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publicado dia 26 de março de 2012

Custos sócio-ambientais não são levados em conta na construção de uma hidrelétrica, denuncia especialista

Rafael Salazar, Célio Bermann, Reginaldo Forti e André D'Elia discutem a questão energética.

“Quando se fala em hidrelétricas, somente são discutidas as questões econômicas, os custos sócio-ambientais não são levados em conta”, afirma Reginaldo Forti, membro do Instituto Ecoar de Cidadania.

Segundo ele, as usinas de Tucuruí e de Balbina são consideradas hoje desastres ambientais por terem alagado grandes áreas e gerarem uma energia quase insignificante.

Forti participou de um debate sobre “energia” na última quarta-feira (20/3), em São Paulo, ao lado do professor da Universidade de São Paulo (USP), Célio Bermann, do produtor do documentário “À margem do Xingu”, Rafael Salazar, e do diretor do documentário “Belo Monte: Anúncio de uma Guerra”, André D’Elia. O evento integrou a programação da 1ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental, em que foram exibidos mais de mais de 40 filmes sobre as principais temáticas ambientais.

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Na ocasião , três documentários com a temática energética abriram a discussão: “Into Eternity” [ Para a Eternidade], que mostra um depósito de resíduos nucleares na Finlândia; “Up the Yangtze” [ Subindo o Rio Amarelo], que discute a construção da hidrelétrica de Três Gargantas na China, que desalojou cerca de 2 milhões de pessoas; e “À Margem do Xingu – Vozes Não Consideradas”, que mostra o drama de ribeirinhos e indígenas que serão atingidos com a usina de Belo Monte, em Altamira, no Pará.

Belo Monte e suas implicações

"À Margem do Xingu - Vozes Não Consideradas" foi eleito pelo júri pupular o melhor documentário do Festival de Paulínia 2011

O professor associado do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, Célio Bermann, critica a falta de planejamento energético no país. “O governo brasileiro desconsiderou desde o projeto de Belo Monte a avaliação que foi feita por 40 pesquisadores sobre os impactos negativos da obra”. Para ele, não se justifica o investimento de cerca de 32 bilhões de reais em uma usina que  não vai gerar nem metade da sua capacidade.

A população indígena, que vive na região do Xingu e será atingida pelo empreendimento, tampouco foi consultada pela Fundação Nacional do Índio (Funai), como é exigido por lei, segundo Bermann. Mesmo com 11 ações judiciais contra Belo Monte ainda sem julgamento, Altamira (PA) – município que abrigará a usina – já vem sentindo os primeiros passos da construção.

De acordo com o Movimento Xingu Vivo para sempre, um barramento provisório (ensecadeira) instalado na Volta Grande do Rio Xingu causou uma cheia repentina na região periférica da cidade e desalojou cerca de 400 moradores. A população foi transferida para acampamentos precários, onde há queda de energia e falta segurança, água e transporte para as crianças irem às escolas, como pode ser visto nos relatos do vídeo abaixo, filmado em fevereiro deste ano.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=r1ri4_zcN1Q[/youtube]

“Belo Monte vem sendo planejada desde a metade da década de 70 e nesses mais de 30 anos de pesquisa nem ao menos um ano foi dedicado para preparar a população para receber a obra”, é o que destaca o produtor do documentário “À Margem do Xingu – Vozes não Consideradas” , Rafael Salazar.  Ele ressalta que o governo tem demonstrado que está apenas em função das grandes empresas, facilitando seus lucros.

Modelo de desenvolvimento

É consenso entre os especialistas que é necessário discutir o modelo de desenvolvimento atual do Brasil. Salazar ressalta que se repotencializássemos as linhas de transmissão das usinas já existentes não seriam necessárias outras obras faraônicas para satisfazer o consumo da população.

Outra questão levantada é até que ponto as hidrelétricas são realmente sustentáveis. Célio Bermann defende que elas são fontes de energia renovável (proveniente de recurso natural), mas não podem ser considerdas “amigáveis ambientalmente”, por todo o impacto sócio-ambiental gerado.

Bermann cita também o caso emblemático da usina nuclear de Angra 3, que deve ser instalada em uma área sujeita a deslizamento de terras. Se não bastasse, a cidade de Angra dos Reis, lozalizada a um raio de 20 km do local da obra, ficaria vulnerável a qualquer acidente nuclear, como o da Usina de Fukushima, no Japão, que registrou radioatividade em um raio de até 50 km.

“Estamos vivendo um processo de ‘ditadura energética’ em que toda população é enganada pelo espectro do apagão e não se leva em conta a vida dos moradores da região que serão atingidos”, critica. Para o professor, há formas alternativas de energia que poderiam satisfazer o consumo atual, mas que não são discutidas pelas instituições de poder.

André D’Elia, diretor do documentário “Belo Monte: Anúncio de uma Guerra” – que tem estreia prevista para maio – lembra que “Belo Monte é apenas a ponta do iceberg”. São cerca de 120 projetos de usinas hidreléticas que devem ser levantadas na bacia amazônica, sendo que 26 delas devem ser instaladas até 2020.

“Esse é o momento de discutir toda a violência que vem sendo implementada pelo governo contra indígenas, ribeirinhos, meio ambiente  e a população em geral que é contra essa construção mas sequer é ouvida. E é a nossa geração que vai ter que subverter isso, se não vai ser tarde demais”, finaliza.

Veja trailer do filme “À Margem do Xingu – Vozes Não Consideradas”

[vimeo]http://vimeo.com/24443990[/vimeo]

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