do poder público e do terceiro setor e que já estavam em curso, contribuindo para o desenvolvimento do capital social da cidade, fazendo com que se potencializassem e ganhassem escala.