publicado dia 9 de dezembro de 2013

No Jardim São Luis, bairro da zona sul de São Paulo, uma área de 47 mil m² de área verde, pertencente a Fundação Julita, faz fronteira com três escolas. Uma delas, a Escola Estadual Manuel Alves de Lima, ficará mais distante deste espaço, apartada pela construção de um muro, que dividirá o pátio do colégio.
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“A diretora Valdete Carvalho quer construir um muro com várias irregularidades. Estamos lutando contra”, protesta Kauê Jorgeto, 16 anos, estudante do Alves de Lima. Segundo ele, a nova parede, além de cobrir a parte verde da escola, vai “privar a comunidade dos alunos e os alunos da comunidade”.
Segundo relatos, a justificativa dada pela diretora para separar a escola do espaço é evitar a entrada de usuários de drogas e traficantes durante os fins de semana. “Ela declarou que construiu um muro porque nossa organização recebe em sua maioria ‘usuários de drogas’ e ‘delinquentes’ e que nós somos vulneráveis, o que não é verdade”, explica Jânio de Oliveira, gestor pedagógico da Fundação Julita, que atende 1300 crianças das três escolas da região.
O espaço da Julita, que fica aberto todos os dias da semana, é um dos poucos lugares da região utilizados para o lazer, já que a escola tem se mantido fechada aos finais de semana. “Sempre que tem um problema de droga ou de estudantes matando aula, tentamos primeiro o diálogo. Queremos derrubar os muros simbólicos e concretos e caminhar para uma gestão compartilhada dos espaços”, relata Oliveira. A Fundação também atua em parceria com o Centro de Atendimentos Psicossocial (CAPES).
Participação
Diante da afirmação de que o muro será erguido para banir o consumo de drogas nas dependências da escola, os estudantes começaram a buscar associações que trabalham com conscientização sobre o uso de entorpecentes. O coordenador pedagógico da Fundação apoia a proposta dos alunos e defende o aumento da participação nas decisões como forma de resolver o conflito.
“Fechar assim é oprimir, isolar. A escola já é toda fechada, vai ficar mais escura e hostil”, afirma Jânio, que também lembra que outros muros construídos anteriormente já caíram. “Muitos por conta própria”, conclui.
Para Kauê, a construção deixará a escola “parecendo uma prisão”. Ele também confirma que a maior parte dos frequentadores da Julita, no contraturno, são estudantes do Alves de Lima. A diretora afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que a futura obra foi aprovada em conselho, conta com o apoio da comunidade e visa garantir a segurança da escola. Além disso, segundo a assessoria, o projeto teria partido dos estudantes e não irá impedir o acesso à Fundação. Apenas o pátio ficará cercado por “muretas” que visam impedir a entrada de chuva e pombas.
Atualizada no dia 10/12, às 12h55.