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publicado dia 7 de novembro de 2013

6 casos de pais e mães que mudaram a realidade de seus filhos

Criar, cuidar e educar seus filhos. Uma das funções mais essenciais da humanidade também é uma das mais desafiadoras. Ofício antigo, ser mãe ou ser pai não é algo que passou imune ao tempo. A cada instante o caráter único e ao mesmo tempo universal de criar um indivíduo apresenta muito mais perguntas que respostas.

Para ajudar a pensar no que significa hoje o papel da família na educação, o Portal Aprendiz selecionou algumas histórias que transformaram a vida dos filhos, dos pais e do mundo em que vivem.

O pai que ajudou o filho a se tornar um ciborgue

”Eu, na verdade, me tornei um ciborgue”, exclama contente Leon McCarthy, do estado de Massachussets, nos EUA. O menino de 12 recentemente ganhou uma prótese para sua mão esquerda, que não se desenvolveu por um problema de circulação. “Agora eu não sou mais diferente. Sou especial”, alegra-se.

No vídeo abaixo, numa reportagem da CBS americana, podemos observar o filho com sua nova prótese, que parece ser um adereço bastante divertido para uma criança de 12 anos enfrentando as dificuldades de ter essa deficiência física. Pelas cores, funcionalidade e inovação, ela lembra um dos brinquedos mais legais dos anos 90, a Mão Biônica.

A prótese foi criada por seu pai, Paul McCarthy, a partir de um modelo para impressoras 3D desenvolvido por Iven Owen, um inventor do estado de Washington. Owen, com a ajuda de um parceiro sul-africano, desenvolveu um projeto de prótese replicável com qualquer impressora 3D. O custo total da prótese não passa de 10 dólares (a impressora custa 2 mil dólares), contra quase 30 mil dólares de uma prótese convencional.

A mão, acionada por movimentos do punho, ajuda o jovem Leon a andar de bicicleta e segurar objetos. Pai e filho agora trabalham juntos no aprimoramento da invenção, que pode ser readaptada. Saiba mais aqui.

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O pai que desafiou padrões heteronormativos para dar confiança ao filho

Em 2012, uma foto circulou na internet e ganhou destaque por ser inusitada e comovente. Um pai, de saias vermelhas, de mão dada com seu filho de cinco anos usando um lindo vestido da mesma cor. A imagem, de aceitação e tolerância, passou uma mensagem importante sobre o que significa ser pai.

Neils e seu filho caminham pelas ruas da cidade.

Neils Pickert, o pai, contou a história em uma carta, que segue abaixo, traduzida:

“Meu filho de cinco anos gosta de usar vestidos. Em Kreuzberg [bairro da cosmopolita Berlim] isso serviria como um bom pretexto para conversa com outros pais: “É sábio ou rídiculo?”. “Nenhuma das duas”, eu quero gritar para eles mas eles não podem me ouvir. Isso porque agora eu vivo numa pequena cidade no sul da Alemanha, com menos de 100 mil habitantes. Uma cidade muito tradicional, religiosa. Aqui, a particularidade do meu filho não é apenas um assunto para pais. Virou uma questão para toda a cidade. E eu fiz minha parte para que isso acontecesse.
Sim, eu sou um desses pais, que tenta criar seus filhos baseado na igualdade. Eu não sou um pai acadêmico que discursa sobre igualdade de gênero em seus estudos e, assim que tem uma criança em casa, ainda cai nos confortáveis papeis de gênero: o pai está conseguindo sucesso na carreira e a mãe faz o resto.
Além disso, eu sou agora parte da minoria de pessoas que passam rídiculo de tempos em tempos. Por pura convicção.
Esse é meu caso pois eu não quis dissuadir meu filho de usar vestidos e saias. Ele já não fazia amigos ao fazer isso em Berlim e depois de muito refletir, eu só tinha uma opção: ampliar minhas perspectivas por meu pequeno filho e usar saias eu mesmo. Afinal, não se pode esperar que uma criança na pré-escola tenha a mesma capacidade de se afirmar que adultos, sem qualquer exemplo. Então eu me tornei o exemplo.
Nós já usavamos saias e vestidos em Berlim e eu particularmente acho que saias longas, elásticas, me caem bem. Vestidos são mais difíceis. Em Berlim, não havia muita reação, ou quando havia, era positiva. Eles estão acostuamados com todo tipo de gente. Na pequena cidade, no sul da Alemanha, isso é diferente.
Com o stress da mudança, eu esqueci de avisar a escola e os professores para que prestassem atenção no meu filho, para que não rissem dele por causa de seu gosto por saias e vestidos. Pouco depois de me mudar, ele não ousava ir à escola usando saias. Me olhando com seus grandes olhos, ele me perguntou: “Papai, quando você usará uma saia de novo?”.
Até hoje eu sou grato por uma mulher, que nos olhou na rua até dar de cara com um poste de luz, fazendo com que meu filho disparasse em gargalhadas. No dia seguinte, ele escolheu um vestido do fundo de seu armário. No início, só saia com ele aos fins de semana. Agora, ele vai na escola também.
E o que meu amiguinho está fazendo agora? Pintando as unhas. Ele acha que fica bonito nas minhas unhas também. E ele apenas ri quando outros meninos (e quase sempre meninos) tentam tirar sarro dele. E diz: “Vocês só não usam saias porque seus pais não ousam usar também”. Isso diz muito sobre a força que ele adquiriu. E tudo graças a um pai que usa saia.”

O avô que deserdou a mãe que deserdou o filho gay

A extensão completa da história é desconhecida. Mas uma carta ganhou a internet neste ano. Um avô recebeu uma mensagem da filha dizendo que havia “uma vergonha na família”. Provavelmente a carta veio acompanhada do neto, que foi prontamente acolhido pelo avô. O senhor deu uma resposta e uma lição para a mãe, que nos tempos de escola, renderia um alto e sonoro “iéééééééééé”. Confira abaixo a tradução da carta escrita à mão pelo avô, provando por A+B que posturas conservadoras não são etárias e nunca se é velho demais para ter uma cabeça aberta:

“Querida Christine,
Estou decepcionado com você enquanto filha. Você está certa que temos “uma vergonha na família”, mas está equivocada sobre qual é.
Expulsar o Chad da sua casa simplesmente porque ele te disse que é gay é a verdadeira “abominação” aqui. Um pai deserdar o próprio filho é o que vai “contra a natureza”.
A única coisa inteligente que você disse nessa história é que “você não criou o seu filho para que ele fosse gay”. Ele nasceu dessa forma e não escolheu isso, não mais do que escolheu ser canhoto. Você, no entanto, fez a escolha de ser nociva, cabeça fechada e retrógrada. Então, enquanto estamos nessa questão de deserdar filhos, eu usarei este instante pra lhe dizer adeus. Eu agora tenho um “fabuloso”, como os gays gostam de dizer, neto para criar e não tenho tempo para uma filha sem coração.
Caso você ache seu coração, nos dê uma ligada.”

Os pais que aceitaram a filha como ela é e se tornaram um marco em direitos civis nos EUA

Com 18 meses, Kathryn e Jeremy Mathis repararam que seu filho, Coy, se interessava por coisas de menina e se identificava como tal. Conforme Coy, hoje com 6 anos, foi se desenvolvendo, passava a responder como uma garota quando a professora dividia a classe por gênero. Buscava vestidos, saias, adereços e se identificava com o universo feminino.

Coy, no balanço, acompanhada de seu irmão.

Muitos pais tentariam moldar a conduta ao que se espera do sexo de um indivíduo. Comprariam a briga com a criança que está tentando ser quem é, transformando a sua normalidade em loucura. Ao invés disso, Kathryn e Jeremy, com o apoio da família, compraram briga não com quem sua filha é, mas com como o mundo a via.

Tudo começou quando os pais de outros alunos contestaram o direito de Coy usar o banheiro feminino da escola. Os demais colegas de Coy não se importavam, mas a direção do colégio tentou fazer com que a menina usasse o banheiro dos funcionários ou o masculino.

Coy, que desde os quatros anos se definiu com transgênero, deixou de sair de casa por se recusar a se vestir como menino e ser tratada como tal. Em junho deste ano, uma corte de direitos civis no estado americano de Denver, decidiu que não cabia a uma escola realizar este tipo de discriminação, tornando-se um ambiente hostil e inseguro para seus estudantes.

“Dizer a uma criança que ela precisa esquecer sua identidade enquanto realiza uma de suas funções humanas mais essenciais é um tratamento severo e invasivo e cria um ambiente que é objetivamente e subjetivamente hostil”, disse Steven Chavez, juíz responsável pela decisão. “Compartimentalizar uma criança como menino ou menina baseado somente na anatomia é uma aproximação simplista para uma questão complexa”, finalizou.

Já Coy, que estava sendo educada em casa, teve uma visão mais cândida ao saber da decisão judicial: “Então quer dizer que eu posso voltar à escola e fazer amigos?”, arrematou, sorridente.

Família Mathis comemora a decisão que garante que Coy pode voltar às aulas.

Saiba mais sobre o caso de Coy

As mães da memória, da justiça e da verdade

Quando um filho nasce é comum ouvir, de outros ou de si mesmo, que a maternidade e a paternidade são “para sempre”. Mais “para sempre” até do que a vida dos próprios filhos. Na ausência deles, provocada por estados e seus agentes, sem acesso ao luto, ao corpo e à verdade, muitas mães lidam com o fato de que ser mãe é também cuidar da luta pela memória, pela verdade e pela justiça.

Na Argentina, um grupo de mães se reunia na Plaza de Mayo, na região central de Buenos Aires, para reclamar o direito de ter seus filhos de volta. Entre milhares de desaparecidos, torturados e mortos pela ditadura argentina, “Las Madres” eram impedidas de permanecerem paradas, em aglomeração. Então elas ficavam vagando, em círculo, na busca daquilo que tiveram que aprender a chamar de falta.

A luta das Madres de la Plaza de Mayo, com seus lenços celestes na cabeça, se tornou um marco na luta por direitos civis no mundo, influenciando fortemente na criação da Comissão da Verdade argentina. Além delas, as Abuelas (Avós) de la Plaza de Mayo, seguem até hoje buscando os netos sequestrados na ditadura. Dos 400 desaparecidos, mais de 60 foram encontrados. Um inclusive neste ano. Colorindo muros, gritando ou pesquisando, as avós desafiam o tempo em busca da verdade.

Mães de Maio combatem a violência estatal.

O Brasil também tem suas mães de maio. Em maio de 2006, os ataques do Primeiro Comando da Capital à delegacias e batalhões da Polícia Militar motivaram um revide que nunca foi esclarecido. Escondido por declarações do governador (“Quem não reagiu está vivo”), acobertados por Autos de Resistência (forma de registro de ocorrência utilizada por policiais quando há resistência do indíviduo à abordagem), os Crimes de Maio continuam a ressoar nas famílias de mais de 400 vítimas daquele mês.

Algumas mães, revoltadas com a situação, montaram um grupo chamado Mães de Maio, e se tornaram uma importante organização popular, mobilizadas pelos direitos humanos e por justiça para seus filhos assassinados de maneira brusca, para tentar garantir um país onde casos como o de Amarildo, Douglas e Ricardo sejam impossíveis.

No Chile, a ditadura militar também deixou marcas profundas. Retratadas no filme “Nostalgia da Luz”, de Patrício Guzmán, um grupo de 10 mães e esposas – já foram 40 – seguem caminhando pelo imenso deserto do Atacama munidas de pás e de uma obstinação dolorida e necessária. O deserto, um dos locais mais secos do mundo, além de abrigar fósseis, telescópios e artefatos pré-históricos, foi lar de campos de concentração durante os anos de chumbo chilenos. Aviões lançavam corpos de militantes para o esquecimento.

Até hoje essas mães caminham pelas amplas pradarias brancas, recolhendo cada pedrinha, no esforço de descobrir a verdade sobre o fim de seus filhos e para finalmente alcançar o direito ao luto e à paz.

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O pai que transformou o universo do filho autista em imagens

Eli muitas vezes ajuda a planejar as fotos com o pai.

Elijah, filho do fotografo Timothy Archibald, foi diagnosticado como autista. Sem saber como lidar com o fato novo, Timothy resolveu construir pontes para o universo de seu filho, usando sua profissão como matéria prima.

“Quando nós colaboramos, as vezes ele lidera, as vezes sou eu, mas o Eli costuma fazer coisas inesperadas… algo que eu nunca seria capaz de pensar. Olhamos para as imagens na camera digital e tentamos melhorar, levar para outras direções. Eu gosto da ideia de delegar o controle criativo para uma criança, quando eu apenas controlo a câmera”, contou Archibald.

As experiências, espontâneas ou montadas, deram origem a um ensaio que se tornou o livro “Echolillia: Sometimes I Wonder”, um sensível retrato do universo do menino e de seu pai. Confira o site do fotógrafo para ter acesso ao livro e ao trabalho.

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