publicado dia 23 de dezembro de 2013
Em setembro, uma peça vermelha, elegante e chamativa foi instalada em uma praça de Madri, capital da Espanha. Tratava-se de um binóculo incomum: em lugar de aproximar as imagens, suas lentes transmitiam – em tempo real – o que acontecia em um parque de Melbourne, na Austrália. Ao mesmo tempo, os olhos de quem mirava o binóculo eram reproduzidos em um telão da cidade australiana.

Este projeto, nomeado Binoculars to… Binoculars from… [Binóculos de… Binóculos para…] resume de maneira exemplar a rede Connecting Cities, que nasceu em 2012 na Europa e pretende interligar cidades de todo o planeta através da criação de conteúdos artísticos em fachadas, paredes, muros e placas de publicidade. Hoje, 16 municípios espalhados por cinco continentes compõem a rede, produzindo obras de arte interativas – sempre nos espaços públicos.
Abrir as portas da cidade
“O que mais me estimula no Connecting Cities é a possibilidade de conectar o espaço público com a arte”, afirma Marília Pasculli, curadora da galeria Verve Cultural, que representa a cidade de São Paulo na rede. “No projeto, os espaços de uso comum são a principal ferramenta de acesso às obras, criando um outro tipo de lógica de consumo cultural”, avalia Marília, que acredita que o sucesso da rede é “abrir as portas das cidades para experiências artísticas e educacionais com as novas tecnologias”.
Em São Paulo, a fachada do edifício do SESI/Fiesp, localizado na Avenida Paulista, foi escolhida para receber o Connecting Cities. No paredão longo e diagonal do prédio foi estabelecida uma galeria de arte digital, na qual foram expostas obras de artistas brasileiros e de outras cidades da rede no último mês de setembro.
“Cerca de um milhão de pessoas passaram pela avenida no horário das projeções”, conta Marília. “Além de mudar a rotina dos cidadãos que estão por ali, certamente aproxima essas pessoas da arte.”
Projetos
Dentre os projetos apresentados na capital paulista esteve o Painel Inteligente do Sentimento do Cidadão que, por meio do cartão de transporte público Bilhete Único, coletou as opiniões das pessoas sobre mobilidade, lazer, segurança, moradias e outras questões latentes da cidade. Já a obra O ritmo de São Paulo partiu do aspecto visual de um metrônomo em movimento para representar, em tempo real, o ritmo da atividade dos paulistanos nas redes sociais.
Produzida pela brasileira Anaísa Franco, a série Onirical Reflections [Reflexos Oníricos] usou a imagem do rosto dos participantes para produzir animações coloridas de acordo com a “topografia” da face dessa pessoa. A obra Dançando na chuva também utilizou o corpo humano para exibir silhuetas na fachada do prédio: nele, uma tempestade dinâmica de pixels como gotas de chuva revelou os contornos das pessoas que caminhavam pela avenida.
Através de sensores colocados em uma rampa cenográfica, o projeto Sonic Skate São Paulo criou peças sonoras a partir de ruídos das rodas deste objeto, que foram usadas como instrumento musical e geraram imagens coloridas e geométricas na fachada, sempre de acordo com os movimentos do skatista.
Intercâmbio cultural
A rede Connecting Cities já tem projetos programados até 2016 – o tema do próximo ano será Cidades Participatórias. Marília adianta que uma das obras, a ser realizada entre setembro e novembro de 2014, será um grafite virtual que conectará São Paulo e Montreal, no Canadá. “Haverá uma latinha mecânica e cheia de dispositivos e interfaces, que permitirá aos cidadãos canadenses fazer grafites em nossa fachada, e vice-versa”, revela a curadora.

Para ela, o intercâmbio cultural é um dos aspectos mais interessantes do projeto. “Cada instituição ou curador possui uma linha de desenvolvimento artístico específica. Isso valoriza todos os projetos. Além disso, é excelente podermos levar obras de artistas brasileiros às fachadas de outros países”, finaliza.