publicado dia 21 de novembro de 2013
No segundo dia da Conferência Nacional de Alternativas para Uma Nova Educação (Conane) a sensação foi de uma grande rede: fluxos, troca de saberes e compartilhamentos. Permeados por experiências educativas que desafiam o que cada um de nós entende por educação, os participantes têm provocado reflexões sobre que é a “nova educação” preconizada pelo evento. Se o ponto de chegada nem sempre é convergente, o ponto de partida é evidente: o rechaço aos modelos tradicionais de educação, à educação seriada, enclausurada e, enfim, quadrada.
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Alguns exemplos vêm de longe: a Escola Vila, de 1981, está no centro de Fortaleza como “uma resistência de árvores , plantas, bichos, entre condomínios privados”, segundo Morena Cristal, professora e ex-aluna da instituição. Empreendendo um ensino aberto, motivado pelo interesse dos estudantes, a Vila tem inspirado iniciativas públicas e privadas.
Da mesma época, a Associação Vivendo e Aprendendo surgiu em 1982, em Brasília, enfrentando com uma educação radicalmente democrática a penumbra do final da ditadura militar brasileira. “Mas os desafios de hoje não são menores: forças do mercado, egoísmo, padronização, todos são vistos como naturais. As crianças ainda são encaradas como objetos do processo educativo e não criadores”, pondera Paulo Nenevê, pai de estudantes e membro da diretoria da Vivendo e Aprendendo.
Primeiros passos
Outros apenas começaram: em Lajeado (RS), professoras relataram sua jornada na escola Guido Lermen. Desde a chegada na escola, de modelo tradicional, um grupo de professores tenta, inspirado em outras iniciativas, criar um ambiente prazeroso para todos, com docência compartilhada, com estudantes trabalhando com roteiros transdisciplinares de pesquisa e assembleias auto-organizadas, apesar das resistências de diretorias de ensino e pais de alunos.
Em Maranguape, no Ceará, onde um Ecomuseu se abre para a comunidade, se abre para a escola, que se abre para comunidade, que entra no museu. Pareceu confuso? Mas não é. “A cidade é patrimônio e pertence às pessoas e funda suas identidades. Com 50 jovens começamos as atividades de educação integral e abrimos as portas das instituições. Agora queremos abolir turmas, criar módulos de aprendizagem, sem provas”, projeta Jade Nokata, do Ecomuseu. Para ajudar na tarefa, eles contam com um museu itinerante que leva livros para casas afastadas do centro da cidade.
“Eu sou o mais velho dos estudantes”, pondera Alexandre Cavalcanti, 59, sobre o Vila Escola Projeto de Gente, em Cumuruxatiba, no sul da Bahia. O médico homeopata largou sua vida há sete anos no Rio de Janeiro para fundar um espaço de “educação democrática, libertária e comunitária” no município do sul da Bahia. O projeto, que tem a roda como elemento central, virou escola após Cavalcanti entrar em contato com a Escola Democrática Politeia, localizada em São Paulo.
“Ficamos impactados como nossas crianças não estavam acostumadas a ser ouvidas”, lembrou o educador, citando a frase de um aluno: “Hoje ninguém manda em ninguém. Todos combinam o que é melhor para todos. Isso dá muito trabalho”.
A multiplicidade dos exemplos vistos no Conane não deixa de ter uma unidade. Da experiência dos territórios educativos da Associação Cidade Escola Aprendiz, apresentada por Helena Singer, às iniciativas mais recentes na área da educação, o anseio por educar e ser educado em contato com o mundo e com sua comunidade emerge não mais enquanto opção, mas como necessidade.
Conferência
A I Conferência Nacional de Alternativas para uma Nova Educação (CONANE) acontece até quinta-feira (21/11), em Brasília, na sede da Legião da Boa Vontade (LBV). Para conhecer a programação acesse o site do evento ou acompanhe a cobertura através do Portal Aprendiz e do Centro de Referências em Educação Integral.